O corpo do miliciano Adriano da Nóbrega foi exumado nesta segunda-feira (12), a pedido do Ministério Público da Bahia e do Rio de Janeiro, e passará por novos exames periciais para saber as circunstâncias de sua morte, em fevereiro de 2020.
Na ocasião, o Capitão Adriano foi alvo de cerco policial no município de Esplanada (BA), a 155 quilômetros de Salvador, e acabou morto após alegado “tiroteio” com policiais. As circunstâncias da morte – devido às ligações de Adriano com o chamado Escritório do Crime – levantaram suspeitas de que a operação tenha efetuado uma “queima de arquivo”.
O Escritório do Crime tem como um de seus integrantes o ex-policial Ronnie Lessa, que está preso, acusado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Adriano também era investigado por participar do suposto esquema de desvio de salários de funcionários do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
De acordo com as investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), Adriano da Nóbrega fazia parte do alto comando da organização miliciana. A mãe do ex-policial, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça da Costa estão entre os funcionários contratados pelo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.
Logo após a morte do miliciano, Flávio Bolsonaro escreveu nas redes sociais que havia suspeita que Adriano tivesse sido torturado.
O corpo de Adriano já passou por duas necropsias indicando que o miliciano foi morto por dois tiros de fuzil, disparados a, no mínimo, um metro e meio de distância. Laudo do Instituto Médico Legal do Rio indicou ainda que ele tinha nas costelas fraturas compatíveis com tiros e não apresentava “lesões violentas” – que poderiam indicar tortura.
Adriano estava foragido desde 2019, mas vinha sendo alvo de denúncias por práticas criminosas desde 2003, quando ele e Fabrício Queiroz foram acusados pela morte de um técnico de refrigeração, em operação policial realizada em Cidade de Deus. Em 2004, Adriano da Nóbrega foi preso acusado de matar um guardador de carros, mas foi inocentado e solto dois anos depois. Posteriormente, foi processado por suspeita de participação em pelo menos mais dois homicídios, relacionados a bicheiros. Acabou expulso da Polícia Militar em 2013, mas sem condenações.
Em 2003 e 2005, Adriano da Nóbrega ainda recebeu homenagens” na Alerj, propostas por Flávio Bolsonaro. A primeira, uma moção de louvor por sua “dedicação e brilhantismo” no desempenho de suas funções. Na segunda, não pode comparecer para receber a Medalha Tiradentes, mais alta honraria concedida pela Assembleia, por estar preso.