Nesta semana, o tabuleiro político na Argentina rapidamente respondeu à vitória do candidato peronista Sergio Massa no primeiro turno sobre o fascista Javier Milei, com a proposta de governo de união nacional – a versão argentina para a frente ampla – recebendo importantes apoios, em paralelo ao desmanche da coalizão Juntos pela Mudança, após a adesão da ex-candidata Patricia Bullrich, ao lado do ex-presidente Mauricio Macri, ao autodenominado ‘anarcocapitalista’.
A oposicionista Elisa Carrió, líder da Coligação Cívica e uma das líderes do Juntos pela Mudança, rechaçou rotundamente na quarta-feira a adesão a Milei.
“Não vamos dar um salto no vazio da venda de órgãos de quem viola os direitos humanos. Não concordamos com a venda de crianças, tudo isso vai levar a crimes contra a humanidade”, disse Carrió, que acusou o ex-presidente Macri de destruir o Juntos pela Mudança.
“Ninguém entendeu quando eu disse ‘não falo mais com Macri’. O que Macri vai fazer é desgastar Horácio [Larreta, ex-prefeito de Buenos Aires], entregar Patrícia e ir com Milei, então para mim é previsível”, disse. Para ela, Macri “sempre jogou por Milei”.
Já Macri, que entregou a Argentina ao FMI e aos fundos abutres, agora diz que “Milei é o único caminho que a Argentina tem hoje” e definiu seu apoio ao fascista como “incondicional”.
DOLARIZAÇÃO, NÃO
Na quarta-feira, nove governadores oposicionistas – atuais ou eleitos – que apoiaram Bullrich declararam “neutralidade”, ao mesmo tempo em que concentraram a artilharia contra o fascista: “não vamos contribuir para uma maior fragmentação do rendimento do nosso povo, forçando a dolarização sem dólares”, eles afirmaram, em comunicado conjunto.
O próprio Milei passou o maior recibo, ao acusar os dirigentes da União Cívica Radical, que no primeiro turno apoiou Bullrich, de “traidores”. “A boa linha do radicalismo foi substituída pela de Yrigoyen e Alfonsín, que foi o que nos trouxe a hiperinflação, que promoveu a social-democracia que nos afunda e torna este país miserável”, exaltou-se, dizendo ainda que eles “não são muito diferentes dos Kirchneristas.”
Sinal dos tempos, setores do radicalismo estão exigindo que o vice na chapa de Bullrich, o radical Luis Petri, seja expulso do partido por endossar Milei. Por sua vez, o governador de Jujuy e chefe da UCR, Gerardo Morales, diz que não fala com Macri “há um ano”.
Até mesmo nas fileiras de Milei começam as deserções, com três dos cinco deputados eleitos pela A Liberdade Avança na província de Entre Ríos se declarando rompidos, por não admitirem o conchavo “com a casta”.
Enquanto isso, o peronismo, com suas muitas alas, marcha unido e na quinta-feira (26) Massa recebeu o apoio de 16 governadores peronistas e aliados e de 80 prefeitos. A Argentina tem 23 governadores de províncias e a capital Buenos Aires é uma cidade autônoma.
Em sua campanha, Massa tem chamado o povo argentino aos brios para barrar nas urnas o fascista e aumentar a diferença. “Esse não é um país de merda, como se tem dito – mas um grande país”, declarou, citando um dos rompantes de Milei, exatamente no episódio em que o fascista tentou provocar uma derrubada do peso e corrida ao dólar blue na Argentina na véspera do primeiro turno.
UNIÃO NACIONAL
Além de convocar todas as forças vivas à união nesse momento atribulado da vida argentina, Massa chamou para coordenar a definição de uma política anticrise, a ser acordada também com os governadores, ao economista Roberto Lavagna, que encabeçou, sob os governos Duhalde e Néstor Kirchner, a recuperação da economia argentina pós-fuga de Fernando de La Rúa da Casa Rosada de helicóptero.
Um dos economistas que participa nessas discussões disse ao jornal Página 12 que “teremos que aproveitar o impulso da vitória para assentar as bases do que serão os quatro anos de governo de Sergio”.
Primeiro – ele assinalou – resolver a questão cambial, estabilizar os preços, lograr o equilíbrio fiscal em 2024, juntar reservas e intervir com decisão para restabelecer uma distribuição da renda como a que havia nos governos de Cristina. “Está sendo armado um plano de estabilização com condimentos heterodoxos importantes, que gerem apoio social e facilitem um grande acordo nacional para passar de página depois de quase uma década de estancamento ou derrubada da economia”.
SURTADO DIANTE DAS CÂMERAS
Nas pesquisas, mais motivos para o estranho comportamento de Milei em um recente programa de televisão. Na sondagem de intenção de voto da consultoria Analogias divulgada na quinta-feira, Massa se mantem na frente com 42,3% contra 34,3 % de Milei. Não decidiram o voto 17,5 %. Em branco, 5,8 %. A pesquisa foi realizada entre 23 e 25 de outubro, com 1.954 entrevistados.
A pesquisa da CB Consultora revelou um empate técnico, dentro da margem de erro, de 41,6% para Milei a 40,4% para Massa. Indecisos: 7,5%. Em branco ou abstenção: 10,4%. Margem de erro: +/-2,4%. Um pequeno senão: na ultima pesquisa antes do primeiro turno a CB errou feio a votação de Massa e quase cravou a de Milei. A sondagem foi realizada online entre 23 e 24 de outubro, com 1.715 pessoas entrevistadas.
“LÁ VEM A MONTONERA”
A farsa do “destruidor da casta” não resistiu ao resultado do primeiro turno e o beija-mão de Bullrich a Milei foi melancólico. Antes, para criar um clima, Milei havia postado um meme ridículo, em que se retratava como um ‘leão’ enternecido acolhendo nos braços uma pata, a ex-candidata do Juntos pela Mudança. Cena que o promotor do encontro, Macri, abrilhantou com o comentário “lá vem a montonera” – como Milei costumava se referir aos tempos distantes em que Bullrich teve breve passagem pela organização antiditadura.
O que inspirou um rapper argentino, em um recital: “Não sou um falso leão, não faço rancho com gatos nem abraço pato”.
O tiroteio que se seguiu nas hostes da oposição tradicional, frente ao endosso a Milei, levou Macri a dizer que seus ex-companheiros fingem ser neutros mas vão mesmo é votar em Massa. Desse, ele disse que não tem como confiar, e comprovou: “Assinou um relatório do FMI que proibia fazer gasoduto, depois fez o gasoduto. Um sem palavra”.
nazifascistóides e ditadores como netanyahu, milei, ortega, kin jon un, maduro e bolsonaro não passarão!!!