O deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO) confirmou que o governo Bolsonaro ofereceu e pagou até R$ 20 milhões em emendas do orçamento secreto para cada parlamentar que votasse a favor da reforma da Previdência, da PEC dos Precatórios ou da eleição do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Waldir disse, durante entrevista ao UOL, que os valores entregues aos deputados variavam de acordo com “o relacionamento do parlamentar, do tamanho da bancada, da importância da votação e da necessidade de virar o voto do governo federal”.
“Para formar as maiorias nas votações em que é necessário, o governo utiliza a RP-9”, que é o nome das emendas de relator. “Se você entender que isso é compra de votos…”.
“A gente ouviu falar de R$ 5 milhões, de R$ 15 milhões” para cada deputado, continuou.
Delegado Waldir relatou que existe uma “casta” de deputados e senadores próximos do governo Bolsonaro e de Arthur Lira que recebem mais emendas do “orçamento secreto”. “O orçamento foi sequestrado”, pontuou.
Ele afirmou que “é imoral poucos parlamentares controlarem” e pede transparência na distribuição de recursos.
“São 40 parlamentares que recebem valores exorbitantes e alguns recebem muito pouco, têm que ficar mendigando. Eu não fui eleito para ficar mendigando recursos para o Estado de Goiás ou para os municípios”.
Em 2019, quando era líder do PSL na Câmara, Waldir participou das “negociações” para a aprovação da reforma da Previdência. Segundo seu relato, o governo Bolsonaro usou o então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o ex-ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e o senador Flávio Bolsonaro para oferecer emendas e comprar votos dos deputados.
“Na época nós tivemos reuniões com ele onde foi mencionado os valores [a serem] pagos a cada parlamentar para a reforma da Previdência. No caso, era R$ 20 milhões e os líderes receberiam o dobro do valor”.
Ainda assim, o governo Bolsonaro não pagava as emendas para os parlamentares com quem tinha problemas ou divergências.
“Eu fui o único líder que não recebeu o valor por conta da divergência em que o Eduardo não conseguiu indicação para assumir a embaixada nos Estados Unidos e o presidente decidiu dar a liderança do PSL de presente pra ele”, relatou Waldir.
Na entrevista, Delegado Waldir contou que a negociação de valores é feita entre Arthur Lira e o governo Bolsonaro com os partidos. Aos deputados, individualmente, “chega a informação de que se você votar favorável terá direito a um recurso extra”.
O deputado federal comentou que esse mecanismo usado pelo governo Bolsonaro para comprar apoio no Congresso Nacional faz com que a chance de um impeachment seja “zero”. “A entrega da chave do cofre do governo federal impede qualquer movimento nesse sentido. Vai continuar na gaveta”.
Delegado Waldir acredita que Jair Bolsonaro errou em muitos pontos durante seu governo e que está esperando a decisão de seu partido, o PSL, que se fundiu com o DEM para formar o União Brasil, para ver se apoiará Sergio Moro ou Bolsonaro em 2022.
“Acho que o governo está errando na economia, errou no combate à corrupção, errou em não indicar Sergio Moro para o STF e errou no combate à pandemia”, disse.
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