Diante do surto de coronavírus, o epidemiologista-chefe sueco Anders Tegnell, orientou o povo a rejeitar o distanciamento preventivo e o uso de máscaras levando o país a sofrer uma das maiores taxas de mortandade do mundo. Apesar da situação crítica, Tegnell mantém sua esdrúxula orentação e acrescenta que “parece que o mundo elouqueceu”
O parlamento sueco aprovou a formação de uma comissão para investigar a resposta governamental à crise da Covid-19. Os resultados devem influir nas eleições que ocorrerão em 2022 em uma situação em que o atual governo tem a popularidade em queda exatamente por conta da condução orientada pelo epidemiologista-chefe, Anders Tegnell, que rejeitou a orientação da Organização Mundial da Saúde, OMS, de estabelecer distanciamento e isolamento preventivos como medida inicial para evitar a propagação do vírus. Escolas, restaurantes e lojas permaneceram abertas todo o tempo.
Foi a adoção da chamada busca da imunidade de rebanho quando uma alta parcela da população se contamina e acaba por desenvolver naturalmente resistência generalizada ao vírus.
O governo também propagou que, como os níveis educacional e obediência dos suecos seriam muito elevados, bastaria o governo recomendar distanciamento para que isso ocorresse.
O resultado é que a Suécia apresenta uma das maiores taxas de mortandade do mundo. 515 mortos por milhão até o dia 25, de acordo com a OMS. É mais que o dobro da taxa já atingida pelo Brasil que, apesar da mesma linha proposta aqui por Bolsonaro, teve a resistência de prefeitos e governadores. Ainda que seja um número trágico de mortos, mais de 50 mil, a taxa (242 por milhão) é menos da metade da nefasta condição da Suécia, que Bolsonaro apresentou como exemplo.
A mortandade entre os Suecos é muito maior que a dos países vizinhos, que adotaram a conduta sugerida pela OMS: Dinamarca, 110 por milhão; Finlândia, 59 e Noruega 46. Também ultrapassa o índice norte-americano que está em 363 por milhão.
Diante dessa realidade, Tegnell se defende dizendo que as restrições de movimento poderiam ter acarretado “mais violência doméstica, solidão e desemprego em massa”. O epidemiologista atribui aos demais seu comportamento distante da realidade: “Parece que o mundo enlouqueceu e a Suécia ficou bastante sozinha”.
Mas, como até para loucura há limite, Tegnell acabou admitindo erros e que “assim como toda droga tem efeitos colaterais, medidas contra a pandemia também tem efeitos negativos. Muitos aspectos precisam ser considerados”.
Tegnell também aconselhou as pessoas a não usarem mascaras, argumentando que “há pouca evidência científica de sua eficácia”.
Agora já começa a apresentar mudanças de opinião. Se no início dizia que a doença iria embora de forma tão repentina como surgiu, agora afirma: “Estou procurando avançar para uma avaliação mais séria do trabalho que fizemos até agora e não há como saber como isso vai acabar”. Ele também recuou e passou a recomendar distância entre as pessoas em locais abertos e uso de máscaras em locais fechados e meios de transporte coletivos.
IDOSOS SÃO OS MAIS ATINGIDOS
E o os mais atingidos são os idosos. 88% das mortes de coronavírus entre os suecos são de pessoas com mais de 70 anos. “É terrível ser velho na Suécia. Dizem-nos que a comunidade cuida dos idosos, mas isso é uma grande mentira. Eles não mandam os idosos para o hospital, porque haveria muitos, então os deixam morrer em suas camas, sem nenhuma ajuda”, declarou a professora de música Beirit, de 75 anos, à rádio francesa de notícias, RFI.
“Em Estocolmo, 88% dos pacientes morreram nas casas de repouso, apenas 12% foram hospitalizados. O problema remonta à década de 1990, quando começamos a analisar a relação custo-benefício de certos tratamentos para alguns grupos de pacientes. Mais idosos teriam sobrevivido se lhes fossem oferecidos cuidados hospitalares”, diz Yngve Gustafson, professor de geriatria de Umea.
Após a crise do coronavírus, a Suécia terá de enfrentar as condições de trabalho em lares de idosos, grande parte dos quais são administrados por grupos privados – mais do que em outros países escandinavos.
“O que significa buscar o lucro ao cuidar de um lar de idosos? Eu acho que vai ser um debate importante na Suécia depois da crise”, reconheceu a ministra das Finanças, Magdalena Andersson.
Uma investigação foi aberta pela Inspetoria de Saúde da Suécia sobre o trabalho em lares de idosos, bem como para apurar a seleção de pacientes em hospitais suecos.
Além de tudo isso, falhou também uma das motivações para se ter mantido o país sem as medidas necessárias de isolamento preventivo para escapar da recessão, fato que apesar da economia continuar aberta não aconteceu. Há poucas evidências de que essa decisão tenha levado algum benefício. Magdalena Andersson informou que a Suécia está enfrentando sua pior crise econômica desde a Segunda Guerra Mundial, com o PIB caindo 7% em 2020. O indicador é semelhante aos 7,5% que os especialistas preveem para a UE como um todo. E, de acordo com as últimas previsões, o desemprego se aproximará de 10%.
Grande parte do PIB do país depende de exportações, como das fábricas de veículos Volvo e Scania, que ficaram prejudicadas pela quarentena em todo o mundo. A Suécia exporta principalmente para os países nórdicos, Alemanha, Reino Unido e EUA. Mas, com a desconfiança gerada pela estratégia sueca ― que levou a Finlândia, a Dinamarca e a Noruega a considerarem o fechamento de suas fronteiras, a Suécia provocou o seu próprio aprofundamento na crise.