Na próxima semana, a Câmara, por meio da Comissão de Relações Exteriores, recebe o embaixador chinês Yang Wanming para tratar como atuar para auxiliar na importação de insumos para produção de vacina no Brasil
Na próxima semana — em mais um passo da Câmara (do Congresso) que vai assumindo o papel da diplomacia brasileira no combate à pandemia da Covid-19 —, a Comissão de Relações Exteriores, sob a presidência de Aécio Neves (PSDB-MG), vai realizar audiência pública na terça-feira (30), com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming.
Na pauta, o debate com a embaixada em torno de como a Casa poderá atuar para auxiliar na importação de insumos para produção de vacina no Brasil. A China é um país chave na produção mundial de vacinas, medicamentos e insumos hospitalares.
O convite feito por Aécio está no contexto da conversa entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e seu par na Assembleia Popular Nacional da China, Li Zhanshu, que é atualmente o presidente do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, principal órgão legislativo da República Popular da China.
Sem diplomacia à altura das complexas e difíceis demandas originadas e ocasionadas pela pandemia do novo coronavírus, o Congresso Nacional — Câmara dos Deputados e Senado Federal — vai ocupando esse vácuo deixado pela letargia e o negacionismo do governo Bolsonaro.
ADESISMO SUBSERVIENTE
Isto ocorreu porque o governo Bolsonaro aderiu de forma acrítica e unilateralmente aos interesses estadunidenses na região.
Com efeito, o Itamaraty, sob o chanceler Ernesto Araújo, assumiu integralmente a pauta do governo do ex-presidente Donald Trump para o mundo e agora o Brasil paga o preço dessa opção desconectada historicamente das melhores práticas da diplomacia brasileira.
Nos bastidores, os congressistas também querem tentar suavizar as celeumas envolvendo o governo de Jair Bolsonaro e os chineses.
CONDUTA ERRÁTICA DO ITAMARATY
Na reunião da última quarta-feira (24), entre chefes de poderes, ministros e governadores, Lira cobrou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e reverberou insatisfações com sua condução após ouvir reclamações de empresários e de Wanming, que disse não manter diálogo com o chanceler.
Araújo se envolveu em polêmica com Wanming no ano passado. Em novembro, o chanceler saiu em defesa do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que, nas redes sociais, havia associado o governo chinês à “espionagem” por meio da tecnologia 5G. Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro chegou a elogiar Araújo pela iniciativa.
Eduardo era até o início deste ano o presidente da Comissão de Relações Exteriores, mas seu partido, o PSL, perdeu o comando do colegiado em disputa com o PSDB. Apesar de não ser mais presidente, o filho 03 do presidente Bolsonaro ainda é membro do colegiado.
SENADO E CÂMARA NA MESMA LINHA COM A CHINA
Sob a senadora Kátia Abreu (PP-TO), atual presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Casa, em sua fala inaugural em 23 de fevereiro à frente do colegiado, lembrou que o Brasil é o país ocidental que tem o maior superávit comercial com a China.
E como a nação asiática, em seu planejamento econômico, pretende manter o alto nível de crescimento que já mostra há décadas, isso abre novas oportunidades — argumentou a senadora — para que o Brasil continue se beneficiando do desenvolvimento chinês.
“A maior parte do que exportamos hoje vai para a Ásia; a direção é a China. Entre todos os países do Ocidente, o que tem o maior superávit com a China somos nós, mais que os EEUU, mais que a Europa; nosso superávit é bem maior”, lembrou na ocasião.
“A China planeja, nos próximos 15 anos, aumentar seu PIB em alguns trilhões de dólares. O Brasil representa 4% do que a China compra. Se nós não aumentarmos nada, se mantivermos estes 4% com a China crescendo como está, teremos o equivalente a uma reforma da Previdência a cada ano a mais do que nós arrecadamos hoje”, destacou Kátia Abreu, deixando claro que uma de suas diretrizes vai ser trabalhar junto ao governo brasileiro, para ampliar acordos e contatos comerciais com a China.
M. V.