Entidades do movimento negro, sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais foram às ruas nesse 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, em protesto contra o racismo, contra o desemprego, a fome e em repúdio ao governo Bolsonaro.
Em São Paulo, o dia de protestos começou com a lavagem da Estátua de Zumbi dos Palmares, na praça Antônio Prado, no centro de São Paulo. A atividade foi organizada pelos movimentos sociais e pelas baianas da escola de samba Vai-Vai.
À tarde, os manifestantes se reuniram em frente ao MASP, na Avenida Paulista, para a tradicional Marcha da Consciência Negra. O ato ocupou três quarteirões da Avenida, com faixas, cartazes e apresentações culturais.
Alfredo Oliveira, presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB), ressaltou que “estivemos presente em todas as Marchas dos últimos anos. A diferença hoje é que temos um fascista no poder. Um negacionista, um governo que deixou 610 mil pessoas perderem suas vidas porque foi um governo que não fez nada. Estamos hoje com mais de 14 milhões de brasileiros desempregados e se contar o trabalho precário são 40 milhões. Fora os mais de 30 milhões de lares na absoluta miséria. E numa crise como essa, a maioria dos brasileiros que passa fome é formada por negros e negras. Tem aumentado a população de rua a olhos vistos, tudo devido a essa política do governo, que está destruindo o nosso país. Nossa atuação, nossa força é para acabar com esse governo”, afirmou Alfredo.
Para Edson França, vice-presidente nacional da Unegro, “a luta contra o racismo está conectada com a luta política. E hoje há um movimento no Brasil pelo ‘Fora Bolsonaro’ e o Movimento Negro também integra essa campanha. Esse 20 de Novembro tem o ‘Fora Bolsonaro’, mas sem prejuízos às bandeiras antirracistas. Bolsonaro é um presidente assumidamente racista, fascista, responsável pelo maior genocídio que estamos tendo no Brasil. As mais de 600 mil mortes pela Covid-19, sabendo que eram evitáveis, é uma obra política do Bolsonaro. Ele sabia que seriam os pobres, os trabalhadores, os negros e negras, os mais atingidos. Sabia que seríamos os últimos da vila da vacina. Sabia que tínhamos dificuldade de fazer o isolamento como foi orientado à população. Quanto mais frouxo, quando mais sacana fosse, mais pretos morreriam. Bolsonaro é um governo da morte”, afirmou França.
BOLSONARO RACISTA
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), presente no protesto, afirmou que “esse ato mostra que o movimento político organizado, o movimento popular, sindical, os partidos, não podem abandonar a rua. A oposição a Bolsonaro tem que ser feita no parlamento e nas ruas também. E o ato de hoje cumpre esse papel. Precisamos romper também com a sub-representação que os negros têm hoje no parlamento. Num país como o Brasil, temos apenas 21 deputados negros entre 513. Isso mostra o limite que tem a democracia no Brasil”.
Para o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), o ato de hoje “foi marcado com o símbolo de luta e resistência do povo negro. Em todo o Brasil gritamos ‘Fora Bolsonaro racista’ porque sabemos que esse governo menospreza e desvaloriza a história do povo negro e sua importância para a construção desse país”.
Adilson Araújo, presidente da CTB, ressaltou a importância da mobilização no Dia da Consciência Negra como movimento de força e unidade do movimento negro, dos trabalhadores e movimentos sociais contra a política desemprego praticada por Bolsonaro.
Para Ubiraci Dantas, vice-presidente da CTB, “para acabar com o racismo é preciso combater esse governo que aí está. Um governo que quer acabar com a democracia, quer implementar uma ditatura e colocar o Brasil como colônia do capital financeiro internacional, particularmente dos EUA. É muito importante unir o movimento negro, unir o conjunto dos democratas do Brasil numa frente ampla contra Bolsonaro e construir um outro caminho para o Brasil”.
ESTUDANTES
Os estudantes também marcaram forte presença no ato da Paulista. Lucca Gidra, diretor da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), destacou que a juventude negra é a que mais sofre com a política de fome e de antieducação do governo Bolsonaro. “Não à toa o que estamos vendo são estudantes desmaiando de fome nas salas de aula. Estamos enfrentando também o desafio da evasão escolar. Muitos estudantes estão deixando a escola, estão perdendo o interesse em estudar e muitos foram procurar emprego, fruto da crise econômica. Estudante tem que estar na escola! E por isso, qualquer pauta hoje passa pelo ‘Fora Bolsonaro’”.
A preocupação da permanência dos alunos nas universidades também foi apontada pela presidente da UNE, Bruna Brelaz. “O dia de hoje é um dia de afirmação de bandeiras históricas do Movimento Negro, que durante toda a história do Brasil constituiu importante luta contra o racismo estrutural e em defesa da dignidade do povo negro. E hoje estamos vendo como essencial para a juventude negra a renovação das cotas raciais, que completa agora dez anos desde sua implementação, e as políticas de assistência estudantil. Infelizmente são os estudantes negros que não estão conseguindo se manter nas faculdades”, alerta Bruna.
Rozana Barroso, presidente da União Brasileira dos Estudantes do Brasil (UBES), declarou que “os estudantes estão nas ruas contra o racismo, mas essa é uma luta diária. E hoje os estudantes também ocupam as ruas para dizer ‘Fora Bolsonaro racista’, e dizer que nós não aceitamos esse governo que tem os negros como principal alvo. Os negros jovens são os que não estão comendo, não estão estudando, somos a juventude que não está trabalhando e isso tudo porque Bolsonaro é um racista e inimigo do povo”, afirmou.
Reportagem: RODRIGO LUCAS PAULO e JÚLIA CRUZ
MANIFESTAÇÕES PELO PAÍS
Além de São Paulo, também foram realizadas manifestações em Salvador, com a tradicional Lavagem da Estátua de Zumbi, que chega a sua 13ª edição este ano. A manifestação começou logo cedo, com uma roda de capoeira.
No Rio de Janeiro, o ato também teve início em frente ao monumento de Zumbi dos Palmares. “Estamos celebrando a vida e a liberdade. A vida porque essa pandemia ceifou tantas vidas nossas, que, nós, que ainda estamos vivos, temos que celebrar a memória deles que já foram. E a liberdade temos que celebrar sempre, ainda mais num momento em que vemos tantas injustiças, tantos jovens sendo presos, por reconhecimentos absurdos por fotos”, disse o presidente do Conselho Estadual de Direitos do Negro (Cedine), Luiz Eduardo de Oliveira, conhecido como Negrogun.
Em União dos Palmares (Alagoas), os manifestantes fizeram uma caminhada de aproximadamente 10 quilômetros para chegar ao topo do Quilombo dos Palmares. Os participantes levavam faixas e cartazes sob a palavra de ordem: “Na terra de Dandara e Zumbi, genocida não se cria”.
Em Goiânia também houve manifestação na Praça Universitária com caminhada em passeata pela Rua 10, desceram a Avenida Anhanguera e terminaram o protesto na Praça do Bandeirante.
No Pará, houve manifestação em Belém. Nos protestos, faixas e palavras de ordem contra o racismo, a fome, contra a reforma administrativa do governo federal.
Também ocorreram protestos em Porto Alegre, Cuiabá, Campo Grande, Londrina e Guarapuava, no Paraná.