Graça Machel (viúva de Nelson Mandela e Samora Machel, ex-ministra da Educação e Cultura de Moçambique e ativista de Direitos Humanos), Ban Ki-moon (ex-secretário-geral da ONU), Jimmy Carter estão entre os signatários de um manifesto contra a anexação unilateral de território palestino sob o tacão da ocupação israelense, através do plano Trump/Netanyahu, que eles chamam de “Acordo do Século” e os que a ele resistem denunciam como o “Roubo do Século”.
“A anexação representa uma rejeição unilateral da Solução dos Dois Estados e é repudiada pela maioria dos países da região e internacionalmente”, diz o documento assumido pelo grupo chamado de “Anciãos”, que reúne líderes que já ocuparam cargos e tiveram funções destacadas, incluindo a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, a primeira mulher a ocupar a direção da Irlanda. Ela também foi alta comissária de Direitos Humanos da ONU, cargo atualmente ocupado por Michelle Bachelet.
“A anexação”, prossegue o documento, “traz o risco de mergulhar a região em uma profunda turbulência, aprofunda a amargura e o sentimento de usurpação entre os palestinos. Além de antagonizar os vizinhos de Israel, ela erode seu quadro democrático e constitucional”.
Mary Robinson, que preside o grupo dos Anciãos, declarou que “o conflito entre Israel e os palestinos só pode ter uma solução que for capaz de garantir a paz, segurança, direitos e dignidade para ambos os povos. Tomar território de forma unilateral e ignorar a lei internacional só alcança precisamente o oposto. Tal ação trai tanto os interesses dos cidadãos de Israel e os ideais de seus fundadores”.
O ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, afirmou que “se o mapeamento, em conjunto com a Casa Branca, das terras palestinas a serem usurpadas continua, a posição dos Estados Unidos diante da comunidade internacional vai ficar ainda mais danificada. A Cisjordânia pertence à Palestina e qualquer mudança tem que ser acordada mutuamente”.
Ban Ki-moon, que ocupa a vice-presidência do grupo e foi secretário-geral da ONU acrescentou que “os princípios da lei internacional formam a pedra fundamental de nossa ordem global. Eles fornecem uma moldura em favor da defesa dos direitos e do exercício do poder que é crucial para o enfrentamento dos desafios globais. A anexação de partes da Cisjordânia por parte de Israel não seria apenas uma loucura agressiva, teria influência destrutiva nos direitos e normas em nível mundial”.
Ban Ki-moon concluiu dizendo: “Eu conclamo todo o mundo a levantar a voz contra essa agenda prejudicial”.
SAÚDAM JUDEUS EM ISRAEL E EM TODO O MUNDO QUE SE OPÕEM À USURPAÇÃO
Os Anciãos saúdam “os esforços e as bravas vozes de judeus na sociedade civil israelense e em agrupamentos por todo o mundo que se opõem à anexação e os encoraja a se manterem firmes em seu apoio pela paz, democracia e Solução dos Dois Estados”.
Os líderes mundiais alertam ainda que “uma situação na qual as comunidades judaicas na Cisjordânia vivam sob leis civis, enquanto os vizinhos palestinos sob lei militar israelense, traria inevitavelmente paralelos com regimes historicamente repressivos e discriminatórios, incluindo o apartheid da África do Sul”.
BORIS JOHNSON: “ANEXAÇÃO É RUPTURA DA LEI INTERNACIONAL”
O primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, expressou seu apoio à Solução dos Dois Estados enquanto que denunciou a anexação unilateral por parte de Israel como “ruptura da lei internacional”.
Ao falar ao parlamento inglês, o premiê destacou que seu governo “se opõe fortemente”, a esse plano.
Johnson também expôs sua posição através de artigo publicado no jornal de maior circulação em Israel, Yediot Achronot (Últimas Notícias), no qual se diz “amigo de Israel” e “firme opositor ao antissemitismo”, acrescenta:
“Portanto, é com tristeza que tenho acompanhado as propostas de anexação de território palestino.
“Tenho receio de que estas propostas vão falhar no que se refere a fronteiras seguras para Israel e são contrárias aos seus interesses de longo prazo.
“A anexação vai danificar as oportunidades de uma forma diferente de relacionamento com parceiros árabes potenciais.
“Eu quero ver uma saída que proporcione justiça para ambos, israelenses e palestinos.
“Profundamente espero que a anexação não vá adiante. Mas, se isso acontecer o Reino Unido não vai reconhecer mudanças nas fronteiras de 1967, a não ser aquelas acordadas entre ambos os lados”.
“Há um outro caminho”, finalizou o premiê, “Assim como muitos israelenses estou frustrado porque as conversas de paz terminaram em fracasso. Temos agora que usar a energia deste momento para, mais uma vez, voltarmos à mesa de negociações para batermos o martelo de uma solução. Isso vai requerer compromisso de todos os lados. Eu não subestimo os desafios para que alcancemos a paz. Tantos esforços foram feitos. Tantos pagaram o preço mais elevado, incluindo, é claro, Ytzhaq Rabin”.
Ele finalizou dizendo que ainda acredita que “o único caminho para uma duradoura segurança para Israel (…) é através de uma solução que permita justiça e segurança para israelenses e palestinos. Recuso-me a acreditar que isto é impossível”.
EX-PRESIDENTES, PARLAMENTARES E ARTISTAS DA AMÉRICA LATINA EXIGEM DOS ESTADOS PROVIDÊNCIAS CONTRA A ANEXAÇÃO
Em manifesto divulgado pela Liga Argentina dos Direitos Humanos, dezenas de assinaturas de lideranças artísticas, parlamentares, ex-presidentes, ex-ministros e dirigentes sindicais exigem que a ONU tome providências contra a anexação de terras palestinas de acordo com o plano Trump/Netanyahu.
O manifesto ressalta:
“Nós, que firmamos este documento, provenientes da África, Ásia e América Latina condenamos energicamente os planos do Estado de Israel de anexação de jure de parte da Cisjordânia na Palestina ocupada. Nossa condenação e a presente iniciativa, liderada pela sociedade civil sul-africana, nos reúnem em nossa veemente oposição a que prossiga a negação criminosa dos direitos palestinos por parte de Israel. A ação iminente do Estado de Israel, fomentada pelo “Acordo do Século” de Trump e Kushner, violaria princípios fundamentais do Direito Internacional, incluindo o direito à autodeterminação e a inadmissibilidade de anexação de território pela força”.
O documento, que tem a assinatura dos artistas Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, do escritor Milton Hatoum, dos ex-presidentes José Pepe Mujica (Uruguai), Fernando Lugo (Paraguai), Ernesto Samper (Colômbia), Rafael Correa (Equador) Lula e Dilma (Brasil) e Evo Morales (Bolívia), conclui destacando que a “gravidade das violações de Israel e sua impunidade nos obrigam a responder ao chamado da grande maioria das organizações da sociedade civil palestina”, que “tendo vivido durante décadas sob o regime de ocupação israelense, colonização e apartheid, o povo palestino insta a que todos os Estados tomem medidas efetivas para deter a anexação e a violação de seus direitos políticos e humanos”.