O governador de São Paulo, João Doria, afirmou que o governo Bolsonaro não pagou “um único centavo” ao Instituto Butantan pelas 46 milhões de doses da vacina CoronaVac que foram ofertadas ao Ministério da Saúde.
“Todo investimento, desde maio até agora, foi suportado pelo governo de São Paulo e pelo Instituto Butantan. Até o presente momento, nós não recebemos um único centavo do Ministério da Saúde”, disse Doria, em entrevista à Rádio Gaúcha nesta quarta-feira (27).
“Vocês lembram como fomos atacados e como o governo federal foi grosseiro com os chineses. Se não fosse a nossa perseverança, não teríamos a vacina do Butantan”, destacou o governador paulista.
No sábado (23), Bolsonaro tentou capitalizar a aquisição das vacinas desenvolvidas pelo laboratório chinês Sinovac, em parceira com o Butantan, utilizando uma correspondência do embaixador da China, Yang Wanming, em que era informada a data da previsão de entrega dos insumos para a produção das vacinas. Em resposta, Doria denunciou o “oportunismo” de Bolsonaro.
Doria afirmou que “todo relacionamento cultivado com a China, com a Sinovac, quanto às liberações [das vacinas] sempre foi conduzido pelo governo do estado de São Paulo e pelo Instituto Butantan. Nunca houve, volto a repetir, nenhuma interferência, nenhuma relação, principalmente para ajudar [por parte] do governo federal”.
Ao mesmo tempo em que alegou que o embate não se trata de uma tentativa de politizar o tema, Doria frisou: “Apesar de todas as manifestações contrárias do governo federal, todas as manifestações desairosas do presidente da República e de seus filhos em relação à China, conseguimos trazer a vacina chinesa. Ou, como gosta de dizer o presidente, a ‘vachina’ ou a ‘vacina do Doria'”.
O governador ainda destacou que, atualmente, a maioria das doses disponíveis ao Programa Nacional de Imunização (PNI) é da CoronaVac. “Cuidamos bem e, por isso, as vacinas chegaram ao Brasil e chegaram bem”. Atualmente, 10,8 milhões de doses do imunizante já se encontram em território brasileiro e com o uso liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Doria também denunciou o corte de 68,9% da cota de importação de equipamentos e insumos destinados à pesquisa científica realizado pelo governo Bolsonaro, que afeta o Instituto Butantan e também a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao governo federal.
“Vale lembrar que o mesmo governo que cancela recursos para programas de imunização é o mesmo que compra R$ 15 milhões com leite condensado, gasta R$ 50 milhões em biscoito e R$ 2 milhões em chiclete. É inacreditável, pessoas morrendo de fome, desempregados, com a ciência sem qualquer recurso. Essa é a realidade do governo federal”.
R$ 1,28 BILHÃO
Enquanto o governo Bolsonaro não contribuiu, nas palavras de Doria, com “nem um único centavo” para o desenvolvimento da CoronaVac. O mesmo tratamento não foi dispensado na parceria da Fiocruz com a multinacional AstraZeneca. De forma antecipada, o Ministério da Saúde desembolsou R$ 1,28 bilhão para a aquisição dos Ingredientes Farmacêuticos Ativos (IFAs) para a produção de 100 milhões de doses do imunizante.
Os insumos, no entanto, ainda não chegaram ao Brasil. Segundo nota da Fiocruz, emitida na segunda-feira, há uma “sinalização” de que a AstraZeneca entregará a primeira remessa do IFA no mês de fevereiro.
O atraso da chegada da vacina da AstraZeneca coloca em sério risco a imunização dos brasileiros. Sem os insumos, existe a possibilidade do Brasil não ter condições de imunizar a parcela da população necessária para rebaixar o número de contágios e de mortes por coronavírus.
Para mitigar a demora, a AstraZeneca ofereceu à Fiocruz a possibilidade de compra de dois milhões de doses prontas da vacina, vindas do Instituto Serum, na Índia.
A proposta foi prontamente aceita pelo governo Bolsonaro, que desembolsou, além do recurso já destinado à multinacional, outros R$ 56.683.200,00 para o Instituto Serum, pelas doses da vacina indiana.
Com a falta de previsão para a chegada do IFA da AstraZeneca, a Fiocruz confirmou a intenção de compra de outras 10 milhões de doses da vacina indiana.
DOBRO
Com o preço de US$ 5,25 cada dose, os primeiros dois milhões de unidades da Covishield, comprada da AstraZeneca pelo Brasil, custam mais que o dobro das unidades vendidas para a União Europeia.
Os dados são da Fiocruz, que confirmou o custo no início de janeiro, e de um tuíte de Eva De Bleeker, ministra de Orçamentos da Bélgica, que mostra que a vacina foi negociada unitariamente por US$ 2,16 no bloco europeu.