Insuflados por Bolsonaro, e organizados e bancados por empresas do agronegócio, um grupo de “caminhoneiros” que apoia os arroubos golpistas do presidente bloqueou rodovias em todo o país pelo segundo dia consecutivo.
Na noite de quarta-feira (8), percebendo ou aconselhado por alguém menos desvairado no seu governo, que a atitude de insuflar uma parcela da população a paralisar o país era um tiro que saiu pela culatra, Bolsonaro gravou um áudio pedindo que parassem com a “manifestação”.
Como afirmou o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), a “paralisação das rodovias é tiro de fuzil no pé do próprio governo”.
O áudio não enganou a ninguém, muito menos aos baderneiros que seguem o presidente, que em suas redes sociais divulgaram que o pedido de Bolsonaro “era protocolar”, pois, pelo cargo que ocupa, não poderia apoiar o movimento abertamente, e conclamavam pela continuidade dos bloqueios.
O tumulto dos derrotados, que esperavam que os atos do 7 de setembro promovidos por Bolsonaro iriam implantar uma ditadura no país, não representa a categoria, que, através de suas principais lideranças, vem se manifestando abertamente contra o “movimento”.
Como afirmou o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), e presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Ijaí, Carlos Alberto Litti, “as principais lideranças dos autônomos estão fora. É armação do agronegócio e empresas de transporte”.
A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), a Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB) e a Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Carga em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens-SP), também afirmaram que não apoiam a paralisação.
Segundo Litti, basta observar o tipo de caminhões presentes a esse “movimento”, assim como os que bloquearam a Esplanada dos Ministérios em Brasília, na terça e quarta-feira (8). “São caminhões novos, de empresas, não condiz com a realidade dos caminhões dos autônomos, que em sua maioria têm mais de 20 anos de uso. E com bandeiras que tapam a logomarca do proprietário na lateral do caminhão. É a força do dinheiro, principalmente do agronegócio. A grande maioria da categoria, dos caminhoneiros autônomos, não está participando”, disse.
Muitos caminhoneiros relatam, inclusive, a violência e baderna que caracterizam esse “movimento”, com coação dos que se negam a participar.
Na Régis Bittencourt, o caminhoneiro Bruno Rodrigo contou à reportagem do G1: “Na verdade me obrigaram a parar aqui. Aí furaram o meu pneu e estou aqui esperando chegar o socorro”.
“Eu estou revoltado, se fosse uma paralisação que tivesse algum benefício, mas não, estão prejudicando os próprios irmãos de estrada. Estão deixando a gente no prejuízo, isso não é uma coisa certa de se fazer, se fosse para fazer, que fosse pacífico”, disse.
Em Itajaí (SC), os manifestantes apedrejaram caminhões que tentaram furar o bloqueio na quarta-feira (8). Em outros locais, vídeos que circulam na internet mostram caminhonetes bloqueando estradas com pedras.
Além de defenderem os ataques de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal, o impeachment do ministro Alexandre de Moraes e o golpe pretendido por Bolsonaro, para dar um verniz de que a paralisação e manifestações têm alguma coisa a ver com a categoria, esses caminhoneiros têm divulgado em suas redes algumas das reivindicações dos trabalhadores da área, como a queda do preço dos combustíveis, mas defendendo a mesma posição de Bolsonaro, que tenta culpar os governadores ao afirmar que a alta do preço é pelo ICMS cobrado pelos Estados.