“Contra a política de guerra e medo defendida pelo presidente Ivan Duque, defendemos uma frente ampla pela paz na Colômbia que, com unidade e mobilização faça valer o que foi assinado. Os Acordos de Paz não são um compromisso de governo, mas de Estado, que estão incluídos na nossa Constituição e nas normas legislativas, não podendo ser abandonados”.
A afirmação é do secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, Jaime Caicedo, para quem “a bandeira mais importante atualmente no país é a da paz, que vem sendo duramente atacada pelo senhor Duque, do Partido Centro Democrático, de Álvaro Uribe”. “Eles se esquecem que o compromisso com a pacificação não é para uma conjuntura particular, mas para deter uma guerra civil de muitos anos, que deve ser respeitado pelos governos”, frisou.
“O compromisso com a pacificação não é para uma conjuntura particular, mas para deter uma guerra civil de muitos anos, que deve ser respeitado”
Em entrevista exclusiva, o dirigente comunista apontou que “ao tratar a paz como anomalia, buscar a não implementação do Acordo de Paz e buscar a sua retirada da Constituição, Duque age como instrumento dos interesses do capital estrangeiro e, particularmente, do imperialismo norte-americano”.
Objetivamente, acrescentou, “o governo não quer a nova realidade que saiu dos Acordos assinados em Havana, em 24 de novembro de 2016, e explicita uma profunda contradição. Aparentemente, simula o que acertou com Cuba e Noruega: o cumprimento dos planos de desenvolvimento, sua implementação nas regiões. Simula que está abrindo financiamento para a substituição de cultivos ilícitos, como a coca e a marijuana, a fim de que os camponeses possam iniciar outras plantações”. Na prática, condenou o dirigente, “continua com as erradicações forçadas, deixando o agricultor sem alternativa. Inclusive, voltou com as fumigações aéreas, a jogar glifosato, algo venenoso, proibido pela Corte Institucional da Colômbia, que agride a agroecologia e prejudica a saúde”.
VERDADE, JUSTIÇA E REPARAÇÃO
Jaime Caicedo denunciou que o governo de Duque tem buscado “regressar à estrutura antiga, se confrontando ao sistema integral de Verdade, Justiça, Reparação e não Repetição, desrespeitando o direito à vida digna dos ex-combatentes das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que hoje se constituem no partido Força Alternativa Revolucionária do Comum”.
Na prática, condenou o líder comunista, “os altos mandos militares, policiais e paramilitares ainda são os donos do poder e, mais do que não querer, buscam inviabilizar a justiça restauradora, para não serem julgados pelas violações de direitos humanos nem por seus crimes de guerra e de lesa-humanidade”. “A verdade é que os grandes criminosos não querem a justiça restauradora”, sublinhou.
Ao defender a mobilização de todas as reservas democráticas da sociedade em “respeito aos Acordos de Paz”, Caicedo reconheceu que “é preciso sanar as falhas e cumprir o que foi tratado com as vítimas e com o país, especialmente temas que vem ganhando cada vez mais peso como a reincorporação da insurgência à luta social”.
DAR UM BASTA AO TERRORISMO DE ESTADO
“A ideia de negar os Acordos de Paz não é da esquerda, não é dos revolucionários, é dos que querem voltar ao passado, ao terrorismo de Estado, à contra-insurgência anticomunista”, destacou o professor, conclamando ao conjunto da militância a pressionar para fazer valer cada conquista, relativizando derrotas momentâneas. Exemplo disso, ponderou, foi a vitória do Não ao processo de pacificação, durante o plebiscito de outubro de 2016, “por uma ínfima minoria (50,21% a 49,79%)”, que “teve por base uma campanha de fake news, hiprocrisia e mentiras, envolvendo manipulação de sentimentos pelos grandes meios de comunicação”.
“Há uma evolução, um crescente respaldo ao Acordo de Paz como solução política”
Desde então, “houve uma evolução, com um crescente respaldo ao Acordo de Paz como solução política”, avaliou o líder comunista, para quem este sentimento está cada vez mais presente atualmente, durante a campanha eleitoral, e se expressará de forma contundente nas urnas em 27 de outubro. Nesta data serão eleitos os deputados estaduais e governadores dos 32 departamentos, bem como os vereadores e prefeitos de 1099 municípios.
Embora esta campanha não coloque diretamente em xeque o governo de Duque, Caicedo disse que “representa um grande desafio, já que estaremos em um embate direto com o belicismo da extrema-direita”: “a situação é difícil para o governo, que quer se retirar dos acordos, e a maioria da população, que respalda o processo de paz”.
O veterano combatente alertou para o fato de que as eleições estão sendo realizadas “em meio a um banho de sangue”, “a um genocídio, por paramilitares, de defensores da paz e dos direitos humanos, de lideranças indígenas, mulheres e afrodescendentes”. “Está clara a intensidade da repressão e que a ação das forças do Estado não vem para salvaguardar a vida, para nos dar segurança, mas para permitir que prevaleça o interesse das grandes empresas transnacionais”, assinalou.
INSTRUMENTO DOS EUA CONTRA A VENEZUELA
Lembrando que “a paz na América Latina começa em casa” e que a Colômbia possui 2.200 quilômetros de fronteira com a Venezuela, Caicedo demonstrou como “os Estados Unidos, de forma perigosa, vêm querendo confrontar nossos países irmãos, procurando agora atribuir ao governo de Maduro a reativação das FARC, um retorno à clandestinidade”. “A insistência da aliança do governo colombiano com os EUA”, repudiou o dirigente, “mais do que gravíssima, é fatal”.
“Nós afirmamos claro o não à guerra e defendemos o respeito à autodeterminação dos povos. Fatos recentes como o incêndio na Amazônia brasileira demonstram que devemos estar cada vez mais unidos. Este é o caminho para a proteção das nossas selvas, das nossas águas e das nossas riquezas. Para a defesa da nossa democracia e da soberania”, concluiu.
LEONARDO WEXELL SEVERO