Operação da PF que prendeu miliciano nesta segunda foi realizada com base na delação de Élcio de Queiroz que confessou participação na morte de Marielle
O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou nesta segunda-feira (24) que o ex-PM Élcio de Queiroz firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal e confessou sua participação em conjunto com Ronnie Lessa no assassinato da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.
Segundo o ministro, a delação embasou a Operação da PF realizada também nesta segunda que prendeu o miliciano Maxwell Simões Corrêa, o Suel, pela sua participação no crime, encerrando assim a primeira fase das investigações. “A investigação não está concluída, [a delação] permite um novo patamar de investigação, a dos mandantes”, disse o ministro.
O ex-PM Élcio de Queiroz confirmou sua participação como motorista no crime e apontou o colega, Ronnie Lessa, como autor dos tiros que assassinaram a vereadora.
“Nessa delação premiada ele confirma a sua própria participação, confirma a participação de Ronnie Lessa e traz os elementos colhidos em relação ao senhor Maxwell. Temos outros aspectos que constam dessa delação e derivados das buscas e apreensões ocorridas hoje. É claro portanto que teremos desdobramentos”, afirmou Dino.
Segundo o ministro, “há uma espécie de mudança de patamar da investigação. Se conclui a investigação sobre a execução e há elementos para um novo patamar, a identificação dos mandantes. Nas próximas semanas provavelmente haverá novas operações derivadas das provas colhidas hoje”.
“Esse evento de enorme importância, a ocorrência da delação premiada, com a confirmação de outros personagens, da dinâmica do crime, dos executores, permitirá esse caminho, que nós temos a convicção, a esperança – como é o nome da operação – que conduzirá aos mandantes”, frisou.
Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, Rio de Janeiro. O carro em que estavam foi atingido por 13 disparos. A vereadora foi seguida desde a Lapa, no centro do Rio, onde participava de um encontro político. A arma usada no crime foi uma submetralhadora HK MP5 de fabricação alemã.
Élcio Queiroz está preso preventivamente desde 2019, assim como Ronnie Lessa. Os dois aguardam julgamento do júri popular. Em setembro de 2022, a Justiça do Rio de Janeiro rejeitou um recurso da defesa deles e manteve as prisões. Queiroz e Lessa são réus por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima), tentativa de homicídio e receptação.
MAXWELL
A operação desta segunda-feira prendeu o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa no Rio. ‘Suel’, como é conhecido, já havia sido preso em 2020, acusado de ter se desfeito do carro usado na execução, mas respondia em liberdade. Segundo a PF, Suel participou de ações de “vigilância e acompanhamento” de Marielle antes do assassinato, segundo as investigações, desde agosto de 2017, cerca de 6 meses antes do crime, o bombeiro já vigiava a vereadora.
Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, o miliciano era também o dono do carro usado para esconder as armas que estavam em um apartamento de Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos.
“Ele participou de ações de vigilância, acompanhamento e também apoio logístico aos demais atores dessa cadeia criminosa que foi percorrida. Ele teve um papel importante nesse contexto”, afirmou o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.
Além de Suel, a delação de Élcio Queiroz teria apontado outros participantes, que ainda não foram revelados.
Ainda segundo Dino, não há dúvidas da participação da milícia no homicídio. “Há a participação de outras pessoas, isso é indiscutível. [As investigações] Indicam a atuação das milícias e do crime organizado”, confirmou.
“Não existe crime perfeito. Quando o crime tem muitos anos, é claro que a investigação é mais complexa, mas os aspectos mostram que estamos próximos da elucidação. É um evento de enorme importância o que aconteceu hoje. O que é importante destacar é essa união entre as polícias federais, o Ministério Público e o Poder Judiciário e assegurar às famílias e à sociedade que a investigação está produzindo resultados. É uma resposta que o Estado brasileiro dá às famílias”, concluiu o ministro Flávio Dino.
O sigilo de parte da investigação foi retirado, informou o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues e com isso, mais detalhes serão divulgados em breve.
O ministro não detalhou a data exata da delação, nem o que foi acordado em troca das revelações. Disse apenas que os termos estão sob sigilo, mas que, mesmo com a colaboração, o ex-PM permanecerá preso.