Mostrando ignorância e afrontando todas as opiniões técnicas, o capitão cloroquina disse que a vacina produzida no Brasil “perdeu a validade”. Paulo Lotufo, epidemiologista da USP, criticou duramente a decisão do governo
Jair Bolsonaro afirmou, neste domingo (10), que o governo não comprará mais doses da vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan e desenvolvida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. A declaração foi dada durante conversa com jornalistas e apoiadores, no Guarujá, São Paulo, onde o ‘espalha-vírus’ passa o feriado prolongado. Ele foi, inclusive, barrado de assistir o jogo de futebol do Santos na Vila Belmiro exatamente por não ter tomado vacina.
De acordo com Bolsonaro, antes de seguir sendo disponibilizada para a população, a vacina do Butantan deverá ser certificada definitivamente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O pedido vem se arrastando há meses. O epidemiologista Paulo Lotufo, da USP, criticou duramente a decisão do governo dizendo que a vacina já se mostrou eficaz e segura e que o país tem que usar o maior número possível de vacinas para combater a pandemia e evitar o surgimento de novas variantes.
Questionado quais seriam os motivos para vetar a CoronaCav, Bolsonaro mentiu dizendo que a validade do imunizante estaria vencida. “Queiroga parece que não vai comprar mais a Coronavac, se não me engano. Acho que está nessa linha. Porque tem a validade, segundo ele me disse, em torno de seis meses. Quem já foi vacinado há mais de seis meses o cartão de vacina tá irregular”, afirmou. Além de voltar a destilar seu veneno contra a vacina fabricada pelo Butantan, Bolsonaro revelou desconhecimento sobre validade de vacinas.
Ao contrário do que ele insinua, a autorização para o uso da CoronaVac não tem esse “prazo de validade” inventado por Bolsonaro. As vacinas deverão ser usadas intensamente pelo tempo que for necessário, segundo os especialistas, para deter o vírus e para que a pandemia comece a ceder de forma mais sustentada. Aliás, o tempo de proteção das vacinas é uma discussão sobre a qual os médicos ainda não chegaram a um consenso. Os estudos estão sendo feitos em relação a todos os imunizantes disponíveis. Não se sabe ainda quanto tempo, depois de imunizadas, as pessoas deverão receber as doses de reforço.
Inclusive, acaba de ser publicado que a vacina da Pfizer, apresenta uma queda importante de eficácia apenas dois meses após a aplicação da segunda dose. O estudo foi publicado tanto na revista Lancet quanto na New England Journal off Medicine. Portanto, ao atacar e vetar apenas a CoronaVac, Bolsonaro só demonstra que seu veto é seletivo, ou seja, ele continua sua cruzada contra o Brasil, contra pesquisadores brasileiros e a favor de seguir espalhando o vírus.
A vacina do Butantan teve a sua eficácia fartamente comprovada em diversos ensaios clínicos pelo mundo afora e também na vida real do combate à pandemia. Ela reduziu drasticamente as mortes e internações por Covid-19 em todo o Brasil, onde milhões de pessoas foram imunizadas por ela. Além disso, na cidade de Serrana, interior de São Paulo, onde 100% da população foi vacinada, em estudo conduzido pelo Instituto, os resultados foram altamente favoráveis. As mortes e internações despencaram. Também no Uruguai e no Chile a CoronaVac mostrou ter alta eficácia e segurança.
Em decorrência desse comportamento – que alguns classificam de genocida, Bolsonaro está sendo investigado pela CPI da Pandemia. O “espalha-vírus” é acusado pelos senadores de ter sabotado a compra de vacinas e, com isso, ter transformado o Brasil no segundo país do mundo com maior número de mortes por Covid-19. O Brasil amarga, hoje, mais de 600 mil mortes pelo vírus, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Quem não se lembra dos ataques que Bolsonaro fez à vacina do Butantan logo no início da imunização? Ele chegou a dizer, sem nenhuma prova, que a vacina causaria doenças, deformações e até mortes. Chegou a comemorar uma morte ocorrida durante os teste e creditá-la à CoronaVac, sendo rotundamente desmentido pelos fatos. Em sua cruzada negacionista, chegou a dizer que as pessoas que tomassem a vacina poderiam virar jacaré.
Ao mesmo tempo que o número de pessoas mortas pela ação do vírus aumentava, Bolsonaro desautorizava publicamente o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a comprar a CoronaVac, o único imunizante que estava disponível à época. A vacinação encontrava-se atrasada e Bolsonaro seguia dificultando seu início por puro preconceito à CoronaVac, ao Butantan e à China.
Não fosse a pressão exercida pela sociedade e pelos governadores, particularmente o de São Paulo, João Doria, ele não teria iniciado a imunização da população. Hoje, responde por uma série de crimes que levaram o país a viver uma de suas maiores tragédias sanitárias. O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, afirma que, não fosse a atuação criminosa e negacionista de Bolsonaro e de sua equipe, mais de 400 mil pessoas poderiam ter sido salvas da ação mortal do coronavírus.
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