Ex-secretário de Comunicação Social do governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, vai depor como suspeito de ter feito lobby pela vacina da Pfizer, na quarta-feira (12). O ministro da Saúde vai ser reconvocado porque causou “grande decepção” ao não ter enfrentado o negacionismo de Bolsonaro
Por fora, publicamente, o governo demonstra relativa tranquilidade em relação à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), no Senado, que investiga as ações, inações e omissões do governo federal em relação ao combate à pandemia de Covid-19. Mas é só fachada.
Para perceber isso basta ficar atento às movimentações do presidente Jair Bolsonaro e ver como ele está mais histriônico, agressivo e chamando mais atenção para si. É a tática para tirar o foco do que de fato interessa. É o que escreve o jornalista Ricardo Noblat, no blog dele, agora no portal Metrópoles.
“É tal a irritação do general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa Civil, com o publicitário Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo, que a ele só se refere como ‘idiota, imbecil’. Mesmo assim, quando de bom humor. De mal então…”, escreveu Noblat.
MIROU NO QUE VIU E ACERTOU NO QUE NÃO VIU
O chefe da Casa Civil, ainda segundo Noblat, “não perdoa o ex-secretário por ter concedido uma barulhenta entrevista à VEJA na qual criticou o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, e quis parecer mais importante do que foi no combate à pandemia da Covid-19.”
A entrevista concedida por Wajngarten à semanária publicada em 22 de abril chamou à atenção para o ex-secretário e acendeu a “luz amarela”, tanto para o publicitário, que era da “cozinha” do presidente da República, quanto para Pazuello, que deu um “tiro no pé” por ter faltado ao depoimento que iria conceder à CPI, na semana passada. A ausência, sob desculpa esfarrapada, ele justificou que havia mantido contato com coronéis auxiliares e precisava entrar em quarentena.
“O comando da CPI que investiga os erros do governo está convencido de que Wajngarten quis faturar alguns milhões de reais como lobista da vacina da Pfizer. É justamente por isso que o convocou para depor nesta quarta-feira”, acrescentou Noblat.
“GRANDE DECEPÇÃO”
Outro que está enrascado na CPI é o ministro da Saúde Marcelo Queiroga. Ele depôs no colegiado na última quinta-feira (6) e causou “grande decepção” à maioria dos senadores que compõe a investigação.
“Grande decepção” foi como o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), classificou em entrevista, no domingo (9), o depoimento do ministro. Queiroga se esquivou o tempo todo de declarar sua posição sobre o uso da cloroquina em pacientes com Covid-19.
Segundo Aziz, Queiroga “com certeza” será reconvocado para falar mais uma vez à CPI, diante das contradições expostas entre a política do governo Bolsonaro na pandemia e as diretrizes do Ministério da Saúde.
Questionado diversas vezes sobre o uso da cloroquina durante o depoimento, o ministro respondeu que não poderia se pronunciar porque a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) ainda está avaliando e elaborando o protocolo de tratamento da Covid-19.
NÃO FALOU A VERDADE
Essa postura irritou os integrantes da CPI, especialmente a cúpula do colegiado. No sábado (8), o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que Queiroga investiu numa estratégia de não responder às perguntas dos senadores objetivamente e, portanto, de não “falar a verdade”.
Essa frustração foi endossada pelo presidente da CPI. “Agora, o Queiroga foi uma grande decepção, ele como médico cardiologista. Quando a gente perguntava se ele era a favor da cloroquina — e ele não citava a palavra cloroquina, falava em ‘fármacos’ —, ele jogava para a Conitec”, comentou Aziz em entrevista ao historiador Marco Antonio Villa, divulgada neste domingo no Youtube.
Para o presidente da CPI, esse pretexto usado por Queiroga foi para “não magoar o chefe” e indica que o ministro é contra o uso da cloroquina em pacientes com Covid-19, medicamento que não tem eficácia comprovada contra a doença.
Isso demostra que o presidente Jair Bolsonaro, com negacionismo extremado, prejudica que o governo dê combate efetivo e objetivo à pandemia, pois seus auxiliares não podem questioná-lo, ainda que sigam outros procedimentos mais adequados para reduzir a curva de contágio do vírus, cuja segunda onda devasta o país.
NÃO HÁ PLANEJAMENTO
Para Aziz, no entanto, um ponto em comum nos depoimentos dos três médicos é que nenhum apresentou ter um “planejamento” para enfrentar a pandemia.
“Nenhum deles tem planejamento, ainda estão todos ‘batendo cabeça’ em relação à Covid depois de 1 ano”, avaliou o presidente da comissão. Apesar de lembrar que Mandetta levou à CPI a carta em que alertou o presidente sobre a gravidade da pandemia, Aziz disse que o ex-ministro também não conseguiu dizer à comissão qual foi o planejamento implementado por ele enquanto foi titular da Saúde.
“Qual era o planejamento de testagem, de barreira sanitária, de comportamento? Era tudo incipiente, mas não havia ali um planejamento, ele não deixa nada planejado como ministro”, criticou o senador.
O presidente da CPI ainda avaliou que não é uma maioria, mas, sim, uma minoria no Brasil que defende o uso de medicações com eficácia não comprovada em pacientes infectados pelo novo coronavírus. “Parece que é uma maioria, e não é uma maioria. Eles têm um poder de mídias sociais muito grande”, disse o senador.
M. V.