Presidente usou médicos bolsonaristas como escudo para tentar promover a fraude
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, revelou o que muita gente já sabia. Que Jair Bolsonaro não respeita nenhum limite ético ou legal para atingir seus objetivos torpes. Ele chegou a preparar às escondidas uma alteração da bula da cloroquina, para incluir no documento sua recomendação para o tratamento da Covid-19.
Em entrevista à GloboNews, na quarta-feira (20), Mandetta disse que o protocolo imposto por Bolsonaro ao ministro da Saúde interino, general Pazuello, recomendando a droga é “distante do razoável” e contou que a tentativa de alterar a bula aconteceria via decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro.
“O presidente se assessorava ou se cercava de outros profissionais médicos. Eu me lembro de quando, no final de um dia de reunião de conselho ministerial, me pediram para entrar numa sala e estavam lá um médico anestesista e uma médica imunologista, que estavam com a redação de um provável ou futuro, ou alguma coisa do gênero, um decreto presidencial… E a ideia que eles tinham era de alterar a bula do medicamento na Anvisa, colocando na bula indicação para Covid-19”, afirmou Mandetta, ao canal.
O ex-ministro disse que havia ministros, integrantes da AGU e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, no encontro. “O próprio presidente da Anvisa – que atualmente se infectou com o coronavírus – se assustou com aquele caminho, disse que não poderia concordar. Eu simplesmente disse que aquilo não era uma coisa séria e que eu não iria continuar naquilo dali, que o palco daquela discussão tem que ser no Conselho Federal de Medicina”, contou Mandetta.
Ele reforçou que o debate tem que ser no Conselho Federal. “Não adianta fazer um debate de uma pessoa que seja especialista na área que for, com um presidente da República que não é médico. A disparidade de armas, já que a frase está tão em voga, é muito difícil”, relatou Mandetta, defendendo que decisões deste tipo têm de sair de um conselho de médicos, baseadas em dados científicos.
Não há nem um debate científico neste assunto. Nem mesmo na questão da cloroquina Bolsonaro defende uma ideia própria. Ele simplesmente segue a cartilha de seu guru, Donald Trump, que tem altos interesses no aumento de vendas da cloroquina já que seu grupo investe na fabricante do produto.
O governo federal publicou um protocolo que indica o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em casos de Covid-19, incluindo em pacientes em estágios iniciais da doença. Isso vai colocar a população em risco ao mesmo tempo em que crescerão as vendas dos comprimidos.
No entanto, a eficácia do medicamento para o novo coronavírus não está comprovada. Dois grandes trabalhos foram publicados recentemente com testes de mais de dois mil pacientes e concluíram que a droga não é eficaz contra a Covid-19. Na verdade, o que se sabe é que seus efeitos colaterais são graves e podem levar à morte. Um desses efeitos colaterais graves é a arritmia cardíaca.
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