
Inserção do candidato do PT foi ao ar nesta segunda-feira (25) e defendeu uma parceria com o ex-presidente Lula
O professor Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e candidato do PT ao governo do Estado, iniciou suas inserções de propaganda partidária nesta segunda-feira (25) afirmando que pretende governar em parceria com o governo federal caso venha a ser eleito. Na peça ele aparece abraçado com o ex-presidente Lula de quem foi ministro da Educação. Certamente esta foi uma boa forma de associar Lula à sua campanha.
No entanto, Haddad surpreendeu a todos ao usar o programa para “conectar” eleitoralmente João Doria a Jair Bolsonaro. “Em 4 anos Bolsonaro e Doria causaram grandes prejuízos ao nosso estado. Aumentaram impostos e abandonaram a nossa gente à própria sorte”, disse o candidato petista.
Só que, durante os últimos quatro anos, para o bem do país e da democracia, Doria não se “conectou” ao Planalto e abandonou o povo, como diz Haddad. Ao contrário, ele se somou ao campo democrático que conseguiu derrotar, com uma justa política de frente ampla, a disseminação do fascismo e as investidas golpistas de Bolsonaro.
Neste período em que o regime democrático esteve seriamente ameaçado, muitos governadores se destacaram no embate contra os neofascistas, entre eles estão o governador Wellington Dias, do Piauí, Flávio Dino, do Maranhão, Camilo Santana, do Ceará e João Doria de São Paulo.
Querer empurrar, agora João Doria para o colo de Bolsonaro em razão da eleição é algo no mínimo sem sentido, do ponto de vista político, e, do ponto de vista eleitoral, beirando ao suicídio político. Além é claro, de soar falso, pois o país inteiro assistiu o quanto Bolsonaro atacou seu desafeto paulista.
Em outro momento da inserção, Haddad afirma que, em plena crise da pandemia de Covid-19, de forma irresponsável, “os dois brigaram entre si’. É no mínimo estranho afirmar que houve uma “briga” entre Doria e Bolsonaro. O que houve foi um ataque violento de Bolsonaro a todos os governadores e à população brasileira. Fernando Haddad sabe disso. Sabe que Bolsonaro declarou guerra ao Butantan, à São Paulo e à sua vacina CoronaVac, e que João Doria foi fundamental nesta batalha. Houve uma sabotagem criminosa do governo federal à compra de vacinas contra a Covid-19, que causou a morte de mais de 660 mil brasileiros.
Nesse sentido, pode-se ter várias divergências políticas com João Doria, mas não é correto caracterizar o enfrentamento feito por ele ao governo federal naquela situação de tragédia sanitária e social como uma “briga irresponsável entre os dois”. Foi uma luta do país inteiro em defesa da democracia e do Brasil e Doria, goste-se ou não, participou desta luta.
As ameaças de Bolsonaro à democracia estão de volta. De novo, fala alto a necessidade de manter a frente ampla e de retomar a luta para barrar o golpismo. A mesma luta que reuniu os mais amplos setores da sociedade para barrar a primeira investida golpista de Bolsonaro, em setembro do ano passado.
O governo de São Paulo, e todos os outros, além do Supremo Tribunal Federal, da imprensa, de entidades como a OAB e a ABI, Direitos Já, as centrais sindicais, entidades estudantis, da mulheres, dos negros, etc, ajudaram muito na luta contra o fascismo no ano passado e, certamente, terão o mesmo papel agora, com a recidiva antidemocrática que se anuncia.
Essa frente pode não se expressar nas candidaturas de cada partido, federação ou coligação, mas ela pode e deve se expressar no comportamento na eleição. Concentrar as críticas nas candidaturas que reforçam o golpismo e o bolsonarismo. Os democratas têm que se entender minimamente para poder isolar o fascismo na eleição e no golpe. “Conectar” Doria, candidato do PSDB, a Bolsonaro nesta eleição em São Paulo nos parece um erro político sério.
O candidato de Bolsonaro em São Paulo chama-se Tarcísio de Freitas. É ele que deve ser derrotado. E, para se atingir esse objetivo, será necessário contar com todo o eleitorado de São Paulo, inclusive com os eleitores de João Doria.
Isso, do ponto de vista eleitoral mais geral, pois, do ponto de vista específico de Fernando Haddad, não acredito que seu staff desconsidere ou despreze o possível apoio do eleitorado de João Doria e do PSDB em um eventual segundo turno para derrotar o candidato de Bolsonaro no pleito estadual. O entendimento contrário, na linguagem popular, representaria o famoso salto alto nas eleições.
S.C.