Michael McCaul, chefe do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos EUA, confirmou que o Egito avisou as autoridades israelenses sobre o ataque iminente
Resta a pergunta que não quer calar: negligência de Netanyahu ou intencionalidade de deixar acontecer o pior para tentar, no desespero, garantir sua sobrevida atiçando e levando o país ao confronto?
Três dias antes do ataque em grande escala do Hamas a Israel, as autoridades egípcias alertaram os seus homólogos israelenses de que tal operação era iminente, revelou o presidente do Comitê de Relações Externas da Câmara dos EUA, deputado Michael McCaul, a jornalistas na quarta-feira (11).
“Sabemos que o Egito alertou os israelenses três dias antes de que um evento como este poderia acontecer”, disse McCaul, após uma reunião de inteligência a portas fechadas no Capitólio. “Não quero entrar muito em assuntos confidenciais, mas um aviso foi dado”, continuou. Segundo ele, a questão agora é “em que nível”.
Assim, Washington está confirmando a informação, divulgada pela Associated Press há dois dias, de que as autoridades israelenses ignoraram os repetidos avisos do Cairo de que o Hamas estava planejando “algo grande”. O relato da AP não especificou há quanto tempo esses avisos haviam sido feitos.
Netanyahu, claro, jura que não soube de nada, apesar de ter conseguido um governo de unidade nacional, quando antes estava na marca do pênalti, por causa das manifestações contra sua corrupção, agressão ao judiciário e conivência com o supremacismo de Gvir e assemelhados, cujo projeto é o apartheid total e a anexação.
Como se sabe, nada funcionou, em termos militares, durante vinte e quatro horas no lado israelense, e o Domo de Ferro foi obliterado por uma chuva de mísseis e drones. Os milicianos do Hamas tomaram uma base militar e sete assentamentos no entorno de Gaza e acertaram foguetes até em Tel Aviv.
O ataque surpresa de sábado também foi visto como um fracasso catastrófico para os serviços de inteligência de Israel, que anteriormente se acreditava terem olhos e ouvidos em toda Gaza.
Segundo as agências de notícias, até quarta-feira mais de 1.200 israelenses morreram e 3.200 ficaram feridos e pelo menos 1.100 palestinos mortos e mais de 5.300 feridos. Israel anunciou um “cerco total” a Gaza e, segundo seu ministério da “Defesa”, estão abolidas as convenções de Genebra durante a “operação”. Um blogueiro russo, Boris Rezhin, comentou: Israel prepara em Gaza um remake do Gueto de Varsóvia.
UMA PERGUNTA INDISCRETA
Ao mesmo tempo, é de se esperar que, se o Cairo avisou Israel, também haja dado a dica para Washington; não iriam cometer tal desfeita.
Pouco depois de McCaul ter falado aos repórteres em Washington, um responsável egípcio disse sob anonimato ao Times of Israel que os agentes do Cairo alertaram os seus homólogos israelitas sobre um planejado ataque do Hamas, mas que este aviso poderia não ter chegado ao gabinete de Netanyahu.
Netanyahu, contra quem tem havido as maiores manifestações em décadas”, exigindo sua renúncia e condenação por corrupção, além de repúdio a seu braço direito Gvir, nega peremptoriamente ter sido notificado dos planos do Hamas antes do ataque.
Em Moscou, a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, questionou “como é que, apesar das suas enormes capacidades de inteligência, os Estados Unidos não alertaram o seu aliado mais próximo, Israel, de uma operação planeada”, já que foi oficialmente declarado que o Hamas estava preparando o ataque há um ano. “Você acha que talvez os EUA não soubessem? Acho que ninguém tem dúvidas.”
Ela observou, ainda, que, dado o grande número de cidadãos norte-americanos no país, Israel é uma “área de responsabilidade direta” dos Estados Unidos, não apenas uma “relação entre aliados”. Para Zakharova, Washington recusa-se a responder à questão principal de saber se os EUA tinham conhecimento dos planos do Hamas. A pergunta simplesmente permanece sem resposta. “Eles fazem tudo o que podem para bloquear as perguntas.”
Poder-se-ia supor – ela acrescentou – que este é o maior fracasso dos serviços secretos dos EUA. Há apenas um senão: “ninguém nos EUA foi despedido por este motivo. Nem uma única pessoa. E ninguém está sequer mencionando isso. E por quê? Acho que essa é a chave de toda a história. É impossível que eles não soubessem de nada com antecedência”.