![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Bruno-calandrini.jpg)
O delegado da Polícia Federal (PF), Bruno Callandrini, responsável pelas investigações sobre os esquemas de corrupção no Ministério da Educação, disse que estão havendo interferências de superiores para “obstaculizar” a apuração e que o ex-ministro Milton Ribeiro recebeu “honrarias não existentes na lei” quando esteve preso.
Segundo o delegado Callandrini, “a investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro”.
A decisão judicial que permitiu a prisão preventiva do ex-ministro de Bolsonaro exigiu sua transferência para Brasília, mas isso não aconteceu. A direção da PF alegou risco de segurança e restrição orçamentária para manter Milton Ribeiro em São Paulo.
“O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional”, denunciou o delegado responsável.
“Falei isso ao chefe do CINQ [Coordenação de Inquérito nos Tribunais Superiores, da Polícia Federal] ontem, após saber que, por decisão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília e manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada” por ter sido ignorada a decisão judicial.
O delegado enfatizou que o ex-ministro Milton Ribeiro “foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem a Brasília”.
A mensagem de Bruno Callandrini foi enviada aos demais agentes da PF envolvidos na Operação Acesso Pago.
A prisão preventiva e a transferência para Brasília foram determinadas pelo juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal do Distrito Federal.
A defesa de Milton Ribeiro tentou reverter, pela Justiça, a decisão de transferência, o que foi negado. Em seguida, a PF decidiu, de cima para baixo, não realizar o translado.
Callandrini está investigando o “gabinete paralelo” que foi flagrado no Ministério da Educação. Milton Ribeiro, por um “pedido especial” de Jair Bolsonaro, privilegiou os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura na transferência de verbas da Educação para cidades que tinham pago propina.
Milton Ribeiro está sendo investigado por corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência. Depois que o escândalo veio a público, Jair Bolsonaro falou que colocaria “a cara no fogo” por seu ministro.
A PF divulgou uma nota dizendo que, pelos “boatos de possível interferência” nas investigações, “foi determinada a instauração de um procedimento apuratório”.
DESEMBARGADOR BELLO
As prisões preventivas aconteceram na quarta-feira (22). Na quinta, o juiz federal Ney Bello, do TRF-1, revogou a decisão anterior e soltou os investigados.
Esse juiz faz parte de uma lista quádrupla para ser indicado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Segundo delegado Alexandre Saraiva, Ney Bello é o mesmo “desembargador que proferiu decisão para devolver a madeira, da maior apreensão de madeira ilegal da história”.
Saraiva era à época superintendente da PF no Amazonas e acusou o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de interferir no caso e obstruir a investigação.
Leia na íntegra a mensagem do delegado da PF aos seus colegas:
Muito obrigado a todos pelo empenho na execução da Operação Acesso Pago.
A investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro.
Vejo a operação policial como investigação na essencia e o momento de ouro na produção da informação/prova.
O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional.
Falei isso ao Chefe do CINQ ontem, após saber que, por decidão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília, e, manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton à Brasília à revelia da decisão judicial.
As equipes de Gyn, Brasília, Belém e Santos, que cumpriram a missão de ontem, trabalharam com obstinação nas ruas e no suporte operacional, um trabalho hercúleo para o cumprimento dos mandados durante a Operação Acesso Pago, literalmente se esforçaram 24/7 e foram aguerridos em capturar todos os alvos. Faço referência especial às equipes de GYN que, mesmo após a prisão, ainda escoltaram os presos via terrestre, para a SR/PF/DF, incontinenti.
No entanto, o principal alvo, em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem à Brasília,
Quantos presos de Santos, até ontem, foram levados para a carceragem da SR/PF/SP?
É o que tinha a manifestar em lealdade a vocês que cumpriram a missão de ontem com o espírito do verdadeiro policial federal.
Abraço.