Em uma pesquisa do Datafolha, divulgada no último domingo, 22, um total de 51% dos brasileiros afirmam ter mais medo da polícia do que confiança. Entre os que disseram confiar mais na polícia do que temê-la, a percentagem é de 46% dos entrevistados.
Os números divulgados pelo Datafolha apontam também que cerca de 63% da população afirma ter conhecimento sobre os casos de violência policial em São Paulo. Dentre estes, 34% responderam estar bem informados sobre o tema, 25%, mais ou menos informados, e 4%, mal-informados. Por outro lado, 37% dos entrevistados declarou não ter conhecimento acerca dos casos. Na faixa etária entre 16 a 24 anos, o índice sobe para 56%.
Dentre as pessoas que conhecem os casos mais recentes de violência policial na região, 55% afirmaram ter mais medo que confiança na instituição, e 42%, mais confiança que medo.
O estado de São Paulo enfrenta uma crise na segurança pública, com aumento de casos brutais e sequenciais de violência policial registrados nas últimas semanas.
Em um deles, um soldado foi filmado jogando um homem em um córrego em Cidade Ademar, na zona sul da capital paulista. Em outro, um estudante de medicina foi morto com um tiro disparado por um PM dentro de um hotel na Vila Mariana, também na zona sul.
Em outro episódio, um soldado, que estava de folga, matou um rapaz de 26 anos com 11 tiros no Jardim Prudência, na zona sul. Ele foi atingido ao tentar fugir com produtos de limpeza furtados de um mercado.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse durante entrevista coletiva, em novembro, que o estado tem uma excelente polícia. “Infelizmente, há desvios de conduta que serão severamente punidos. Não vamos passar pano em nada. Tolerância zero de desvio de conduta”.
ALERTA
O pesquisador Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmou que o resultado do levantamento deve servir de alerta para os agentes de segurança mudarem sua forma de atuação.
A pesquisa ainda mostra que os índices negativos não apresentam grande disparidade entre gêneros. No grupo de mulheres entrevistadas, o temor é de 56%, contra 52% entre homens. No entanto, a diferença racial é evidente: são 59% entre pessoas pretas, e 45% entre brancos.
De acordo com Carolina Diniz, coordenadora de enfrentamento à violência institucional da Conectas Direitos Humanos, os homens, geralmente, são os principais alvos da violência policial, mas são elas que cuidam dessas vítimas. “São as mulheres que sofrem essa violência, que não sabem se os filhos vão voltar para casa.”
Entre os que apontam maior confiança do que medo, as taxas são mais altas entre homens (52%, contra 40% das mulheres), moradores da região Sul (57%), brancos (53%, em comparação aos 38% entre os pretos), e os eleitores de Bolsonaro no 2º turno da eleição presidencial de 2022 (58%, ante 38% entre os eleitores de Lula). As margens de erro nesses segmentos variam de três a seis pontos.
Entre os dias 12 e 13 de dezembro deste ano, o instituto entrevistou 2.002 pessoas de 16 anos ou mais. A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.
O resultado é semelhante ao da última pesquisa em que a pergunta foi feita aos entrevistados, em abril de 2019. Na época, o Brasil era comandado por Jair Bolsonaro (PL). No ano, 51% afirmaram ter mais medo, enquanto 47% tinham mais confiança.