Médico, seu seguidor de MT, Guido Céspedes, de 46 anos, que distribuía “kit cloroquina”, morreu de Covid-19 na semana passada depois de passar 45 dias na UTI. No Brasil já são quase 130 mil mortos
Jair Bolsonaro disse na terça-feira (8) que ficou com “pecha de genocida” por ter defendido a prescrição da hidroxicloroquina para o tratamento contra o novo coronavírus.
“Eu estou com a pecha de genocida por falar da cloroquina e por alguns acharem que eu devia fazer algo mais”, reclamou.
Isso tudo é verdade. Ele devia ter feito mais e não fez. Sabotou o quanto pode o combate ao coronavírus e demorou para liberar a ajuda emergencial determinada pelo Congresso Nacional. Não bastasse isso, deixou as pequenas e médias empresas a mercê dos bancos que não emprestaram quase nada na crise. Milhões de empresas fecharam as portas no país.
Com certeza, não foi só por insistir em preconizar um remédio que o mundo inteiro sabia que não era eficaz contra a Covid-19, que Bolsonaro pegou a “pecha de genocida”.
Ele desdenhou a pandemia desde o início. Jurou que era apenas mais uma “gripezinha” de nada. Que quem tomava cuidado usando máscara “era covarde e medroso”. Quando milhares de brasileiros já haviam morrido da doença, ele disse “E daí? O que vocês querem que eu faça?”
Promoveu aglomerações, demitiu dois ministros da Saúde que não aceitaram o seu negacionismo e, agora, sabota mais uma vez a ciência, aderindo ao obscuro e retrógrado movimento anti-vacina. Diz que ninguém é obrigado a se vacinar.
Bolsonaro repete que foi impedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de fazer mais. O que ele queria fazer na verdade, e em boa hora foi impedido pelo STF, foi liberar as aglomerações, abrir aeroportos, não usar máscaras, estimular o uso de cloroquina, perseguir governadores que estavam seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde, etc, etc.
Ainda bem que o STF deu plenos poderes aos governadores e prefeitos para implementarem as medidas de proteção da população. Ainda bem que o STF não deixou Bolsoanro impor o que ele queria. Se isto tivesse ocorrido, o desastre seria ainda maior do que os atuais quase 130 mil mortos.
Bolsonaro, ao invés de estimular a população a se proteger, a se vacinar, insiste com a conversa de que ninguém pode ser obrigado a tomar a vacina. Fez isso no mesmo dia em que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que o país dará início em janeiro à vacinação da população contra o novo coronavírus.
Essa informação de Pazuello, aliás, foi dada antes da notícia de interrupção dos testes com a vacina da farmacêutica inglesa AstraZeneca – pela qual Bolsonaro já desembolsou cerca de R$ 2 bilhões -, por conta de evento adverso grave num dos participantes da pesquisa.
Outro fato revelado de sua estupidez é ele insistir com a cloroquina, dizendo que “estudos recentes apontam que, caso tivesse sido utilizada desde o início da pandemia, a cloroquina poderia ter reduzido em até 30% o número de óbitos no país”, no mesmo dia em que é anunciada a morte pela Covid-19 de um de seus seguidores, o médico do Norte de Mato Grosso, Guido Céspedes, de 46 anos, um entusiasta da cloroquina.
Estimulado por Bolsonaro, Céspedes distribuía um “kit cloroquina” para seus pacientes e dizia que era um remédio milagroso. Ele passou 45 dias internado na cidade de Sinop, antes de morrer na quarta-feira (02), vítima do novo coronavírus. O kit preconizado por ele e por Bolsonaro, como já era esperado pela ciência, infelizmente não funcionou.
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