“É conhecidíssima a relação desse mote [‘Arbeit Macht Frei’, ‘O trabalho liberta’], com a mais infame instituição do Holocausto, o campo de extermínio de Auschwitz. Ali, no seu portão de entrada, uma placa com esses dizeres transmitia a mentira de que aquele era um local de trabalho e de possível liberdade – quando se tratava da principal fábrica de mortos do nazismo”, é o que diz declaração da Confederação Israelita Brasileira, Conib, ao denunciar a referência a este odioso lema pela Secretaria de Comunicação do governo federal.
A Conib refere-se à peça publicitária da Secom que destacou os termos da frase que aparece na entrada em Auschwitz com ligeira modificação (incluindo um erro gramatical) “O trabalho, a união e a verdade nos libertará”. Nos campos de Auschwitz, que foram libertados pela forças soviéticas em 12 de janeiro de 1945, os nazistas mataram 1 milhão e 100 mil pessoas.
Prosseguindo, o presidente da Conib, Fernando Lottenberg, repudia a referência: “É lamentável ver, mais uma vez, questões caras ao judaísmo e à humanidade em geral serem banalizadas e emuladas, ofendendo a memória das vítimas e dos sobreviventes, em um momento já tão difícil do nosso país e do mundo”.
Junto à Conib, diversas outras entidades judaicas estão manifestando seu repúdio.
Destacamos a nota do Instituto Brasil-Israel, Ibi:
No início ficávamos chocados e indignados
No início ficávamos chocados e indignados. Na verdade, desde a campanha eleitoral, percebíamos referências ao nazismo, a Hitler e ao Holocausto nas bocas de futuros membros do governo brasileiro e principalmente ditas pelo próprio Jair Bolsonaro, então deputado federal.
De fato, parece que uma das primeiras referências de Jair Bolsonaro em relação à sua admiração a Hitler e ao nazismo data de uma entrevista no programa CQC. Nessa entrevista, ele disse admirar Hitler “como general” e avalia que teria entrado no exército alemão para lutar contra os inimigos.
Mas a parte mais importante da entrevista e, por isso, vale que ela seja citada apesar de ser antiga, é quando ele cita teses negacionistas, inferindo que os judeus haviam morrido em campos de concentração decorrentes de doenças e fome.
Depois disso, a coisa foi piorando. As referências de Bolsonaro ao nazismo foram se tornando mais claras.
Em 2017, na fatídica palestra do clube ‘A Hebraica’ do Rio de Janeiro, o então deputado federal, já candidato à presidência, chega a dizer que negros quilombolas eram pesados em arrobas. Um ano mais tarde, na campanha presidencial, Bolsonaro afirma, em um discurso no Rio de Janeiro, que as minorias deveriam “se adaptar ou desaparecer”.
Depois da vitória nas eleições, a coisa só se tornou mais constante e clara.
Já na primeira visita oficial a Israel, o presidente Bolsonaro volta a afirmar, ao lado do chanceler Ernesto Araújo e em frente ao Museu do Holocausto de Jerusalém que o movimento nazista teria sido de esquerda.
A afirmação causou indignação por contradizer as pesquisas do museu e por se alinhar às teses negacionistas.
Logo depois, já no Brasil, Bolsonaro, em uma fala surpreendentemente conciliatória, diz que o nazismo deveria ser “perdoado e não esquecido”. O que indignou democratas e membros da comunidade judaica.
Mas a coisa não parou por aí. Já em 2019, o público se surpreendeu com uma cena bizarra em que Roberto Alvim, recém empossado como Secretário de Cultura, incorpora o ministro da propaganda nazista Goebbels e reproduz o discurso do líder nazista adaptado-o a temas brasileiros.
Ultimamente, em tempos de pandemia, o governo Bolsonaro tem mantido referências ao nazismo e ao Holocausto.
Na semana passada, o chanceler Ernesto Araújo chegou a comparar a política de isolamento social, que serve para conter as mortes pela Covid-19, aos campos de concentração.
Como se não bastasse tudo isso, hoje a Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro produz uma peça publicitária que usa como referência a frase vista na entrada de Auschwitz, campo de extermínio nazista, de que o “trabalho liberta”.
São tantas as referências que resta pouca dúvida de que setores do governo Bolsonaro usam como referência a gramática nazista em seu ideário.
O risco é, dada a quantidade das falas, que normalizemos isso e que deixemos de nos indignar. O que não pode ser uma opção na luta contra o nazismo. Seja o nazismo do passado ou suas versões contemporâneas.
O Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil ‘Henry Sobel’ também divulgou declaração que reproduzimos:
BASTA À FASCISTIZAÇÃO DO GOVERNO BOLSONARO
O Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil “Henry Sobel” repudia a estarrecedora posição da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) do governo Jair Bolsonaro, que, em uma mensagem promocional postada em redes sociais, utilizou frase análoga ao tenebroso “Arbeit Macht Frei”, “O trabalho liberta”, lema nazista gravado sobre os portões de diversos campos de extermínio na Segunda Guerra. E conclama toda a sociedade brasileira a dizer “Basta!”, no 75º aniversário da vitória Aliada contra o nazifascismo.
Não se trata de ato isolado. O ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, perdeu o posto após copiar, em discurso, trechos proferidos pelo infame mago da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels. E o próprio presidente Jair Bolsonaro, afirmou, no início de seu mandato, que o nazismo era um movimento “de esquerda”.
Todas essas manifestações mereceram o repúdio da sociedade civil, no Brasil e no exterior. Mas elas continuam porque fazem parte da “guerra ideológica” de Bolsonaro. Trata-se de introduzir no cotidiano conceitos neonazistas, de maneira que pareçam “naturais” para a sociedade brasileira.
Em consonância com esta perversão da linguagem, apoiadores do governo repetem a todo instante, em praça pública e diante do Palácio do Planalto, seu brado pelo retorno à ditadura. Também fazem chacota com a sentida perda de milhares de pessoas atingidas pela pandemia do coronavírus, em grande medida, por conta do desleixo do Governo Federal em combatê-la.
Não importa que o titular da Secom lembre ser judeu ou que os apoiadores do presidente carreguem bandeiras de Israel em suas manifestações. O atual governo marcha para pisotear a democracia.
O Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil “Henry Sobel”, cumprindo seu papel, lembra uma máxima do Talmud: “Todo lugar só é bom para os judeus se for bom para todos os que o habitam”. E convoca a sociedade brasileira a unir-se em um “basta” à fascistização do governo Bolsonaro, em defesa da vida e da democracia.
O American Jewish Committee, Comitê Judaico Americano (AJC), se posicionou rechaçando a adoção da frase nazista pela Secom:
“O governo brasileiro adaptou frase à entrada de Auschwitz – “Arbeit Macht Frei”, “O trabalho liberta” para instar o retorno ao trabalho durante surto de Covid-19. Profundamente ofensivo”, diz nota do AJC.
NATHANIEL BRAIA
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Eu gostei muito e concordo com a opinião do texto, acho que o ato dele de falar que tem parentes judeus não isentas as ações e comentários feitos por ele.
Eu concordo com o texto, apresenta bastante fatos que levam a conclusão de que o governo atual esconde seu lado nazista, que o atual presidente da bastantes indícios sobre coisas ocorrentes na época do governo de Hitler e concordo também com o ato do Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil, na qual repudia os atos e os comentários de Bolsonaro e seus aliados