“É muito triste ver a desumanidade daqueles que, para tentar fazer prevalecer os seus propósitos políticos, não respeitam nem a morte de um gigante da cultura brasileira e a dor da sua família”, disse o governador de São Paulo
Jair Bolsonaro voltou a mentir sobre a vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, e jura que indicar remédios sem nenhum efeito no tratamento contra Covid-19, como cloroquina e ivermectina, não tem nada a ver com charlatanismo.
“Olha o que está acontecendo com a CoronaVac, ninguém tem coragem de falar. Gente que tomou as duas doses, foi infectada e está morrendo”, disse Bolsonaro, na terça-feira (17).
“Por que ela está morrendo? Porque acreditou nas palavras do governador de São Paulo que disse que quem tomasse as duas doses da CoronaVac e for infectado jamais morrerá e a pessoa fica em casa, achando que tomou as duas doses e não vai morrer e acaba morrendo”, continuou.
Ele está tentando desqualificar a vacina através da morte do ator Tarcísio Meira, de 85 anos, que tinha, segundo seus amigos e familiares, graves comorbidades.
Em nota, o governador João Doria (PSDB) respondeu: “É importante destacar que todas as vacinas funcionam, mas nenhuma delas é infalível. No caso do Brasil, somente 3% das pessoas que morreram por COVID-19 neste ano tomaram as duas doses de vacina, segundo pesquisa recente (Infotracker – USP/Unesp)”.
“É muito triste ver a desumanidade daqueles que, para tentar fazer prevalecer os seus propósitos políticos, não respeitam nem a morte de um gigante da cultura brasileira e a dor da sua família”, completou Doria.
Bolsonaro está mentindo. Ele próprio comentou, com tom pejorativo, os números de eficácia da CoronaVac quando eles foram divulgados. Ele nunca quis a CoronaVac e nenhuma vacina.
E só foi atrás de vacinas após ficar mal diante da opinião pública e depois que o governo paulista, através do Instituto Butantan, envidou esforços para trazer a vacina e concretizou a parceria com o laboratório chinês Sinovac, produtor da vacina CoronaVac.
Não fosse pela CoronaVac, a vacinação no país estaria mais atrasada ainda do que está.
A declaração de Bolsonaro não tem prova e nem base científica e só confirma seu charlatanismo. As vacinas não têm 100% de eficácia. Elas protegem contra quadros graves, hospitalizações e mortes, mas a proteção pode ser consideravelmente menor para a transmissão ou infecção assintomática.
A queda do número de casos e de mortes no país só confirma a necessidade da vacina, em particular da CoronaVac, que Bolsonaro calunia.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), lembrou meses atrás que a mãe de Jair Bolsonaro, Olinda Bonturi Bolsonaro, também tomou CoronaVac.
“Acho que ele esqueceu que a mãe dele tomou a CoronaVac. A vacina que salvou a mãe dele é a CoronaVac”, disse. Bolsonaro “despreza os brasileiros. É, lamentavelmente, um presidente desqualificado. É lamentável, bizarro e triste”.
“O presidente nem sequer reconhece que a mãe tomou duas doses da vacina que ele tanto implica, acusa e desqualifica. É inacreditável”, disse.
Enquanto ignorava os emails de oferta de vacina da Pfizer e do Instituto Butantan, Jair Bolsonaro pessoalmente fazia propaganda da cloroquina e ivermectina, sob o rótulo de “tratamento precoce”. Todos os estudos feitos no mundo mostram que esses medicamentos não têm nenhum efeito no tratamento contra Covid-19.
Jair Bolsonaro disse publicamente que tomava cloroquina todo dia, fez publicações em suas redes sociais incentivando o uso do medicamento e tirou foto tentando dar cloroquina para as emas do Palácio do Planalto, que correram.
A CPI da Pandemia já anunciou que irá acusar formalmente Jair Bolsonaro por charlatanismo e curandeirismo. Isto é, por ter mentido sobre um tratamento que sabia que não teria nenhum efeito positivo.
Jair Bolsonaro nega que seja charlatão ou curandeiro: “não inventei nada, eu dei uma alternativa”.
“Quando eu falo em tratamento precoce, a grande maioria tomou ivermectina e hidroxicloroquina. Tem outro produto, lógico que não tem comprovação científica, a proxalutamida. Busquei uma maneira de atender o povo, junto com médicos. Então, não é que eu sou um charlatão, curandeiro, nem inventei nada. Eu dei uma alternativa”, disse.
O Ministério da Saúde chegou a desenvolver um aplicativo, o TrateCov, que orientava os médicos a prescreverem cloroquina para todos os pacientes com suspeita de Covid-19. A cidade de Manaus foi feita de cobaia por Jair Bolsonaro, Eduardo Pazuello, ex-ministro, e pelos secretários do Ministério.
Enquanto apostava no “tratamento precoce”, o governo ignorou cinco ofertas formais da Pfizer por 70 milhões de doses de vacina, com entrega a partir de dezembro de 2020. O Ministério da Saúde, sob ordem direta de Jair Bolsonaro, também recusou uma oferta do Instituto Butantan, também com entrega a partir de dezembro do ano passado.
Segundo Jair Bolsonaro, seu governo “tomou todas as providências” em relação às vacinas.
“Não existia vacina para comprar ano passado, bem como no início do ano não tinha vacina disponível para todo mundo. Tirando os quatro países que produzem vacina, o Brasil está a mais à frente. Eu sempre fui contra comprar vacina sem a certificação da Anvisa”.
Até hoje, o país não passou de 25% de sua população com a vacinação completa.
Vale dizer que Bolsonaro exigia autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para todas as vacinas em que seu governo não conseguiu negociar propina.
No caso da indiana Covaxin, vendida no Brasil pela Precisa Medicamentos, que já deu um golpe, junto com o atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), de R$ 20 milhões no Ministério da Saúde, o governo tratou com celeridade e eficiência.
A compra da Covaxin foi cancelada depois das denúncias de corrupção feitas por um servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, na CPI da Pandemia.