
Às centrais e federações sindicais se uniram movimentos sociais chilenos na convocação de uma greve geral para quarta-feira. A iniciativa acontece em meio ao crescimento da revolta nas ruas de Santiago e outras cidades do Chile. Segundo dados oficiais, onze pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas, em confrontos de manifestantes com forças policiais, a grande maioria delas na capital.
A revogação do aumento das tarifas do metrô da capital, anunciada no sábado, já com a capital, Santiago, conflagrada, não foi suficiente para deter o levante cujo estopim foi a elevação dos preços dos bilhetes. O protesto acabou se ampliando e se definindo contra o arrocho generalizado imposto pelo governo Piñera.
As mobilizações e os panelaços se estendem pelo país, se produzem novos enfrentamentos entre civis e forças militares e policiais, e se repetem os saques em vários pontos da cidade, configurando uma perda de controle por parte do governo em termos da situação social.
Sebastián Piñera voltou a declarar, no domingo, toque de recolher e disse que o país está “em guerra contra um inimigo poderoso e implacável”, buscando limitar a revolta popular, identificando-a apenas com as ações violentas de alguns grupos. No entanto, o general Javier Iturriaga del Campo, responsável pela manutenção do “estado de emergência”, afirmou, na manhã desta segunda-feira(21): “Veja, sou um homem feliz e a verdade é que não estou em guerra com ninguém”, em contraposição ao presidente.
Apesar da declaração do general, não foi aberto diálogo e a repressão às mobilizações, por parte da polícia e do exército, continuam.
Praticamente todas as lojas permanecem fechadas e quase nenhum transporte público funciona. Também há cortes de luz e se registra falta de água em algumas regiões do Chile. Os estudantes chamam a continuar a mobilização nas próximas horas. Nesta segunda-feira, 21, as universidades e os colégios secundários suspenderam as aulas.
As principais centrais sindicais lançaram um documento exigindo do governo o fim do estado de emergência. “Às organizações presentes manifestam nossa decisão de convocar uma grande Greve Geral que esvazie as ruas do país. Não havendo respostas do governo e uma saída rápida para o atual estado de crise da institucionalidade democrática, se fará efetiva a partir da próxima quarta-feira, 23 de outubro”, assinalam.
A seguir, a íntegra do documento:
COMUNICADO PÚBLICO
O Chile enfrenta a maior crise política e social desde a saída da ditadura militar. O estouro social detonado pelo aumento do transporte coletivo pôs em evidência a raiva contida e o descontentamento pelas políticas aplicadas nas últimas décadas, aumentos permanentes dos serviços básicos, os salários arrochados e a mercantilização dos direitos sociais, entre outras.
Frente a isso, o governo está realizando um verdadeiro “autogolpe”, recorrendo à maior das práticas antidemocráticas que é usar as Forças Armadas para impor “paz social” pela via da força e, nesse contexto, impor suas políticas antipopulares nas aposentadorias, na questão tributária, quanto à jornada de trabalho, etc. O governo com sua atuação, tem paralisado o país com o clima de violência instalado com a presença dos militares nas ruas.
Sebastián Piñera não está entendendo as razões de fundo do protesto cidadão generalizado em todo o território, com sua atitude é claro que não está em condições de continuar dirigindo o país.
Portanto, em primeiro lugar, nos marcos da lei e em relação a cada caso, nenhum trabalhador deve pôr em risco sua integridade, nem ir a seus postos de trabalho se não tiverem condições para isso.
As organizações sindicais presentes, em uma reunião de Unidade Sindical de urgência, demandam ao governo restituir a institucionalidade democrática, que em primeiro lugar significa revogar o estado de emergência e devolver os militares a seus quartéis.
Somente revogado o Estado de Emergência, haverá condições que permitam iniciar de maneira real, um diálogo social e político, com organizações representativas dos trabalhadores e movimentos sociais, que dê resposta às demandas que têm gerado este estado de indignação social.
As organizações presentes manifestamos nossa decisão de convocar uma grande Greve Geral que esvazie as ruas do país. Não havendo respostas do governo e uma saída rápida para o atual estado de crise da institucionalidade democrática, se fará efetiva a partir da próxima quarta-feira, 23 de outubro.
Fazemos um chamado categórico à oposição e ao progressismo para que, de uma vez, levem em conta e legislem considerando as demandas populares e atuem pelo bem do país com critérios de unidade em torno das exigências e gravidade do momento. No imediato, lhes exigimos paralisar toda ação legislativa enquanto se mantiver o estado de emergência, assumindo uma greve parlamentar.
Estamos certos que a primeira responsável pela violência é esta elite arrogante e insensível que durante décadas tem abusado de maneira impune e tem mercantilizado até os direitos mais elementares; eles não são exemplo de nada, são os que têm levado este país ao grave estouro que vivemos hoje.
Porém, com a mesma clareza condenamos da maneira mais enérgica a violência irracional gerada pela atitude do governo, que tem permitido ações de vandalismo e delinquência de grupos minoritários, enquanto a grande maioria do país tem se manifestado de maneira pacífica e organizada por todo o território. É absurdo destruir o metrô que não é usado pelos poderosos mas pelos trabalhadores e trabalhadoras, é repudiável o saque de lojas, algumas delas de pequenos comerciantes, assim como a destruição de bens públicos. Essa violência irracional só é funcional aos poderosos para justificar a repressão e militarização do país. Mas também deixamos colocada a pergunta acerca da suspeita ausência de vigilância e proteção policial à rede de metrô, negócios e edifícios, justo nos momentos em que operavam estes grupos de desconhecida e duvidosa origem.
Finalmente, as organizações sindicais reunidas, reiteramos e fazemos nossa a declaração e pedido da Unidade Social, que contêm as demandas de toda a cidadania, do dia 19 de Outubro, sob o lema: “Nos cansamos, nos unimos”.
Central Unitária de Trabalhadores – Coordenação Não mais AFP – Associação Nacional Empregados Fiscais ANEF – CONFUSAM – FENPRUSS – Confederação Coordenadora de Sindicatos do Comércio e Serviços Financeiros – FEDASAP – Confederação Bancária- CONFEDEPRUS – Sindicato Interempresa Líder SIL – Colégio de Professores – FENATS Nacional.
Aderem: CONES – CONFECH – Chile melhor sem TLC – Cúpula dos Povos – FECH – FENAPO – FEUARCIS