O esforço de Pequim alcançar a autossuficiência nos semicondutores é o tema de “Como a China Está, Silenciosamente, Dominando a Tecnologia Mais Importante do Mundo?”, do portal Razão Econômica.
Dominar a produção de semicondutores – base das tecnologias de ponta que estão definindo o futuro do planeta – no século 21 “é o mesmo que controlar reservas de petróleo no século 20”, assinala o RE. Os chips – acrescenta – “são o novo petróleo”.
O esforço chinês para quebrar o monopólio dos Estados Unidos nos semicondutores pode ser apreendido da célebre declaração do presidente Xi Jinping, em 2016: “o fato do aspecto central de nossa tecnologia ser controlada por estrangeiros é nosso maior perigo”.
Falando sobre o mesmo tema, recente documentário da Bloomberg registrou outra declaração do presidente Xi, de que a China iria dar à conquista da independência no projeto e fabricação de chips a mesma importância que dera, na década de 1960, ao programa da bomba atômica. Pelo Plano ‘Made in China 2025’, a China deverá ser capaz de produzir internamente 70% dos chips que sua economia utiliza.
Da internet à eletrônica embarcada nos automóveis, proximamente elétricos, à computação quântica, à Inteligência Artificial, aos veículos autônomos, às redes de alta velocidade 5 G e, pouco mais à frente, 6G, passando por foguetes hipersônicos, caças de quinta geração, estação espacial, Internet das Coisas, robôs e digitalização dos processos produtivos, tudo isso depende de processadores de alto desempenho e confiabilidade, cujo design e tecnologia de fabricação são dominados por um número muito restrito de países. Um monopólio, enfim.
A questão ganhou as manchetes com a atual escassez global de semicondutores, que tem causado enormes perdas, por exemplo, à indústria automobilística, e com o súbito destaque do papel de uma empresa de Taiwan – a província que ainda não completou sua reunificação à pátria chinesa – no fornecimento de chips ao mundo, quando se combinaram os efeitos da mais grave seca na ilha (a água é um insumo imprescindível), aos da pandemia.
E tendo como pano de fundo a guerra tecnológica desencadeada por Washington contra o desenvolvimento soberano da China. Cujo aspecto mais notório foi, inclusive, a proibição de venda de chips, software e equipamentos para desenho e produção de chips de procedência norte-americana à Huawei e outras campeãs chinesas, realizada pelo governo Trump e mantida por Joe Biden.
Basicamente, assinala RE, a produção de chips no mundo é monopolizada por três empresas, a TSMC, de Taiwan, a Intel norte-americana e a Samsung sul-coreana. E a TSMC é a principal, no mundo, na fabricação dos circuitos lógicos, chegando a 90% nos chips mais sofisticados, produzindo sob encomenda. No final de 2020, as vendas da TSMC para seus clientes chineses foram cortadas em 70%.
Uma tecnologia que, pela sofisticação e grau de inovação, soa à ficção científica. A nova planta da TSMC deverá ser o 3º prédio mais caro do mundo e terá salas ultralimpas no tamanho de 22 campos de futebol.
A TSMC originou-se em um Instituto de Pesquisa do governo e tem como grande acionista o Fundo Nacional de Desenvolvimento de Taiwan. 97% dos ativos de longo prazo da TSMC ficam na ilha. Entre 2014 e 2018, a empresa recebeu mais de US$ 4 bilhões em subsídios.
Como observa RE, a China ainda está “duas gerações” atrasada em relação ao estado da arte nos chips, mas a indústria chinesa de semicondutores está crescendo a 16% ao ano desde 2016, atraiu engenheiros e cientistas do mundo inteiro, inclusive 3.000 que trabalhavam para a TSMC, e vem galgando os degraus em velocidade.
A China compra 1/3 dos chips produzidos no mundo e, diz o documentário, seu mercado é “muito grande para simplesmente ignorar”. Para RE, o outro lado dessa política dos EUA de banimento de chips à China, é que impede as empresas norte-americanas de consolidarem posições na China e reforça o compromisso do Partido Comunista chinês de alcançar a suficiência nos semicondutores. Um “tiro no próprio pé”, destaca.
Ajustado pela inflação os US$ 200 bilhões do chamado “Grande Fundo” chinês dos semicondutores é mais do que os EUA gastaram com a Missão Apolo de chegada à Lua. Outros centros econômicos mundiais também se movem para não perderem a corrida pelos chips. Biden lançou seu plano “Chips para a América”, tentando recuperar o terreno perdido. Também os japoneses, os sul-coreanos e europeus.