A China repudiou na quarta-feira (22) o fechamento do seu consulado em Houston, Texas, por ordem do governo Trump, e advertiu que a provocação não ficará sem resposta. Houston era o primeiro consulado da China aberto em solo norte-americano, após o restabelecimento das relações entre os dois países. “A China condena veementemente uma medida tão ultrajante e injustificada que sabotará as relações China-EUA”
Na véspera, abruptamente, o governo Trump deu 72 horas para o fechamento do consulado, sob o pretexto de “proteger propriedade intelectual e informações privadas”.
“Esta é uma provocação política unilateral de parte dos EUA contra a China, uma grave violação da lei internacional e das normas básicas que governam as relações internacionais e uma tentativa deliberada de minar as relações China-EUA”, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin.
Se não houver um recuo do lado norte-americano, a China “dará a legítima e necessária resposta”, acrescentou Wang, que chamou a medida de Washington de “escalada contra a China sem precedentes”.
A Reuters registrou que Pequim está estudando o fechamento do consulado dos EUA em Wuhan, citando uma pessoa com conhecimento direto do assunto, o que seria a norma, pelo princípio da reciprocidade.
Além das embaixadas, EUA e China mantêm cinco consulados cada um. Há ainda o consulado dos EUA na região especial de Hong Kong, que é um dos maiores do mundo, com milhares de funcionários.
Sobre a acusação do Departamento de Estado, o porta-voz da diplomacia chinesa disse que se tratava de “um ladrão acusando outros de serem ladrão”, após lembrar que os EUA “têm estado engajados nas maiores atividades de ciberataques no mundo”. O que, aliás, já se sabe desde as revelações de Edward Snowden sobre a NSA e outros organismos dos EUA.
Na terça-feira, promotores norte-americanos acusaram dois supostos hackers chineses por uma “ampla campanha global de invasão de computadores” para roubar dados de pesquisas da vacina anticoronavírus.
Como é público e notório, os laboratórios chineses estão na vanguarda das pesquisas de vacinas contra a Covid-19, com pelo menos três já em testes clínicos, de acordo com a OMS, e a pandemia está sob controle na China, ao contrário dos EUA, às vésperas das eleições presidenciais de novembro.
Na semana passada, em relação a idêntica alegação contra “hackers russos”, o chefe dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, Robert Redfield, ao ser questionado por um repórter a respeito, mostrou-se muito cético, dizendo que na área “é tudo publicado”.
Por sua vez o senador republicano Marco Rubio tuitou que o consulado chinês de Houston era o “centro de uma vasta rede de espiões comunistas”.
LOUCA BOCA DE URNA
O jornal chinês de língua inglesa Global Times relacionou o repentino fechamento do consulado chinês aos esforços de Trump para sua reeleição. “A eleição presidencial de novembro está deixando Washington louca. Os EUA estão tentando culpar a China por tudo e fazer com que os eleitores, que não entendem bem a China, acreditem nas palavras de Washington”.
“Nós estamos unidos em nossos esforços para derrotar o Vírus Invisível da China”, tuitou Trump na segunda-feira. Na postagem, em súbita mudança de posição, o presidente reality-show acrescentou que “muitas pessoas dizem que é Patriótico usar uma máscara quando você não pode se distanciar socialmente. Não há ninguém mais Patriótico do que eu, seu Presidente favorito!”. E anexou aquela foto, com ele pela primeira vez, de máscara negra, logo zoada nas redes sociais com memes sobre Darth Vader.
A fanfarronada de Trump se segue aos seguidos revezes nas pesquisas e escalada da pandemia nos EUA, que já o levaram a anunciar a volta das entrevistas diárias da Casa Branca sobre a pandemia. Bem como a tentativa de reagrupar suas bases xenófobas e racistas, com a intervenção federal com tropas sem identificação em Portland, que ameaça estender a todas as grandes cidades governadas por democratas, como Chicago e Nova York.
GUERRA FRIA & MACARTHISMO
Nos últimos 15 dias, o governo Trump intensificou suas provocações contra a China, com ingerência nas questões de Hong Kong e Xinjiang e com manobras de guerra, com dois porta-aviões nucleares no Mar do Sul da China.
O jornal The New York Times, citando fontes, disse que o governo Trump está considerando estabelecer uma proibição de entrada no país de membros do Partido Comunista Chinês e de suas famílias, o que poderia se estender a viagens de representantes do Exército Popular de Libertação da China e à liderança de estatais da RPC.
Quadro abordado na sexta-feira, por telefonema, pelo ministro do Exterior da China, Wang Yi, e o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov. De acordo com a agência TASS, Wang afirmou que “os EUA restauraram o infame macarthismo e a mentalidade fora de época da era da Guerra Fria, provocando deliberadamente confronto ideológico e desrespeitando o direito internacional e as normas básicas das relações internacionais”.
Wang acrescentou que o lado americano “abertamente coloca seus interesses acima dos outros, mostra egoísmo e unilateralismo, aplica perseguição em seu grau extremo”. Aos olhos do mundo – apontou – os EUA “já perderam sua razão, moralidade e credibilidade”.
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