Após três meses da aprovação da vacina contra a Covid para crianças entre 6 meses e 5 anos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Ministério da Saúde publicou, nesta terça-feira (27), nota técnica assinada no dia 23, liberando a vacinação para essa faixa etária.
Com isso, a partir de agora todos os bebês e crianças entre 6 meses e 4 anos e 11 meses de idade poderão ser vacinados.
A medida acontece depois do governo Bolsonaro ter resistido de todas as maneiras, não só à vacinação da população em geral, mas, especialmente, à vacinação infantil. Até o momento, o governo federal havia distribuído as primeiras doses da “Pfizer Baby” apenas para as crianças de 6 meses a 2 anos e 11 meses que tivessem alguma comorbidade e, desde a aprovação da vacinação infantil, atrasou a compra de vacinas o quanto pode.
Os dados sobre Covid na população infantil são bastante preocupantes. Conforme matéria publicada no jornal Estadão, o número de crianças de até 2 anos internadas por covid-19 em todo o país este ano já é 21,3% a mais do número de casos registrados no ano passado, ao contrário da queda registrada nos outros grupos populacionais.
A própria nota técnica reconhece a os riscos da doença nessa faixa etária. “Sabe-se que o risco de casos graves pela covid-19 diminui conforme a redução da faixa etária, no entanto, o risco de agravamento aumenta em crianças menores de 2 anos de idade, notando-se que esta população teve a incidência de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) pela covid-19 e a taxa de mortalidade pela doença superiores à população de 5 a 19 anos de idade”, diz o documento.
O Ministério recomenda que, atendendo à operacionalização da vacinação e os processos de aquisição e distribuição do imunizante, a vacinação deva ser aplicada de forma escalonada, priorizando a seguinte ordem: crianças com comorbidades; crianças sem comorbidades de 6 meses a menores de 1 ano de idade; crianças sem comorbidade de 1 ano a 2 anos de idade; crianças sem comorbidade de 3 anos de idade; crianças sem comorbidade de 4 anos de idade.
Ao Estadão, o infectologista e vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, Marcelo Otsuka, disse que houve não só “atraso” na liberação do imunizante como “prejuízo muito grande no atendimento dessas crianças”.
“(A demora) Comprometeu ainda mais a nossa possibilidade de proteção de todas essas 500 crianças que foram a óbito (neste ano)”, afirma, referindo-se ao número de óbitos infantis por Covid em 2022, registrados no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.
Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime Barbosa, “a recomendação do Ministério da Saúde vem corrigir um erro que já estava deixando toda a comunidade científica bastante incomodada há algum tempo, porque é uma vacina já aprovada pelas autoridades regulatórias americanas e europeias”.