Bairro Al Zahra, “tranquilo” e de prédios residenciais, foi transformado em ruínas após horas de bombardeios israelenses sobre a area localizada no centro da Faixa de Gaza, denuncia jornalista da BBC. Paramédicos buscam corpos sob os escombros
Pelo menos 25 edifícios do bairro “tranquilo” de Al Zahra, no centro da Faixa de Gaza, foi transformado em entulho após horas ininterruptas de bombardeio israelense contra a população civil palestina na noite de quinta (19) para sexta-feira (20). A “justificativa” utilizada pelos agressores para destruir prédios residenciais de que que o local era um “centro operacional do Hamas” foi desmentida por moradores que sobreviveram à catástrofe, em meio à montanha de escombros.
Além dos residentes, confirma o repórter da BBC Adnan Elbursh, ali estavam abrigados temporariamente amigos e familiares vindos do norte da Faixa, que fugiram seguindo instruções das próprias tropas israelenses, resistindo a falta de água e eletricidade.
Em meio às lágrimas, a moradora Umm Salim al Saafin contou que o exército sionista havia ordenado que todos evacuassem o bairro às 20h30 de quinta e o bombardeio incessante começou já às 21h e prosseguiu até às 7h de sexta. “Somos civis que vivem pacificamente em nossas casas. Por que estão nos bombardeando? O que fizemos?”, questionou Umm.
“Isso é algo que não pode ser descrito, não respeita os seres humanos nem os direitos humanos”, relatou Mahmoud Ibrahim, outro sobrevivente à chacina. “Dizem que há terroristas aqui lançando mísseis, mas isso é mentira”, acrescentou. “Isto é um genocídio”, descreveu Abu Rami, outro residente que perdeu tudo.
Também ex-morador do local, Rami Ibrahim, levantou a voz para a câmara: “Olhem para os alvos que os israelenses estão escolhendo. Ficaremos aqui nos escombros ou debaixo dos escombros”. Uma mulher se aproxima para ver “o que sobrou da sua casa, as ruínas”.
Residente de Al Zahra, Hamza, disse que o fato de se encontrarem distante das operações militares recentes e, também, das guerras anteriores dava aos moradores uma falsa sensação de segurança, que converteu o bairro em refúgio para pessoas deslocadas de outras áreas. Assim, quando começou a agressão israelense os residentes abriram seus lares, fazendo com que cada apartamento albergasse duas ou mais famílias.
Vídeo mostra a dimensão da sestruição:
São inúmeros os relatos sobre pessoas soterradas sem qualquer socorro. Autoridades palestinas dizem que é dificílimo recuperar os corpos ou mesmo procurar sobreviventes porque as ambulâncias e equipes de emergência não conseguem ter acesso ao local nem dispõem dos equipamentos necessários.
Enquanto a equipe da BBC ainda se encontrava no bairro, um morador disse ter recebido uma ordem do exército israelense para que as pessoas abandonassem a área, já que os militares iriam destruir uma das torres restantes. Imediatamente o local precisou ser evacuado.
Informações oficiais apontam que dois terços dos habitantes da Faixa de Gaza são refugiados palestinos ou seus descendentes, pessoas que tiveram de abandonar as suas casas quando Israel foi criado em 1948 ou após a guerra de 1967, e que não têm nem mesmo o direito de regressar a Israel. Os mais de 2,2 milhões de habitantes de Gaza temem agora, em meio à chacina, uma nova Nakba (Catástrofe), com um êxodo massivo forçado.
Construído no final da década de 1990 em terrenos baldios, Al Zahra foi erguido por determinação do ex-presidente Yasser Arafat para evitar a expansão do assentamento sionista Nitzarim, que fazia fronteira com o local ao norte. Seus edifícios e ruas eram relativamente modernos, com cerca de 60 torres residenciais que abrigavam instituições públicas, universidades e escolas palestinas.