O ambulante de Taguatinga, que Bolsonaro usou como modelo do que as pessoas devem fazer, deveria estar em casa, protegido, e recebendo os recursos que o governo está retendo
Todo o mundo econômico, e principalmente a população brasileira, está exigindo agilidade do governo na liberação de recursos públicos para o enfrentamento da crise do coronavírus. A situação de milhões de pessoas já se aproxima do desespero.
É urgente a liberação imediata da renda mínima para os trabalhadores informais e dos recursos para garantir os salários. Diversas atividades econômicas não essenciais devem permanecer paradas e os salários têm que ser garantidos pelo governo.
Não há mais travas à essas medidas. Os gastos estão liberados.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), liberou na sexta-feira (27) o uso de regras fiscais mais flexíveis para o combate ao coronavírus e para a proteção da população afetada pela crise. Não há mais pretexto para a paralisia. O país corre contra o tempo para que não haja o colapso da saúde pública e da economia.
No entanto, o que vemos é o presidente da República segurar o dinheiro e usar o desespero das pessoas, que ele deveria estar ajudando, para pressionar pela irresponsável volta ao trabalho. Uma atitude torpe e criminosa, condenada por todas as autoridades sanitárias e, inclusive, pelo Ministério da Saúde.
O ambulante de Taguatinga, que Bolsonaro usou como modelo do que as pessoas devem fazer, deveria estar em casa, protegido, e recebendo os recursos que o governo está retendo. Mas, nem os recursos exigidos pelos governadores e prefeitos para equipar hospitais estão chegando. A agilidade agora é fundamental.
O ministro Alexandre Moraes argumentou que a pandemia “representa uma condição superveniente absolutamente imprevisível e de consequências gravíssimas, que afetará drasticamente a execução orçamentária”, o que tornaria “impossível o cumprimento de determinados requisitos legais compatíveis com momentos de normalidade”. O próprio STF está deixando claro que são urgentes as medidas a serem tomadas.
Mas, ao invés de se apressar e liberar logo os recursos, o governo está concentrado em promover carreatas exigindo que o povo volte ao trabalho. Ao invés de estar se reunindo com sua equipe e remover os entraves para que o dinheiro chegue logo nas mãos do povo, Bolsonaro está passeando pelas ruas de Brasília e afrontando o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde.
Bolsonaro virou porta-voz dos especuladores que estão perdendo dinheiro nas bolsas de valores e querem recuperar os seus “ativos”. Para eles, se precisar morrer metade da população como forma de reaver seus lucros, é isso que tem que ser feito. E é isso o que Bolsonaro está defendendo enfaticamente.
Ele está promovendo aglomerações nas ruas, colocando em risco a vida das pessoas, dizendo besteiras sobre a pandemia e atacando os governadores que estão agindo corretamente. Nunca se viu um presidente atacar sua população desta forma, colocar em risco a vida de milhões de pessoas, para atender interesses tão particulares e tão mesquinhos.