Executivo da Pfizer ao Congresso dos EUA: “Este é um momento extraordinário e nosso prêmio o refletirá”.
Os laboratórios norte-americanos Pfizer, Merck e Moderna disseram na terça-feira (21) em audiência no Congresso dos EUA que, se obtiverem sucesso na nova vacina contra o coronavírus, não a venderão a preço de custo. AstraZeneca e Johnson & Johnson concordaram em vender inicialmente as vacinas sem um lucro exorbitante.
Em resposta a um congressista, o executivo-chefe Stephen Hoge da empresa de biotecnologia Moderna, que tem uma vacina em desenvolvimento, com quase meio bilhão de dólares de dinheiro público investido, disse na maior caradura que “não venderá a preço de custo”.
Mesmo aviso da Merck, que – apesar de não ter nenhuma vacina pronta até 2021- já ‘esclareceu’ que “não venderá a preço de custo”, conforme a executiva Julie Gerberding.
Quem se esmerou na disposição de tirar proveito da pandemia foi o executivo da Pfizer, John Young, que declarou que “este é um momento extraordinário e nosso prêmio o refletirá”. Para não restar dúvida, acrescentou que “durante a pandemia, avaliaremos nosso potencial de vacina com base na atual emergência global de saúde”. A Pfizer está desenvolvendo uma vacina em parceria com o laboratório alemão BioNtech.
Como regra geral, os custos das pesquisas da vacina da Covid-19, por vários mecanismos, estão sendo bancados pelos cofres públicos no mundo inteiro.
Numa mostra do que os cartéis farmacêuticos entendem por preço adequado, recentemente a Gilead, detentora da patente da droga antiviral remdesivir, a primeira a ser oficialmente aprovada para tratamento da Covid-19, que não cura nem altera a letalidade, mas reduz o tempo de internação dos casos graves, definiu o preço nos EUA de US$ 512 por dose do remédio. Segundo pesquisadores da Universidade de Liverpool (Reino Unido), o custo de fabricação de cada ampola é de aproximadamente 93 centavos de dólar (US$ 0,93).
A questão de que a vacina deve ser um bem comum da humanidade e que as vidas de milhões e milhões de pessoas não podem ficar reféns de especuladores gananciosos travestidos de laboratórios farmacêuticos foi amplamente debatida na Organização Mundial da Saúde (OMS), que reafirmou a decisão da Assembléia Geral da ONU que estabelece aos povos o direito de quebra de patente em caso de emergência de saúde. Esta, a mais grave emergência de saúde em um século.
Uma das principais preocupações da OMS diante da pandemia é garantir que a vacina esteja acessível a todos os países, inclusive os mais pobres, assim como os novos tratamentos.
Anteriormente, o que chamara a atenção foram as manobras do governo Trump tentando açambarcar vacinas em desenvolvimento em outros países, principalmente pensando na reeleição em novembro.
Agora, são essas corporações farmacêuticas norte-americanas que se acham no direito de extorquir os povos no meio de uma pandemia que já matou mais de 600 mil pessoas.
Várias dessas corporações farmacêuticas obtiveram, do governo dos EUA, polpudas verbas para o desenvolvimento das vacinas. A AstraZeneca, que é parceira da Universidade de Oxford no desenvolvimento de uma das vacinas mais avançadas no momento, já em um estudo de fase 3, assinou um contrato de US $ 1,2 bilhão com a agência Barda do governo dos EUA, que prevê a entrega de 300 milhões de doses a preço de custo. A União Européia assinou um contrato semelhante em junho.
A Johnson & Johnson, também financiada pela operação Warp Speed (US $ 456 milhões) da Casa Branca, afirmou que o preço de mais de 1 bilhão de doses não os deixaria obter lucro durante a fase de emergência da pandemia.
A Gilead, que obteve subsídio de US$ 70 milhões para o desenvolvimento da pesquisa do remédio, alega que o que interessa para a “indústria” na hora de definir o preço é o “custo-efetividade”. Assim, a Gilead chegou a asseverar que o ‘preço justo (de monopólio)” do remdesivir deveria ser de “US$ 30.000” no tratamento padrão pago pelo Medicare, o sistema público dos EUA que custeia o atendimento aos idosos, já que haveria ‘economia nos dias de hospitalização’.
O magnânimo cartel farmacêutico acabou se ‘contentando’ com um preço que é 500 vezes o custo de produção – o custo da pesquisa já foi pago pelo erário.
Na verdade, o “custo-efetividade” dos cartéis farmacêuticos é de outro tipo, daquele tornado célebre pelo banqueiro Rothschild, que dizia que a ‘hora de investir’ era quando ‘o sangue corria nas ruas’.