Em seu primeiro dia de mandato, na quinta-feira (29), o presidente peruano Pedro Castillo realizou um juramento simbólico na região andina de Ayacucho, onde foi vitorioso com 82% dos votos.
Milhares de camponeses foram ao histórico Pampa da Quinua para cumprimentá-lo e se somar ao movimento de mudança que o novo governo convoca.
No juramento, voltou a sublinhar o seu compromisso “em superar as desigualdades que o nosso país enfrenta, algumas delas herdadas ao longo dos séculos. Vamos lutar pelo nosso país. Vamos quebrar as cadeias da pobreza e do subdesenvolvimento. Vamos fazer este país crescer, usar nossas riquezas para o nosso bem-estar, construir esse futuro melhor juntos. Vêm tempos novos e melhores se estivermos unidos, só depende de nós”, frisou.
O Pampa da Quinua foi escolhido para esse juramento simbólico porque naquele local ocorreu a batalha de Ayacucho em dezembro de 1824, que selou a independência do Peru e da região. Em 28 de julho de 1821, o general José de San Martín proclamou a independência do Peru, por isso na última quarta-feira comemorou-se o bicentenário, mas o confronto com a Espanha, metrópole colonizadora, continuou por mais alguns anos até que a Batalha de Ayacucho pôs fim ao processo de emancipação. A este simbolismo histórico foi adicionado o juramento perante milhares de camponeses e colonos andinos, setores marginalizados pelas elites e base de apoio do novo presidente.
Na viagem ao local, assimo como no retorno, Castillo foi acompanhado pelo presidente argentino Alberto Fernández, para registrar que os dois países têm uma história comum em vários momentos da luta pela Independência. O presidente da Bolívia, Luis Arce, também os acompanhou. Também juntou-se a eles o presidente chileno, Sebastián Piñera.
No Pampa da Quinua, considerado um santuário, ergue-se um obelisco, rodeado pelas bandeiras dos países da América que tiveram cidadãos que participaram da independência do Peru. Uma das consignas ecoadas na cerimônia era: “Castillo, o povo vem primeiro.”
A multidão agitava bandeiras do Peru e do Tawantinsuyo, com as cores do arco-íris similares ao wiphala boliviano, que representa o passado inca, e levavam faixas com os nomes de seus lugares de origem e reivindicações como o pedido de justiça, desenvolvimento, trabalho e de uma nova Constituição. O ato começou com o hino nacional cantado em quíchua, mais um gesto de aproximação com os povos indígenas, que marca o início da gestão presidencial de Castillo. O presidente peruano recebeu um varayoc, bastão usado pelos povos indígenas andinos. A celebração teve ainda música e danças folclóricas.
“Nesta terra de Ayacucho consolidou-se a independência do Peru e da nossa América”, iniciou Castillo seu breve discurso. “O céu sob o qual nossos antepassados lutaram e morreram por um sonho é o que hoje nos acompanha. Neste dia do bicentenário, o Peru presta homenagem a esses heróis da liberdade americana e declara sua vontade para que o sonho de Bolívar, San Martín e dos nossos heróis sobreviva hoje e amanhã. Estamos aqui para renovar a promessa de fraternidade e desenvolvimento soberano, sem corrupção nem roubo”, continuou ele.
“Novos tempos estão chegando, tempos melhores se estivermos mais unidos a cada dia”, disse o presidente. “Somos um grande e rico país e seremos ainda mais se conseguirmos dialogar e construir juntos o caminho da paz e da prosperidade. Lutemos pelo nosso país, renovemos neste solo onde milhares morreram pela liberdade de um continente a promessa de um país mais justo, mais digno, mais humano. Vamos quebrar juntos as cadeias da pobreza e do subdesenvolvimento”, concluiu.
Um dos participantes desta cerimônia histórica foi Oscar Laborde, presidente da missão de observadores do Mercosul nas eleições peruanas. “Nessa cerimônia em Ayacucho houve uma grande efervescência, muita emoção. Pelas vilas, ruas e praças que passamos para chegar ao Pampa da Quinua vimos muita animação na população, muito entusiasmo, cumprimentaram e aplaudiram. O que acontece em Ayacucho tem sido o complemento popular para a cerimônia oficial no Congresso. Este é um momento histórico, um grande desafio para Castillo. Pela relação que vejo entre os presidentes que aqui estiveram, com as nuances e divergências políticas normais, acredito que há condições para que a América do Sul se integre mais, se una mais e se torne um ator importante no plano internacional ”, disse Laborde.