Lista inclui produtores de remédios comprovadamente ineficazes contra Covid-19, representante da Covaxin no Brasil e suposto membro do “gabinete paralelo” que aconselhou Bolsonaro
Os empresários Carlos Wizard, Francisco Emerson Maximiano, Renato Spallici, Renata Spallici e José Alves Filho terão seus sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário quebrados pela CPI da Covid no Senado, com aprovação, nesta quarta-feira (16), dos requerimentos nessa direção.
A propósito, o bilionário bolsonarista Carlos Wizard é o depoente da CPI desta quinta-feira (17). Segundo informações que circulam publicamente, ele ainda não respondeu à convocação da comissão. Há indícios, portanto, que o empresário não compareça para depor. Caso isso ocorra, ele vai ser novamente convocado e conduzido coercitivamente à CPI.
Com a decisão, a CPI busca avançar nas investigações sobre a propagação de remédios que, apesar de comprovadamente ineficazes para o coronavírus, foram distribuídos à população e defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro e seus auxiliares.
Os senadores também querem apurar sobre a aquisição de vacinas Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.
Em depoimento à CPI da Covid, o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, já declarou que os medicamentos do chamado “kit Covid” também não têm eficácia comprovada para prevenir a doença.
OS ALVOS
Carlos Wizard chegou a ser citado publicamente como “colaborador” do Ministério da Saúde, em junho do ano passado, e é apontado como um dos supostos integrantes do “gabinete paralelo” que aconselhava Jair Bolsonaro a defender drogas sem eficácia contra Covid-19 no “combate” à pandemia.
Na última quinta-feira (10), a CPI já havia aprovado a quebra dos sigilos telefônico e telemático de Wizard. No caso dele, nesta quarta-feira, foram adicionados os sigilos bancário e fiscal — a CPI quer saber se o empresário ajudou a financiar a disseminação de mentiras sobre a doença.
Renato e Renata Spallici são, respectivamente, presidente e diretora da empresa Apsen Farmacêutica. O laboratório produz cloroquina, remédio comprovadamente ineficaz para a Covid-19.
Francisco Maximiano é sócio da Precisa Medicamentos, representante brasileira do laboratório indiano Bharat Biotech — que desenvolveu a vacina Covaxin, encomendada pelo governo Jair Bolsonaro em março e aprovada com restrições pela Anvisa no início do mês.
José Alves Filho é sócio-administrador do laboratório Vitamedic, em Anápolis (GO), que em abril foi proibido pela Anvisa de fabricar, distribuir e vender vários medicamentos — entre esses a ivermectina, comprovadamente ineficaz no tratamento da Covid-19.
Um dos autores dos pedidos de quebra de sigilo é o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O senador afirmou que a medida é necessária para a apuração pela CPI de eventual enriquecimento ilícito das farmacêuticas fabricantes de medicamentos do chamado “Kit Covid”, comprovadamente ineficaz contra a doença.
CONVOCAÇÕES
Nesta quarta-feira, os senadores também aprovaram a convocação de:
• representante, com nome a ser definido, da farmacêutica Janssen;
• deputados estaduais do Amazonas Péricles Rodrigues do Nascimento e Fausto Junior, presidente e relator da CPI da Saúde, que apura sobre desvios de recursos públicos no enfrentamento à Covid-19; e
• Francisco Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos, também alvo da quebra de sigilo.
A comissão, por outro lado, rejeitou a convocação de Carlos Eduardo Gabas, secretário Executivo do Consórcio do Nordeste.
A oitiva de Gabas, que foi ministro durante o governo Dilma Rousseff, era um dos principais pedidos de senadores aliados ao governo. No requerimento para ouvir Gabas, eles sustentavam a necessidade de apurar sobre a suposta fraude na compra de ventiladores pulmonares para a Covid. O pedido foi derrotado por 6 votos a 4.
SIGILOS RETIRADOS
Também nesta quarta-feira, a CPI decidiu retirar o sigilo de documentos enviados à comissão pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), pelo Ministério da Saúde e pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
A comissão já recebeu centenas de documentos que ficam guardados em sala-cofre, entre esses, telegramas sigilosos do Itamaraty e documentos da CGU (Controladoria-Geral da União) sobre investigações.
Os senadores decidiram pela quebra do sigilo de alguns documentos, pois entenderam que há “interesse público” em dados sobre negociações de vacinas e insumos para pandemia. A medida também atingiu informações encaminhadas por fornecedoras de oxigênio, como a empresa Air Liquide.
Com a reclassificação aprovada pela comissão, os documentos, antes tratados como confidenciais, passaram a ser públicos. Há a exceção em alguns casos, como contratos entre empresas e o governo brasileiro, cuja proteção das cláusulas será mantida em sigilo.
M. V.
Com informações do portal G1