Coronel Glauco Carvalho afirmou que “o presidente não sabe o que é institucionalidade”. Ele lembrou que “sempre houve uma grande ojeriza a Bolsonaro na tropa. Até porque ele saiu pela porta dos fundos”
O coronel Glauco Carvalho, ex-comandante do Policiamento da Capital, afirmou que “Bolsonaro não sabe o que é institucionalidade. Até porque”, destacou o militar, ele “saiu pela porta dos fundos”. “Servi dentro do Exército por três anos como oficial de ligação da Polícia Militar de São Paulo. Havia uma grande ojeriza ao capitão Bolsonaro. Não entendo o que aconteceu nesses 25 anos, pois se há uma pessoa despreparada para o exercício da função política e para a função militar, essa pessoa é Jair Bolsonaro”, afirmou o coronel.
“Ele [Bolsonaro] não tem apreço por limitações legais e éticas e tenta a todo custo trazer as Polícias Militares para o seu lado. Enfim, espero que essas circunstâncias ajudem o País a sedimentar sua democracia e não viva eternamente sob a égide um facão no pescoço de quem pode e de quem não pode dar um golpe”, acrescentou o ex-comandante.
As afirmações do militar foram feitas em entrevista nesta quarta-feira (25) ao jornal Estadão. Ele falou da punição imposta pelo governador João Doria ao militar que convocou a manifestação golpista do dia 7 de setembro. “É preciso diferenciar oficial da ativa do oficial da reserva. O da reserva, até certos limites, pode se manifestar, ter vida partidária. O da ativa tem limitações severas em decorrência do papel na sociedade e por ele portar armas”, afirmou o coronel, ao comentar o afastamento do coronel Aleksander Lacerda por este ter se manifestado a favor do ato golpista.
“Ele é meu amigo e foi meu aluno no Curso Superior de Polícia. A despeito disso, fico com a lei e com os princípios de minha instituição. Ele tem de ser punido sob o ponto de vista administrativo e sob o ponto de vista penal militar”, acrescentou o ex-comandante. Segundo o coronel Glauco, “a punição tem de ser pública para que, do soldado mais recruta ao coronel, vejam que a PM não tolera esse tipo de atitude. A democracia não implica em libertinagem, em falar o que você pensa e acha sobre autoridades constituídas ocupando uma das funções mais importantes que a instituição tem: o comando de área de grandes efetivos”.
“Ele tem de ser severamente punido sob o ponto de vista administrativo e sob o ponto de vista penal-militar. Se não, vamos instalar a balbúrdia na instituição. O Brasil está de ponta-cabeça. É surreal. E vejo coronéis querendo contemporizar… A tropa precisa ver que o bumbo bate no pé direito. O procedimento administrativo tem de ser célere. Fosse em outras épocas, ele estaria preso hoje ou amanhã para dar exemplo para a tropa”, avaliou.
“Fiquei 35 anos na ativa e estou há seis anos na reserva e nunca vi um coronel fazer qualquer tipo de manifestação nesse sentido. É da tradição da Força Pública de São Paulo manter a sua legalidade. Eu conheço o coronel (Fernando) Alencar (comandante-geral da PM) e tenho absoluta confiança de que ele tomará as medidas mais apropriadas para manter a integridade da instituição”, apontou o coronel Glauco.
Para o ex-comandante, o bolsonarismo “se alastrou”. “Tenho amigos que se tornaram defensores do presidente. É preciso entender o que aconteceu. Não basta só criticar as Polícias Militares. Precisamos tirar as PMs desse buraco”, defendeu. “O bolsonarismo não tem institucionalidade, ele não tem limites, e tenta destruir todos os valores da instituição. É o que tem de mais indecente na vida pública do País”, prosseguiu o militar.
“O limite que o PM pode exercer em matéria político-eleitoral e partidária é zero. Ele não pode criticar a política do Doria, como a do Lula e da Bolsonaro. Isso também vale para Bolsonaro”, observou o coronel. “Quem é da ativa não deve se manifestar porque eles são autoridades constituídas, legal e democraticamente eleitas. O Brasil perdeu seus limites e valores. O que me preocupa é a infiltração de ideologias que buscam a ruptura do quadro democrático. Precisamos coibir essas ações com muita firmeza sob pena de termos no Brasil uma tomada de poder por instituições policiais, como na Bolívia”, apontou.
“O que se aplica ao Lula também se aplica ao Bolsonaro. Tem de haver respeito das instituições a essas autoridades. Eu posso falar porque estou na reserva, mas passei 35 anos sem falar nada. O limite é o limite em que as instituições se balizam. O grande problema que temos é que temos um presidente que, para permanecer no poder, prega a desinstitucionalização das organizações do estado, como as Polícias Militares, as Forças Armadas, o Ministério Público e a Justiça”, denunciou o ex-comandante de PM paulista.