Bachelet denuncia que no Brasil as pessoas negras têm 62% mais de probabilidade de morrer por Covid-19 que as pessoas brancas
A forma em que a pandemia de Covid-19 está afetando as comunidades, e “o desproporcionado impacto que está tendo nas minorias raciais e étnicas, incluídas as pessoas afro-descendentes, têm exposto desigualdades alarmantes em nossas sociedades”, assinalou a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, na sexta-feira, 5.
“Os dados nos falam de um impacto devastador do Covid-19 nas pessoas afro-descendentes, assim como nas minorias étnicas em alguns países, como Brasil, França, Reino Unido e os Estados Unidos. Em muitos outros lugares podem estar se gerando padrões similares, mas não podemos dizê-lo com certeza porque que os dados por raça e origem étnico simplesmente não se recopilam ou informam”, disse.
Nos Estados Unidos a taxa de mortalidade por Covid-19 para as pessoas negras é mais do dobro que a de outros grupos raciais. Da mesma forma, os dados do governo da Inglaterra e de Gales apontam que a taxa de mortalidade das pessoas negras, paquistanesas e bengalis é quase o dobro que a das pessoas brancas, inclusive quando se leva em conta a classe e alguns fatores de saúde, ressaltou.
No Brasil, em São Paulo, Bachelet apontou que as pessoas negras têm 62% mais de probabilidade de morrer por Covid-19 que as pessoas brancas. No departamento francês de Seine Saint-Denis, onde moram muitas minorias raciais, também se informou de maior mortandade.
“O impacto terrível do COVID-19 nas minorias raciais e étnicas se discute muito, mas o que está menos claro é quanto está se fazendo para tratá-lo. Os Estados devem tomar medidas urgentes, como priorizar a monitoração e a testagem, aumentar o acesso à atenção médica e proporcionar informação específica para estas comunidades”, enfatizou.
A desigualdade econômica, a superlotação nas moradias, os riscos ambientais, a disponibilidade limitada de atenção médica e uma atenção precária podem desempenhar um papel importante, sublinhou, lembrando que as pessoas de minorias raciais e étnicas também se encontram em maior número em alguns trabalhos que representam um risco maior, como os setores de transporte, saúde e limpeza.
“Os Estados não só necessitam focar-se no impacto atual destas disparidades nos setores e comunidades que enfrentam discriminação racial, mas também nas suas causas subjacentes. Este vírus está expondo desigualdades endêmicas que têm sido ignoradas por muito tempo”, frisou.
E constatou que “nos Estados Unidos, os protestos provocados pelo assassinato de George Floyd destacam não só a violência policial contra as pessoas negras, como também as desigualdades na saúde, a educação e o emprego, assim como a discriminação racial endêmica”.