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Segundo a Defesa Civil do Paraná, concessionária privada Arteris Litoral Sul sabia dos riscos na BR-376, em Guaratuba
O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil do Paraná estimam ao menos 30 desaparecidos no deslizamento na BR-376, em Guaratuba, no litoral do Paraná na noite de segunda-feira (28). Até esta quarta (3), duas pessoas foram encontradas mortas e seis resgatadas com vida. Pelo menos seis carretas e dez carros foram arrastados pela lama, mas não se sabe quantas pessoas estavam em cada veículo.
A avaliação foi divulgada pelo comandante dos Bombeiros, coronel Manoel Vasco, em coletiva no Centro de Operações da Secretaria de Segurança Pública, em Curitiba (PR), nesta quarta-feira (30/11).
“Estamos trabalhando com a hipótese de ter entre 30 e 50 pessoas. Essa é a maior dificuldade, saber quantas pessoas estavam no interior dos veículos”, afirmou o oficial. O Corpo de Bombeiros também descartou a informação de que um ônibus estivesse entre os veículos soterrados.
Segundo a Defesa Civil do Paraná, a concessionária Arteris Litoral Sul sabia dos riscos na BR-376, em Guaratuba.
“É uma área de bastante vulnerabilidade técnica e necessita obras de contenção disso aí. Tanto que a concessionária estava fazendo obras, trabalhando nesse local, prevendo e sabendo desse risco”, explicou o coronel Fernando Raimundo Schuning.
De acordo com o coronel, em coletiva de imprensa nesta terça-feira (29), a Arteris, que administra a pista, sabia que o volume de chuva apresentava riscos para o tráfego na pista e que tinha conhecimento do perigo que isso representava.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirmou em entrevista coletiva nesta quarta-feira (30) que cabia à concessionária Arteris Litoral Sul, a responsabilidade pela liberação de tráfego na BR.
“Quem tem todo um inventário da rodovia, em relação a obras, a tudo que é feito na própria pista, como galerias, para garantir a segurança, é o órgão rodoviário responsável. Nesse caso, há uma concessão pública”, afirmou Antônio Paim, superintendente da PRF.
“Essa condição, principalmente, numa serra, é uma condição muito dinâmica. Então, essa questão é uma questão própria da concessionária avaliar e agir de acordo com os levantamentos e até o histórico de ações que se tem nos locais”, destacou Paim.
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DESLIZAMENTO
O deslizamento arrastou cerca de 21 veículos e duas mortes foram confirmadas nesta terça-feira pela Polícia Rodoviária Federal. Houve dois deslizamentos na BR-376 – um por volta das 15h30, quando a rodovia ficou interditada, e outro quatro horas depois, com o trânsito liberado em meia pista. Foi neste momento em que os veículos foram levados pela enxurrada.
De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) não há pluviômetro monitorado pelo órgão ou pela Agência Nacional de Águas (ANA) na pista, mas o equipamento mais próximo, pouco abaixo do local do deslizamento, administrado pela ANA, apontava volume acumulado de 247 milímetros de chuva apenas na segunda-feira. No entanto, a concessionária nada fez para tentar evitar a tragédia.
No acumulado das últimas 72 horas, foram 355 milímetros. O Cemaden afirmou que vigora um alerta de risco para a região desde o domingo (27).
MONITORAMENTO
Ao portal g1 nesta terça-feira, especialistas defenderam que é necessário um maior monitoramento de áreas propensas a deslizamentos no Paraná, especialmente no litoral, onde com frequência, costumam ocorrer deslizamentos.
O geólogo e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Renato Eugênio de Lima, que realiza estudos na área, afirma que esta avaliação frequente auxilia na prevenção de desastres.
“Difícil uma avaliação sem ter analisado o local, mas rodovias em regiões de montanha sempre exigem um monitoramento frequente para poder perceber e antecipar situações que possam evoluir para um deslizamento”, explicou Lima.
“[…] Estas áreas estão sempre sujeitas a deslizamentos, especialmente nas ocasiões de chuvas intensas. […] Nesse tipo de situação é necessário bastante cuidado e atenção”, continuou o especialista.
Para Eduardo Salamini, também geógrafo e professor da UFPR, as mudanças climáticas têm sido profundas, causando precipitações intensas e muitas vezes, imprevisíveis. Por isso, é necessário que o estado forme uma equipe especializada para elaborar um mapa de risco geotécnico.
“Esse tipo de mapa é uma espécie de exame, de análise do terreno. Quando você faz essa análise, você consegue visualizar locais mais propensos ou menos para deslizamentos”, explica. “[…] Não houve neste caso um erro na avaliação, em curto prazo, mas deve ser feito monitoramento de longo prazo, para que as decisões, que precisam ser imediatas nessas situações, sejam tomadas com mais precisão”, analisa.
“Serra do mar sempre foi um local de possíveis riscos, tem muros de contenção e deveriam ser avaliados novos. As mudanças dos padrões climáticos têm sido intensas, as decisões de mapa de risco, monitoramento também precisam ser mais rápidas”, continuou o professor.
A Arteris S/A administra 3.200 quilômetros de vias nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná, por onde trafega o maior volume de cargas entre alguns dos mais importantes eixos econômicos do País.
O governador Ratinho Junior estabeleceu, na manhã de terça-feira, a criação de um gabinete de crise para concentrar a tomada de decisões e atendimento às vítimas dos deslizamentos de terra na BR-376 e nas demais rodovias do Paraná, causados pelas chuvas intensas que atingem o Estado ao longo do mês.
O governador também divulgou dois telefones de atendimentos para familiares das vítimas do deslizamento. Os contatos são 0800-282-8082 (Centro Integrado de Comando e Controle) e (41) 3363-7242 (Polícia Científica).