Trabalhadores e estudantes marcharam pelas ruas das principais cidades da Colômbia na quarta-feira, 27, na segunda greve nacional em menos de uma semana.
“Contra o pacotaço de Duque, o FMI, o Banco Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE. Pela vida e pela paz”, diz a convocação do Comitê Nacional de Paralisação para a nova jornada de protesto contra as políticas neoliberais do governo, condenando também a sua falta de disposição para aceitar as reivindicações apresentadas num diálogo que, com muitas insuficiências, se iniciou esta semana.
Milhares de pessoas em Bogotá, Cali, Medellín, Barranquilla, Cartagena e outras cidades marcharam em apoio à greve nacional, que faz parte do amplo movimento que vem se realizando desde o dia 21 de novembro passado.
Veja os dois primeiros vídeos abaixo com as marchas em Bogotá e Cali:
A segunda paralisação de 24 horas que os colombianos vivem em um espaço de poucos dias mobilizou Bogotá. Desde o Parque Nacional, os manifestantes marcharam até a Praça Bolívar. Houve ainda outros locais de concentração como a Universidade Nacional, a estação de Banderas, o Portal del Sur e a localidade de Suba.
“Hoje tivemos mobilizações, panelaço ao meio-dia, atos, marchas”, assinalou Diógenes Orjuela, presidente da Central Unitária de Trabalhadores, CUT, denunciando que o governo um pacote apelidado de ‘reformas’, que, se implementadas, terão fortes impactos negativos dos pontos de vista econômico e social para os trabalhadores.
O Comitê comunicou que um dos pontos importantes do protesto foi a homenagem realizada a Dilan Cruz, o jovem de 18 anos que morreu na segunda-feira, 25, atingido pelos disparos de um agente de uma unidade especial da polícia denominada Esquadrão Móvel Anti-motim (Esmad). Os estudantes universitários e secundaristas lideraram a saudação. Ver https://horadopovo.com.br/bogota-morre-o-estudante-atingido-por-granada-de-gas-em-protesto-pacifico/
As mobilizações aconteceram depois que os representantes do Comitê se levantaram da mesa estabelecida com o governo porque exigem um diálogo direto com o presidente Iván Duque, sem a participação de empresários ou outros sectores do setor financeiro.
Orjuela, detalhou que nesse primeiro encontro com Duque lhe entregaram 13 propostas, entre elas a depuração da polícia, que se elimine a unidade da polícia acusada da morte de Dilan, o acatamento dos acordos de paz, que não sejam executadas as reformas trabalhistas e previdenciárias que tiram direitos de toda a população, que se revisem os acordos de livre comércio, entre outras.
“Deixamos claro ante o presidente que aspiramos discutir esses pontos diretamente entre o Comitê de Paralisação e o Governo Nacional, através dos mecanismos que devem se definir”, disse o sindicalista.
Piorando a tensão, quatro dias antes da primeira paralisação, em 17 de novembro, o governo formalizou a criação do Grupo Bicentenário, uma Holding financeira estatal que agrupará as empresas públicas que prestam serviços financeiros. Esse conglomerado, recomendado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE, teve seus protocolos assinados no domingo, 24, pelo ministro Carrasquilla. O Grupo tem como objetivo, segundo os líderes da oposição colombiana, preparar a privatização de algumas das principais empresas públicas do país. Sindicatos, partidos, organizações sociais e outros setores que participaram da greve, projetam fortes mobilizações contra essa medida.
Articulada como um grupo de empresas, a holding financeira deverá operar sujeita as regras que controlam outros conglomerados financeiros como o Grupo AVAL, BBVA, Sudameris, entre outros. As empresas públicas que farão parte desse holding, como o Fundo Nacional de Poupança, Banco Agrário, ICETEX, a organização que promove o crédito educativo para a Educação Superior, Fiduprevisora, entre outras, passarão a funcionar de acordo com regulamentações do setor privado.
“Não vamos deixar que entreguem ainda mais o patrimônio público passando por cima dos nossos direitos mais elementares. Vamos aprofundar nossa mobilização para derrotar a privatização”, afirmou Fabio Arias Giraldo, secretário geral da CUT.