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Com a presença de líderes religiosos, ex-jogador de futebol, políticos, representantes de torcidas, fiéis e pessoas em situação de rua, foi comemorado na manhã desta terça-feira (27) na Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, zona Leste de São Paulo, o aniversário do padre Júlio Lancelotti.
“É a festa da vida”, definiu o religioso, sobre a pluralidade que marcou a data, em entrevista à Hora do Povo. Isso aqui é muito mais (que uma comemoração de aniversário), é o compromisso pela vida, é o compromisso de estarmos sempre juntos”, disse Lancelotti. Além das homenagens, do bolo e dos parabéns, a data foi comemorada com a entrega de donativos para a população carente.
Presente ao ato, o ex-jogador de futebol Walter Casagrande, ídolo da torcida corintiana, defendeu a necessidade do engajamento social por parte de jogadores de futebol e criticou a indiferença dos colegas frente ao criminoso governo Bolsonaro.
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“O cara pode ser de direita, ser de esquerda, mas a questão da sociedade, isso não dá para admitir: a ausência e a falta da voz em prol da sociedade brasileira”, cobrou o ex-atleta. “Esse presidente aí (Jair Bolsonaro), que vai sair, não comprou vacina, as pessoas morreram e os jogadores de futebol ficaram calados”, ressaltou.
“Trouxeram a Copa América para cá – a Argentina não fez por causa da pandemia, e eles (dirigentes, atletas) ajudaram a trazer para cá. Isso sim, (representa) uma falta de posição social dos jogadores”, disse Casagrande, que é colunista do UOL.
“Quando eu cobro o jogador, eles falam: ‘Pô, o Casão só aceita quando é favor do que ele pensa’. Não é verdade. A posição social, a política, eles escolhem, mas a sociedade não é de direita e nem de esquerda, é de todo mundo. Então, quem não colabora com a sociedade, está sabotando o Brasil”, completou Casagrande, que concedeu entrevista ao HP.
“Isso que o padre Júlio faz, a própria sociedade, o governo deveria fazer, que é cuidar do povo, que é acabar com a fome”, disse Adilson Monteiro Alves, ex-dirigente do Corinthians e um dos idealizadores da Democracia Corintiana, ao lado de jogadores como Sócrates, Casagrande, Biro Biro, entre outros. O coletivo, criado na década de 80, além de atender a reivindicações internas dos jogadores, adquiriu caráter político e atuou contra a ditadura militar, quando os atletas marcavam presença nos comícios pelas “Diretas Já”.
“Eu, da parte do esporte, coordenei a construção do programa de governo do Lula. Nós trouxemos (para a campanha) muita gente, principalmente os torcedores, os coletivos, alguns atletas, embora poucos”, prossegue Adilson. “Somos poucos, mas somos fortes e atuantes”, finalizou.
Os líderes religiosos presentes à solenidade ressaltaram a importância do respeito à pluralidade religiosa e denunciaram a perseguição às religiões de origem africana, especialmente durante o governo da intolerância de Jair Bolsonaro.
“O Brasil é um país laico. E a gente precisa respeitar isso […] A união de todas essas religiões mostra esse respeito na base que somos nós”, disse ao HP Mãe Kelly D’Angiles, representante da Umbanda, que estava ao lado do marido, Pai Denisson D’Angiles.
“As religiões de matrizes africanas são imensamente atacadas. Durante esse período de 4 anos que a gente viveu, a gente viu terreiros sendo atacados; no Rio de Janeiro, nossos irmãos perdendo espaço, não podendo fazer seus cultos, não podendo tocar seus tambores por intolerância religiosa”, denunciou D’Angiles.
Essa hostilidade religiosa – e também de raça – pôde ser comprovada no último dia 25, em que o padre Júlio, durante uma missa, da qual congregaram líderes de diferentes religiões para comemorar o seu aniversário, usou uma representação de Jesus negro. Ao postar a foto nas redes sociais, o religioso recebeu várias críticas de internautas.
“O padre Júlio não tem um conceito de religião, ele tem as ideias de Deus e as coloca em prática nas suas ações. Ele age baseado numa consciência transformadora”, disse o líder budista monge Ryiozan.
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Uma das principais organizadoras da festa, a professora Liliane Roque, que pela terceira vez realiza a comemoração com a entrega de doações que ela arrecada, diz que a ideia surgiu pelo fato de ela já realizar um trabalho com a população de rua. Como já conhecia o trabalho do padre Júlio, achou que seria justo e gratificante comemorar o aniversário do religioso, por quem tem profunda admiração e reconhecimento.
Segundo Liliane, ao perguntar a Lancelotti o que ele gostaria de ganhar de presente, ele disse: “Eu quero donativos para o povo que está na rua”.
Também compareceram ao ato desta terça-feira, o vereador e eleito deputado estadual pelo PT Eduardo Suplicy e o ex-deputado estadual também pelo PT Adriano Diogo, que presidiu a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, criada em 2012 para investigar violações de direitos durante o regime militar.
JOSI SOUSA
Excelente reportagem, que essa tradição dure muitos e muitos anos! Viva Padre Lancelotti, viva o povo da rua!