Quer torrar dinheiro público com um produto que sequer foi testado ainda
O governo federal enviou, no sábado (6), para Israel uma comitiva liderada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, com o objetivo de uma possível compra do suposto spray nasal contra a Covid-19.
Na falta de afazeres mais sérios para resolver na diplomacia brasileira, Ernesto Araújo foi encabeçando a comissão.
Após a aposta no fiasco da cloroquina, que o governo gasta montanhas do dinheiro público, Bolsonaro agora quer torrar os recursos públicos com um produto que sequer foi todo testado ainda, considerado por ele como “milagroso”. Enquanto faltam vacinas, oxigênio e leitos de UTI para atender a população.
Segundo Bolsonaro, a Anvisa (agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem tudo para autorizar o tal do spray nasal.
“Já conversamos com a Anvisa. Uma vez entrada a documentação de praxe, para o tratamento experimental, eu acredito que a Anvisa tem tudo para dar o sinal verde e começarmos também testando no Brasil”, disse ele.
Já o empenho dele pela aprovação e para adquirir vacinas, comprovadamente o único meio de parar a pandemia, não existe. O que foi feito para o país ter vacinas no momento foi devido ao esforço e pressão da sociedade brasileira, dos governadores, dos prefeitos.
De acordo com as poucas informações, a missão tem entre oito a dez pessoas. Ela não poderá circular por Israel e ficará restrita ao hotel, ao contrário do que alardeou Bolsonaro para apoiadores.
Sintomático que o que atraiu o terraplanismo de Bolsonaro não foi a vacina em Israel, que é líder no mundo atualmente na vacinação da sua população. É a nova cloroquina, a poção mágica que cura tudo, e o tal spray nasal ainda sem comprovação que o atraiu.
Na última quarta-feira (3), Bolsonaro confirmou a viagem. “Nossa equipe vai decolar no sábado à noite para Israel. Todas as tentativas foram feitas, acordos e memorandos e agora vai até os hospitais e laboratórios. Por nossa intenção, está tudo acertado para isso”, disse para apoiadores.
O próprio Bolsonaro admite que não sabe o que é o spray. “Como é para ser usado em quem está hospitalizado, quem está em UTI, eu acho que não tem problema nenhum usar esse spray no nariz do cara. O que é esse spray? Não sei, mas o que acontece: esse produto, há 10 anos, estava sendo investigado, estava sendo estudado para outro tipo de vírus”, comentou.
O filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, também comentou nas redes sociais sobre o spray. Segundo ele, os israelenses estão interessados na participação brasileira nos testes do spray nasal contra a Covid-19 porque “o Brasil é um povo famoso por ser miscigenado, com material genético bem diversificado”. Eduardo Bolsonaro integra a comitiva a Israel.
A droga está sendo testada com apenas 30 voluntários e, por enquanto, não tem nem resultados da fase um publicados em artigo científico.
Na saída do Brasil a comitiva saiu sem máscara, conforme foto postada por Eduardo Bolsonaro. Na chegada em Tel Aviv, já estavam todos com máscara, como exigem os israelenses.
O Itamaraty informou que “os integrantes da delegação que visita Israel realizaram, antes do embarque, teste PCR de detecção de COVID-19. Todos os resultados foram negativos. Na chegada ao hotel em Israel, os integrantes da delegação realizaram novo teste PCR”.
E acrescentou que “em razão de protocolo sanitário israelense, os integrantes da delegação utilizavam máscaras ao chegarem a Israel, antes da apresentação de resultado de seus testes PCR”.