“A declaração do Presidente da República é uma confissão. Como havíamos dito na CPI, nós nunca tivemos dúvida do crime de prevaricação”, afirmou o senador
Em uma tumultuada entrevista, na segunda-feira (12), após reunião no Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro afirmou, ao ser questionado por repórteres, que recebeu os papéis das mãos dos irmãos Miranda no dia 20 de março, conforme eles informaram à CPI. O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), considera isso uma confissão de crime.
“A declaração do Presidente da República é uma confissão. Como havíamos dito na CPI, nós nunca tivemos dúvida do crime de prevaricação”, afirmou Randolfe, em entrevista a Chico Alves, do UOL. “O que a CPI investiga agora é o envolvimento ou não do presidente nos crimes de tráfico de influência, corrupção ativa e corrupção passiva”, acrescentou o parlamentar.
“Então os papéis que deixou lá, eu passei para frente isso daí”, disse Bolsonaro. “Quatro meses depois ele veio com essa denúncia. Se tivesse comprado a vacina, daí tudo bem, procede. Comprou vacina, pagou superfaturada etc. alguém prevaricou, não é? Está presente, em curso, crime de responsabilidade mais grave ainda. Tudo bem. Por que ele trouxe o negócio para frente se nada foi comprado? Nada foi para a frente no tocante à Covaxin. Nada compramos naquele momento”, complementou o presidente, sem dizer que o negócio só não andou porque o servidor Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado, apresentou a denúncia ao Ministério Público e o escândalo tornou-se público.
Demonstrando desconhecimento das leis, Bolsonaro disse que a prevaricação não se aplicaria a ele. “O que eu entendo que é prevaricação se aplica a servidor público e não se aplicaria a mim. Mas qualquer denúncia de corrupção, eu tomo providência. Até o do Luis Lima (Miranda), mesmo conhecendo toda a vida pregressa dele, a vida atual dele, eu conversei com Pazuello”, disse Bolsonaro, jogando por terra a versão anterior, sustentada por sua tropa de choque da CPI, de que o documento não existia na data do encontro.
Ao prosseguir com sua nova versão, Bolsonaro acabou confirmando que recebeu o documento que o deputado disse ter entregue a ele. ‘Pazuello, tem uma denúncia aqui do deputado Luis Lima que estaria algo errado acontecendo. Dá pra dar uma olhada?’ “Ele viu e não tem nada de errado: ‘Já estamos tomando a providência. Vamos corrigir o que está sendo feito’. Agora, você pode ver. Foi corrigido. Ele falou comigo na véspera do meu aniversário, 20 de março, se não me engano, foi lá. Deixou alguns papéis lá. Não entrei com profundidade se era invoice, se não era”, disse.
O vice-presidente da CPI, no entanto, considera que essa afirmação, de que Bolsonaro teria acionado o ministro Pazuello, que seria afastado dois dias depois, não tem nenhuma confirmação. Segundo ele, não há qualquer registro documental de que a investigação da denúncia feita pelos irmãos Miranda tenha sido realizada de fato. A Polícia Federal informou que não houve abertura de nenhum inquérito para investigar as suspeitas.
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