“Bolsonaro não deu golpe porque não viu maneira de fazer”, admite Valdemar Costa Neto

Valdemar Costa Neto (reprodução)

Ele tentou proteger o chefe e acabou comprometendo ainda mais o Planalto na tentativa criminosa de decretar o “Estado de Defesa” no TSE para fraudar o resultado da eleição

O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, afirmou, em entrevista ao jornal O Globo desta sexta-feira (27), que Bolsonaro não deu o golpe “porque não viu maneira de fazer”. A intenção dele era tentar defender Bolsonaro, mas a declaração acabou comprometendo ainda mais o Planalto ao revelar a articulação golpista. Tentou, mas não viu maneira de concretizar.

A descoberta, feita pela Polícia Federal, de um decreto de Estado de Defesa exclusivo para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), assinado por Jair Bolsonaro, com o intuito de alterar pela força o resultado eleitoral, é uma prova de que o plano golpista estava em andamento.

Ao dizer, como fez Valdemar, que também tinha recebido um documento desses – igual ao que estava na casa de Anderson Torres – é uma a confissão de crime. Afinal, por que ele não denunciou? Essa atitude faz do dirigente do PL um cúmplice do golpe.

Aliás, o seu partido, o PL, já tinha sido envolvido na trama bolsonarista e teve que pagar uma multa milionária por ter tentado viabilizar o golpe contra as eleições entrando com um questionamento esdrúxulo do resultado do pleito junto à Justiça Eleitoral. A punição foi imposta pelo TSE ao PL porque ele não apresentou nenhuma prova de fraude. Era só um pretexto para viabilizar a ruptura institucional. A decisão firme de Alexandre de Moraes abortou a trama.

O próprio Jair Bolsonaro, na primeira vez que apareceu em público depois da derrota, disse para seus seguidores, em frente ao Alvorada, que tivessem paciência porque na hora certa as coisas aconteceriam. O documento encontrado tinha o seu nome como responsável para assinar e foi achado na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que está preso por envolvimento nos atos terroristas do dia 8 de janeiro.

O plano era decretar o Estado de Defesa no TSE antes da diplomação. Não deu certo. Isso levou ao desespero alguns bolsonaristas mais alucinados. Foi neste dia, 12 de dezembro, que aconteceu o primeiro quebra-quebra com carros incendiados e muita depredação em Brasília. Houve até uma tentativa de invasão da PF e do Hotel onde o presidente Lula estava hospedado.

Valdemar Costa Neto tentou minimizar a importância da minuta de decreto encontrado pela PF dizendo que “aquela proposta de decreto golpista que tinha na casa do ministro da Justiça, isso tinha na casa de todo mundo”. O documento, elaborado em detalhes, estava na mão do ministro da Justiça. Era claramente um golpe de Estado contra as eleições.

O fato é que Bolsonaro não viu a “maneira de fazer” porque não conseguiu arrastar as Forças Armadas para sua aventura golpista. Sem envolvê-las não haveria como impor ao país o decreto golpista.

Os ataques raivosos, feitos pelo filho “zero dois” de Bolsonaro, contra as Forças Armadas esta semana são a confirmação de que Bolsonaro não conseguiu jogar as Forças Armadas na lama golpista. “Tenho vergonha do que se transformou a essência do alto escalão das Forças Armas [sic] do Brasil de primeiro de janeiro de 2023 em diante! Alegam não se meter em política, mas jogam o jogo político deslavado e mais sujo que ninguém jamais viu seus estrelados fazerem!”, disse Carlos Bolsonaro, se referindo aos generais.

Os golpistas não conseguiram a sustentação militar para este caminho do decreto instituindo o Estado de Defesa. Por isso, Bolsonaro “não viu maneira de fazer”. A última tentativa de Bolsonaro para forçar uma ruptura institucional foi instigar os golpistas no interior das Forças Armadas para que eles fizessem uma intervenção militar após o caos criado pelos fascistas no dia 8 de janeiro. Também não deu certo.

Por isso, não adianta Valdemar tentar defender o chefe porque vai ser pior para os dois. O capo do PL disse, ainda, que torce pela volta de Bolsonaro para que ele possa conduzir a extrema direita no país. “Quero que ele volte, porque ele é muito importante para nós. Por exemplo, para conduzir essa bancada de direita que nós temos aqui. O pessoal é muito extrema-direita. Com Bolsonaro aqui, eu estou no céu. Eles ouvem Bolsonaro. Não vão ouvir a mim”, afirmou.

Ele defendeu a volta do ex-mandatário, mas manifestou não ter certeza de que isso aconteça, ou que Bolsonaro possa se safar da Justiça. Por isso, já fala na candidatura de Michelle Bolsonaro, que voltou sozinha para o Brasil. “Ele tem que vir para “cuidar desse pessoal e viajar, ser convidado para todos os eventos, e começar a pôr a vida em dia. E a Michelle cuidar da parte das mulheres (no partido). Ela tem condições. Ela pode ser candidata até a presidente da República. Ninguém sabe o dia de amanhã”, afirmou o presidente do PL.