O procurador-geral do Estado da Califórnia, Xavier Becerra, entrou com uma ação contra a medida de Trump que pretende obrigar os estudantes estrangeiros a deixarem o país se as instituições educativas autorizarem aulas à distância durante a pandemia do coronavírus.
“Que vergonha para o governo Trump por não apenas ameaçar as chances dos estudantes irem para a faculdade, mas também sua saúde e bem-estar, forçando-os a frequentar fisicamente as aulas em grupo, apesar da pandemia da Covid-19”, escreveu Becerra em declaração, na quinta-feira (9).
O Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) notificou às universidades, na segunda-feira, 6, que os estudantes terão que sair dos EUA ou transferir-se para outra instituição se as escolas em que estão matriculados operarem completamente à distância no próximo semestre. Segundo a normativa não se emitirão novos vistos para os alunos dessas escolas, enquanto que aqueles inscritos em universidades que oferecem uma mistura de aulas presenciais e à distância não poderão optar só pelas dadas por Internet.
A medida, que afeta milhares de estudantes na Califórnia é considerada “ilegal” por Xavier Becerra.
“ORDEM MESQUINHA, ARBITRÁRIA E PREJUDICIAL”
Em comunicado, a presidente da Universidade da Califórnia, Janet Napolitano, chamou a ordem de “mesquinha, arbitrária e prejudicial aos Estados Unidos”.
“Essa ordem caprichosa e ilegal do governo federal” mergulhou os estudantes estrangeiros em ansiedade e incerteza mais profundas, disse Napolitano. “É ilegal, desnecessária e insensível”, insistiu.
John A. Pérez, presidente do Conselho de Regentes da Universidade da Califórnia, afirmou que a instituição aumentou o ensino online e diminuiu as aulas físicas a fim de proteger a saúde dos estudantes em meio à pandemia da COVID-19. “É imperativo entrar com essa ação para proteger nossos estudantes”, frisou.
“Para os estudantes estrangeiros da nossa Universidade, eu digo: ‘Nós apoiamos vocês e lamentamos o caos adicional que a ação do ICE causou’. Para os tribunais, eu digo: ‘Somos a Universidade da Califórnia. A Universidade da Califórnia conhece a ciência, a Universidade da Califórnia conhece a lei e abordamos as duas de boa-fé. Nossos oponentes mostraram repetidamente que não'”, declarou Pérez.
A Califórnia, o estado mais populoso dos Estados Unidos, está vivendo no momento atual um dos principais surtos do coronavírus no país. Atualmente são registrados mais de 8.000 novos casos por dia, totalizando mais de 300.000.
A Universidade de Harvard, que propõe aulas somente on-line no próximo ano, já entrou com uma ação contra a política de Trump no dia 8. O MIT (Massachusetts Institute of Technology) também.
“Estamos em uma situação muito difícil”, disse na quinta-feira, 9, o especialista em doenças infecciosas Anthony Fauci, consultor da Casa Branca para a crise do coronavírus.
A reabertura do país ocorreu “pulando todas as etapas recomendadas. Não é a maneira correta de fazer isso, precisamos repensá-la e fazê-la de maneira diferente”, criticou o especialista durante uma teleconferência organizada pelo jornal The Hill.
“Os Estados devem interromper seu processo de fim do confinamento”, disse, mas acrescentou que não considera necessário “retornar a um isolamento completo”.
O presidente Donald Trump não só ignora essa realidade como busca desautorizar Fauci. “Pela enésima vez, a razão pela qual temos tantos casos, em comparação a outros países que não se saem muito melhor do que nós, é que testamos muito mais e melhor”, desconversou no Twitter.
O engenheiro brasileiro Jean Ribeiro teve que interromper seu trabalho em modelos computacionais nos quais estuda a aerodinâmica de aviões para se informar, em detalhe, sobre a decisão do governo Trump que pode forçá-lo a deixar os Estados Unidos dentro de poucas semanas. Ele ainda tem mais dois anos para concluiu seu doutorado na Universidade da Califórnia.
“Se voltarem as aulas normalmente agora vai ser crítico, porque serão milhares de alunos fechados em prédios com ar condicionado. O risco de contágio é enorme. Ao mesmo tempo, sem os alunos de fora, a universidade pode até quebrar, além de sermos mandados embora e perdermos tudo o que fizemos até aqui”, resumiu Ribeiro em reportagem da BBC.
Ribeiro é um dos cerca de 20 mil brasileiros que estudam nos Estados Unidos e podem ser diretamente prejudicados por uma alteração nas regras de visto acadêmico.