Cinismo dos dois é uma tentativa de constranger o comando da corporação
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello seguiu a mesma toada de seu depoimento mentiroso diante da CPI da Pandemia e afirmou, cinicamente, nesta quinta-feira (27), em suas alegações apresentadas ao Comando do Exército, que o comício que Bolsonaro realizou no Rio de Janeiro, no último fim de semana, no qual participou e discursou, não foi um ato político.
Pazuello, para sustentar sua versão, disse ter agido de acordo com a “honra pessoal”, citando o artigo 6 do Regimento Disciplinar do Exército, como se a sua presença em um palanque político em que foi chamado de “meu gordinho” por Bolsonaro tivesse alguma coisa a ver com a sua honra pessoal. Assim, como em sua fala “senhores é simples assim, ele manda e eu obedeço”, a participação no ato eleitoral de Bolsonaro, rasgando o estatuto e pisoteando a disciplina militar, está mais para a falta de honra pessoal e de caráter do que qualquer outra coisa.
Na CPI, Pazuello também agiu cinicamente e mentiu no mesmo diapasão, sem a menor cerimônia. Chegou a dizer, por exemplo, que Bolsonaro em nenhum momento o desautorizou enquanto foi ministro da Saúde e nunca defendeu o uso de cloroquina. Agora, acha que alguém vai acreditar que Bolsonaro não estava fazendo campanha política ao abandonar as responsabilidades de governo diante da maior crise sanitária dos últimos cem anos e convocar um animado passeio de moto pelas ruas do Rio, terminando com um comício recheado de discursos.
O passeio de moto e o comício realizado em um trio elétrico, provocando aglomeração, apenas ajudou a espalhar o vírus na Zona Oeste do Rio de Janeiro, servindo para Bolsonaro atacar adversários políticos, ofender governadores, insinuar que a urna eletrônica será fraudada nas eleições de 2022, mentir sobre o seu desempenho à frente da pandemia e pregar o desrespeito à democracia. Ou seja, como disse o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), “não só é campanha política, como é antecipada e ilegal o que ele fez”.
O Estatuto dos Militares diz claramente: “São proibidas quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou político.” Portanto, não há dúvida que Pazuello, general da ativa, ao participar do ato, rasgou o estatuto do militares.
O Exército abriu um procedimento disciplinar para apurar a conduta do general um dia depois da aglomeração, sendo de dois dias o prazo para apresentação de defesa. Agora, caberá ao comando do Exército decidir o que fazer. Pazuello pode receber advertência; repreensão oral; ou prisão. O prazo é de 30 dias. Generais defendem que Pazuello seja rigorosamente punido pela sua indisciplina. O estatuto das Forças Armadas, em seu artigo 45, proíbe explicitamente que militares da ativa participem de atos políticos.
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que Pauzello “sabe que errou e deve ser punido”. Outros oficiais como o general Santos Cruz, o tenente-brigadeiro Sérgio Ferolla e o general Sérgio Etchegoyen também defenderam que o Pazuello seja punido. “A atitude é “inaceitável e não reflete as Forças Armadas enquanto instituição”, disse Etchegoyen, que comandou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Temer.
Santos Cruz, que também foi ministro de Bolsonaro, afirmou com letras garrafais em suas redes sociais que a atitude foi um “péssimo exemplo para o país”. Ele lembrou que “de soldado a general tem que ser as mesmas normas e valores”. “O presidente e um militar da ativa mergulharem o Exército na política é irresponsável e perigoso. Desrespeitam a instituição. Um mau exemplo, que não pode ser seguido”, assinalou o general.
O general Pazuello participou do comício imitando seu chefe ao retirar a máscara. O tenente-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, ex-presidente do Superior Tribunal Militar (STM), considerou o ato como “vergonhoso”. “Se aceitar isso, acaba a disciplina nas Forças Armadas’, disse o ex-presidente do STM sobre Pazuello.
Numa manifestação de cinismo e desrespeito ao Exército, Bolsonaro, que nunca foi afeito à disciplina militar, mentiu ao dizer que o encontro em que só se falou de política “não foi um ato político”. “Foi um encontro que não teve nenhum viés politico, até porque eu não estou filiado a partido político nenhum ainda. Foi um movimento pela liberdade, pela democracia, e apoio ao presidente”, disse Bolsonaro ao revelar desprezo pela disciplina e afrontar a inteligência dos brasileiros e dos militares.
Mais cedo, nesta quinta (27), Bolsonaro se reuniu com o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e com o comandante do Exército, general Paulo Sérgio de Oliveira, para pressionar pelo não cumprimento do estatuto militar. O objetivo de Bolsonaro parece ser o de tentar desmoralizar o comando do Exército, pois todos sabem – e ele também, que o comandante estará cometendo uma grave infração se não aplicar uma punição rigorosa a Pazuello, enfraquecendo-se, consequentemente, perante a tropa.
S.C.
Os dois cara de pau e seus apoiadores em plena pandemia proporcionam essa grande palhaçada e por essa razão o Puzuello têm que ser punido ou esse estatuto militar para nada serve.