Medicamentos fundamentais estão em falta em 22 estados brasileiros
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), criticou a ausência de uma coordenação pelo governo federal para a compra de medicamentos sedativos essenciais para a intubação das vítimas do coronavírus nas UTIs.
Durante audiência da comissão mista de acompanhamento da pandemia na Câmara dos Deputados, na quinta-feira (25), o governador capixaba, que é representante do Consórcio de Integração Sul e Sudeste, que reúne os estados das duas regiões para pautas conjuntas, cobrou do governo Bolsonaro uma ação efetiva de enfrentamento ao novo coronavírus no país e criticou os ataques de Bolsonaro aos governadores que enfrentam a pandemia.
Casagrande pede “que o Ministério da Saúde possa coordenar a compra de medicamentos e insumos e equipamentos para ser usados nas UTIs. A demanda do mundo todo é muito grande, estamos com dificuldade para fazer essas compras. A coordenação do governo federal é essencial, e o Congresso Nacional pode ajudar nesse trabalho”.
Esse é um trabalho essencial do governo federal até para garantir os preços, pois com a pandemia, os valores aumentaram muito.
Casagrande também pediu que o Executivo registre e credencie os leitos de UTI montados pelos estados durante a pandemia. Com esse reconhecimento e habilitação oficiais, os estados ficam credenciados a receber do governo federal recursos orçamentários para a manutenção desses leitos na rede pública.
“O Brasil precisa de uma coordenação central, nacional, para alinhar as medidas de enfrentamento à pandemia da Covid-19 tomadas pelos estados, facilitar a aquisição de medicamentos e insumos e planejar as providências a serem adotadas em médio e longo prazos e que permitam ao país superar as dificuldades causadas pela crise de saúde que virou econômica”, afirmou.
“Na área geral, da ação do enfrentamento da pandemia, nós governadores ressentimos muito da ausência e da coordenação nacional do governo federal, que podia estar numa coordenação mais ampla de enfrentamento da pandemia, de orientação e de palavras, na mesma direção de governadores e prefeitos. Essa falta de coordenação nacional, a troca de ministros, a politização do tema dos medicamentos e do próprio isolamento e distanciamento social, o enfrentamento provocado pelo presidente da República acabaram dificultando um pouco nosso trabalho, porque pregamos o comportamento de isolamento e o presidente tem outra visão sobre o distanciamento, e a prática dele demonstrou isso. Isso causou um estresse na relação”, avaliou o governador.
Casagrande afirmou que a palavra do presidente da República tem um efeito muito forte e suas ações e declarações tem grande impacto nos estados o que dificulta a adesão, por parte da população, de medidas sugeridas pelos governadores. “Registro a necessidade dessa coordenação. Não se fez até agora, mas é possível que se faça ainda, até para ficarem em sintonia as ações do governo e do Congresso, que foi fundamental quando apoiou a ajuda [financeira] para estados e municípios”, salientou.
Medicamentos
A falta de medicamentos está batendo a porta dos estados em todo o país. Casagrande usou esta situação como exemplo e sugestão de onde a ação coordenada do governo federal precisa atuar: Na sistematização das compras, especialmente de medicamentos, para os estados.
Um levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), em hospitais que são referência para tratamento da Covid-19 com leitos de UTI, concluiu que faltam medicamentos para pacientes internados nas UTIs de 21 estados e no Distrito Federal.
No país, 22 medicamentos estão em falta. São sedativos, anestésicos e bloqueadores neuromusculares usados nos pacientes que precisam ser intubados, sem eles não há como realizar o procedimento e, portanto fica impossível tratar as pessoas de maneira adequada.
“Eles precisam de analgésicos, eles precisam de sedativos, porque senão eles vão… Isso vai permitir uma adaptação ao ventilador, um conforto, e esses analgésicos e sedativos são fundamentais nesse processo”, explicou a presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), Suzana Lobo.
Pelo menos um desses 22 medicamentos já acabou em 21 estados e no Distrito Federal. A situação mais crítica é em Mato Grosso: da lista dos 22 remédios, 13 estão em falta no estado, 12 estão em falta no Ceará e no Maranhão; 11 no Amapá e no Tocantins; dez no Rio Grande do Norte e em São Paulo.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde disse que o consumo aumentou muito. Há casos em que o consumo de um mês está sendo igual ao consumo de 2019 inteiro, e alerta para o risco de colapso. “Os gestores hospitalares se comunicam e acaba que um consegue emprestando um pouquinho para o outro. E vai dando um jeito. Essa é palavra, desculpa o termo, mas é assim. Agora, se não tiver uma aquisição de grande volume para colocar produto para pelo menos 30 dias nos hospitais, podemos, sim, ter, nas próximas semanas, colapso da falta desses medicamentos, o que acarreta na impossibilidade da instituição na intubação”, explicou Heber Dobis, assessor técnico do Conass.