“A situação, que já estava muito grave, passou para gravíssima”, declarou Tasso Jereissati (PSDB). “Está presente um claro crime de prevaricação”, acrescentou Omar Aziz (PSD), sobre as denúncias dos irmãos Miranda
Logo após inquirir o deputado Luis Miranda (DEM-DF), a senadora Simone Tebet (MDB-MS) disse que os fatos demonstram claramente que houve prevaricação por parte do presidente da República. “É óbvia a prevaricação”, disse a senadora, que conseguiu extrair do deputado a confirmação de que Bolsonaro sabia do esquema de corrupção e quem era o responsável por operar o esquema.
Para o presidente nacional do PSD, o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não há como o governo federal impedir o aprofundamento das investigações desse escândalo. “Diante dos fatos apresentados, não há pressão governista que possa impedir a CPI de ir a fundo nessa questão. Caso contrário, será o desgaste de seus integrantes e o fim da própria CPI”, disse Gilberto Kassab.
Antes mesmo das confirmações do envolvimento de Bolsonaro nos esquema direto de corrupção, outros líderes do chamado centro político já vinham detectando o aprofundamento do processo de rejeição pública ao nome do presidente. A situação piorou com o depoimento dos irmãos Miranda na sexta-feira (25). Luis Ricardo Miranda, servidor de carreira do Ministério da Saúde revelou com provas que haviam grupos no órgão com a intenção de desviar R$ 225 milhões da compra da vacina Covaxin para um paraíso fiscal. O deputado Luis Miranda disse que o presidente sabia de tudo.
O servidor e seu irmão, o deputado Luis Miranda, mostraram aos senadores que Bolsonaro sabia do esquema e que o presidente tinha até citado o nome do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), como responsável pelo esquema criminoso. Os dois depoentes contaram detalhes da conversa com o presidente. Disseram que Bolsonaro havia prometido levar o caso à direção-geral da Polícia Federal, mas o que ocorreu na verdade é que o governo não só não fez nada do que havia prometido como abriu uma verdadeira caça aos denunciantes. Até ameaça pública foi feita na véspera do depoimento pelo secretário da Presidência, Onyx Lorenzoni.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), integrante da CPI, foi categórico em sua avaliação do escândalo. “A situação, que já estava muito grave, passou para gravíssima”, declarou o parlamentar cearense, em entrevista à revista Crusoé. “Se fosse apenas uma negligência ou pensamento diferente, no caso da imunidade de rebanho, entre outros, já seria muito grave pelas consequências que geraram, como a morte de mais de 500 mil pessoas no país, acrescentou o líder do PSDB.
“Se essas condições todas ficarem provadas e chegarmos à conclusão que houve interesse escuso por trás da compra das vacinas indianas, e os indícios já são fortes, pode chegar a um desfecho traumático”, avaliou. “A gente sabe hoje por informações, documentos e vídeos que o presidente tinha alguma interferência nos erros e omissões durante a condução da pandemia”, destacou Tasso. “Agora, o que vemos com certeza é um procedimento ilegal. E com o conhecimento do presidente, o que torna o episódio mais grave ainda”, prosseguiu.
“Todo governante costuma dizer ‘eu não sabia’, ‘aconteceu à minha revelia’, mas esse caso andou com tanta rapidez que a desconfiança de corrupção chegou direto à pessoa do presidente da República. Sem dúvida, se isso tudo ficar comprovado, é o caso de medidas extremas”, arrematou o parlamentar do PSDB.
O governo Jair Bolsonaro assinou a toque de caixa um contrato de R$ 1,61 bilhão para a compra da vacina indiana Covaxin, sem atender a tempo a um conjunto de dez recomendações feitas pela consultoria jurídica do Ministério da Saúde, formada por integrantes da AGU (Advocacia-Geral da União). O servidor que agora está sendo perseguido pelo governo, inclusive sendo, neste domingo, boqueado no acesso aos sistema de informações do Ministério da Saúde, foi o responsável por impedir que a negociata se consumasse.
Para a oposição, se antes já eram graves as omissões e a sabotagem de Bolsonaro à luta contra a pandemia, esses fatos revelados agora podem ser um combustível inflamável para o início do processo de impeachment. Afinal, como disse o presidente da CPI, senador Omar Aziz, “está presente um claro crime de prevaricação”. Para lideranças de partidos de centro, independentemente da concretude das denúncias, as suspeitas turbinam o processo de derretimento de Bolsonaro.