Na hora da acareação, senador fujão aparece dançando num programa de televisão de Manaus
O Ministério Público Federal do Rio de Janeiro decidiu encaminhar ao procurador-geral da República, Augusto Aras, uma representação contra o senador Flávio Bolsonaro por ele não ter comparecido à acareação com o empresário Paulo Marinho, marcada para a última segunda-feira (21).
O procurador responsável pelas investigações argumenta que houve crime de desobediência por parte do parlamentar.
O filho do presidente teria que prestar esclarecimentos sobre a denúncia, feita por Paulo Marinho, de que ele [Flávio] foi avisado antes sobre a deflagração da Operação Furna da Onça, da Polícia Federal.
Segundo o promotor, Eduardo Benones (MPF-RJ), o senador teve a intenção de não comparecer à acareação com Paulo Marinho, na segunda-feira para não esclarecer a denúncia. No mesmo horário, Flávio Bolsonaro debochava da Justiça divulgando imagens dançando num programa de TV em Manaus.
Ao chegar para a acareação, Marinho disse: “com certeza alguém mentiu, né? E não fui eu”.
Ele conta que Flávio Bolsonaro o procurou no final de 2018, quando ele ainda era aliado de seu pai, dizendo que um delegado da Polícia Federal o informou sobre a operação e pediu ajuda. Neste momento, Flávio foi orientado a afastar Queiroz de seu gabinete e a filha dele do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.
Assista ao vídeo que mostra o motivo da ausência de Flávio na acareação
Flávio Bolsonaro já havia tentado escapar antes. Em 3 de setembro, ele apresentou a seguinte justificativa: “que a data de 21/09/2020, com comparecimento presencial, na sede do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, seria temerária em razão de o requerente ter contraído infecção pelo Sars-CoV-2; em virtude da prerrogativa prevista no artigo 221 do Código de Processo Penal para os senadores, estaria impedido de tomar parte na acareação, a fim de que a saúde dos circunstantes fosse resguardada”.
Só que, em 6 de setembro, 14 dias antes da acareação, Flávio Bolsonaro anunciou em redes sociais que estava curado da Covid-19, doença transmitida pelo novo coronavírus. O procurador recusou o pedido e justificou: “Admitir a não realização de ato investigatório futuro sob a mera alegação de impossibilidade de comparecimento por motivo de saúde não contemporânea seria perfilhar a prevaricação”. Desta vez ele nem comunicou que não compareceria. O procurador declarou que só ficou sabendo da ausência uma hora antes da acareação.
Motivo da acareação
Paulo Marinho informou aos investigadores que foi o próprio senador que o procurou para contar sobre o episódio do vazamento da operação depois que o caso veio à tona em dezembro de 2018. Na ocasião, ele estava acompanhado de Victor Granado Alves, então assessor de Flávio. O senador diz que Paulo Marinho está mentindo. A acareação foi o meio adotado pelo MP para saber quem está mentindo.
Marinho contou detalhes da reunião ocorrida no dia 13 de dezembro de 2018, na casa do empresário. Ele reproduziu o que ouviu de Victor Granado sobre a dinâmica para receber informações vazadas de um delegado da PF. Disse que a primeira tentativa se deu por telefone para Miguel Ângelo Braga. Flávio, então, escolheu três pessoas que trabalharam com ele para pegar a informação com o delegado da PF: Victor Granado, amigo de Flávio; Valdenice Meliga, ex-assessora; e o próprio Miguel Ângelo Braga, seu atual chefe de gabinete.
“O Braga fala com o Flávio, o Flavio designa então que o Braga, o Victor e a Val fossem ao encontro dessa pessoa para saber do que se tratava. E aí fizeram contato e marcaram um encontro na porta da Polícia Federal. Este delegado disse aos três ou disse ao Braga: ‘Vocês, quando chegarem, me telefonem que eu vou sair de dentro da Superintendência, até para você ver que sou um policial que estou lá dentro, e lá fora a gente conversa’”, afirmou Marinho.
O empresário disse que Victor, então, conta que o delegado antecipou a Operação Furna da Onça. E vazou outra informação: que a operação não seria deflagrada no mês da eleição de 2018 para não atrapalhar Bolsonaro.
“E aí esse delegado disse a eles: ‘Essa operação vai alcançar o Queiroz e a filha dele. Estão no seu gabinete e no gabinete do seu pai. Tem movimentação bancária e financeira suspeita. E nós estamos aqui… eu estou… eu sou simpatizante do seu pai, do Bolsonaro, e vamos tentar não fazer essa operação agora entre o primeiro e o segundo turno para não criar nenhum embaraço durante a campanha’“, relatou Marinho.
“Como disse que a operação não iria acontecer para não criar nenhuma dificuldade, eventualmente, pela narrativa que a operação ia trazer, pela presença do Queiroz e da filha”, acrescentou o empresário. “Porque logo após o encontro, Queiroz e filha são demitidos, tá certo? Então, Flávio deve ter informado ao pai, e o pai, imediatamente, mandou demitir”, completou Marinho.
Em outro momento, o empresário contou que Victor Granado, amigo de Flávio, relatou que obrigou Fabrício Queiroz a passar as senhas do banco após saber que ele seria mencionado na Operação Furna da Onça.
“Aí o Victor começou o relato. Disse: ‘Olha, eu ontem estive com o Queiroz e eu obriguei o Queiroz a me repassar todas as senhas das contas bancárias dele, e eu passei essa madrugada toda entrando nas contas do Queiroz e os montantes que eu descobri, informei agora de manhã para o Flavio, são muito superiores a esses que a imprensa está noticiando. Inclusive, porque esses se referem a anos anteriores a esses que a imprensa está noticiando’”, disse Marinho.