A cidade de Maceió vive um drama desde fevereiro de 2018, quando milhares de moradores tiveram que deixar suas casas depois que tremores de terra começaram a provocar rachaduras nas construções e ameaçar a vida da população com desabamentos. A causa do problema, porém, não está ligada à ação da natureza, mas à extração de sal-gema durante décadas pela mineradora Braskem.
Denunciando a situação que vem ocorrendo na capital alagoana, o cineasta ativista Carlos Pronzato lançou no último dia 5 de agosto o documentário “A Braskem passou por aqui: A catástrofe de Maceió”, que retrata o drama das vítimas deste crime ambiental e social que já expulsou mais de 65 mil moradores de suas residências e de seus bairros e deixou mais de 15 mil residências destruídas em 250 hectares. O documentário denuncia, ainda, a ausência de ações dos poderes executivo e legislativo municipal, estadual e federal frente ao problema.
Em maio de 2019, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) divulgou um laudo concluindo que a principal causa para o surgimento das rachaduras nos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro é atividade da Braskem na região para extração de sal-gema, um tipo de cloreto de sódio utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC. O estudo da CPRM constatou que o terremoto de 2018 que assustou os moradores foi provocado por três fissuras criadas pela mineração na região, ao longo de quatro décadas, com 1,5 km cada, sem a fiscalização das autoridades públicas.
No documentário, Pronzato conta o quanto se impressionou ao ver inúmeros imóveis desocupados. “É impactante ver as rachaduras. É impressionante. Conseguimos driblar os tapumes para entrar nos imóveis. Não conseguimos entrar nas minas. É impressionante. E a noite piora, porque não conseguimos fazer entrevistas”, disse Carlos.
Não seria de se estranhar que ao mostrar a imagens aéreas dos bairros fantasmas, presente no documentário, que o espectador confundisse com um cenário de guerra em algum lugar do Afeganistão ou em outro país vítima das guerras e invasões imperialistas.
“Durante os percursos encontramos uma cidade perdida. Apenas da compensação da Braskem, os moradores perdem sua história. Teve gente que nasceu no local e perdeu tudo, é muito triste. Isso por causa da negligência de uma empresa, pois tinham tudo para prever a tragédia. Nunca tinha visto algo do tipo”, afirmou o cineasta.
Sobre o cineasta
Carlos Pronzato, escritor, cineasta, teatrólogo e ativista, nasceu na Argentina no final da década de 50 e mora no Brasil há mais de 30 anos. Iniciou sua carreira de cineasta em 99 e, desde lá, possui uma longa lista de filmes e documentários que exploram, dentre outros, situações e dramas brasileiros.
Dentre seus trabalhos estão os documentários “Piñera: La guerra contra Chile”, que retrata os protestos de 2019 do povo chileno contra as políticas neoliberais do presidente Sebastián Piñera; e “Padre Júlio Lancelotti, fé e rebeldia”, que mostra o trabalho desenvolvido pelo padre junto às pessoas em situação de vulnerabilidade social.
O cineasta possui um histórico de importantes distinções, entre elas o prêmio do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, em 2008; o “Roberto Rossellini” (2008), na Itália; e em 2017, o prêmio Liberdade de Imprensa pelo jornal Tribuna da Imprensa Sindical, no Rio de Janeiro.
Para Pronzato, os documentários representam um espaço de memória e resistência sociais. “É exatamente esse o seu papel principal. Trazer à tona experiências de confronto com o capital, orgânicas ou não, com maior ou menor relevo popular, mas com contundente incidência histórica nos movimentos reivindicatórios e revolucionários posteriores”, definiu o cineasta em entrevista ao Brasil de Fato, publicada em 2020.
Abaixo o documentário “A Braskem passou por aqui: A catástrofe de Maceió” na íntegra: