As novas convocações são originárias de apurações, a partir de oitivas de testemunhas que até então depuseram no âmbito do inquérito. É o caso do chamado “gabinete paralelo” de assessoramento do presidente
Nesta quarta-feira (26), a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado que apura as ações, omissões e inações do governo federal no combate à pandemia da Covid-19 se debruçou sobre a votação de vários requerimentos de convocações para novas oitivas ao longo das próximas semanas.
Nesta semana, a CPI completa 30 dias de trabalhos. Foi instalada em 27 de abril. Em princípio, serão 90 dias de funcionamento podendo o prazo ser prorrogado conforme novo requerimento nessa direção.
Está na mira da CPI, a existência de possível estrutura extraoficial de assessoramento ao presidente da República, Jair Bolsonaro, no combate à pandemia, que levou à convocação do ex-assessor da Presidência da República, Arthur Weintraub, e do empresário Carlos Wizard Martins.
Weintraub foi convocado a partir de pedidos apresentados pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Humberto Costa (PT-PE).
Reportagem e “live” nas redes sociais apontam que Weintraub coordenou o grupo de aconselhamento a Bolsonaro, sendo importante sua oitiva como testemunha, segundo Humberto Costa.
A convocação de Wizard atendeu requerimento apresentado por Alessandro Vieira. “Wizard poderá ajudar a esclarecer os detalhes de um “ministério paralelo da saúde”, responsável pelo aconselhamento extraoficial do governo federal com relação às medidas de enfrentamento da pandemia, incluindo a sugestão de utilização de medicamentos sem eficácia comprovada e o apoio a teorias como a da imunidade de rebanho”, segundo o senador.
“CONSELHEIRO INFORMAL”
Em depoimento à CPI, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que também foi reconvocado nesta quarta, confirmou ter sido aconselhado por Wizard e disse que chegou a oferecer-lhe cargo no ministério.
Outro que vai ser ouvido pela CPI é assessor especial para assuntos internacionais do presidente da República, Filipe Martins, cuja convocação para depor a partir de requerimento de Vieira e Costa, para falar sobre a atuação dele na consecução de vacinas e insumos para o Brasil.
Ele foi citado pelo presidente regional da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, por ter participado de reunião no Planalto, comandada pelo ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten, com representantes da empresa estadunidense.
Filipe Martins é o mesmo que fez um gesto racista nas costas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), durante audiência do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na Casa.
ESCLARECIMENTOS SOBRE A PUBLICIDADE DO MS
Os integrantes da CPI aprovaram ainda a convocação do ex-marqueteiro do ministério na gestão Pazuello, Marcos Erald Arnoud. Conhecido como “Markinhos Show”, ele se define como “master coach e hipnólogo”.
Segundo o senador Alessandro Vieira, é preciso esclarecer as questões de publicidade e comunicação oficial da pasta relativas a distanciamento social, vacinação, emprego de medicamentos sem eficácia comprovada, entre outros.
Foram aprovadas ainda a convocação do ex-assessor especial no Ministério da Saúde, Airton Antônio Soligo; da médica nomeada como secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 no ministério, Luana Araújo, que deixou o cargo 10 dias após ser anunciada, e do diretor executivo de Negócios da White Martins — principal fornecedora de oxigênio medicinal para o Estado do Amazonas —, Paulo César Gomes Baraúna.
“Em janeiro de 2021, a empresa enfrentou um cenário de crise sem precedentes devido à escalada no número de casos de Covid-19 em Manaus, o que sobrecarregou as unidades de saúde e resultou na falta de oxigênio medicinal em hospitais públicos e privados. A convocação será de importância singular para que exponha sua atuação e seus conhecimentos sobre os fatos relacionados”, disse o senador Marcos Rogério (DEM-RO), autor do requerimento de convocação. Também apresentaram o mesmo pedido os senadores Alessandro Vieira, Eduardo Girão (Podemos-CE) e Eduardo Braga (MDB-AM).
INDEFERIMENTOS
Marcos Rogério pediu a aprovação do requerimento de convocação do pastor Silas Malafaia, que segundo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) seria alguém que o pai dele, o presidente Jair Bolsonaro, ouve com regularidade.
Está claro que a citação do nome de Malafaia, o histriônico líder evangélico, e sua possível convocação tinha o objetivo de tirar o foco das investigações. Se o nome dele fosse relevante não teria sido citado pelo filho do presidente. Afinal, como diz o ditado popular, “cobras não se picam”. Aziz acertou ao indeferir o requerimento, pois Malafaia queria palanque e holofotes.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), indeferiu o pedido ao dizer que Flávio Bolsonaro falou de conselhos espirituais que dão força a Bolsonaro para enfrentar problemas.
“Não creio, até pelo conhecimento que temos do pastor Silas Malafaia, que fizesse qualquer ingerência dentro do governo”, acrescentou Aziz.
Aziz negou ainda pedido de Girão para votar a convocação do secretário-executivo do Consórcio Nordeste, Carlos Gabas, e a do governador da Bahia, Rui Costa (PT), ex-presidente do colegiado.
M. V.