Diante do risco de colapso do Sistema de Saúde, todo o estado foi inserido na fase vermelha do Plano São Paulo, com fechamento de comércio e serviços não essenciais até 19 de março. Escolas permanecem abertas
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), fez duras críticas a Bolsonaro por sua incompetência e negacionismo diante da pandemia de Covid-19, que já matou 257,5 mil brasileiros. Ele apontou Bolsonaro como o responsável pelas mortes na pandemia. “A culpa é sua, por ser, além de incompetente, negacionista. O senhor é um pária no Brasil e um pária no mundo”, disse.
As declarações foram dadas durante entrevista no Palácio dos Bandeirantes, na tarde desta quarta-feira (3), quando anunciou que todo o Estado voltará para a fase vermelha do Plano São Paulo a partir deste sábado (6).
Logo no início da coletiva, Doria se mostrou indignado com Bolsonaro e voltou a criticar a postura “negacionista” do presidente, inclusive agora, no momento mais grave da pandemia Covid-19 no país.
“Há 41 dias, o Brasil tem mais de 1.000 mortes por dia. É como se cinco aviões caíssem todo dia matando todos seus ocupantes. Isso não é normal. Isso não é banal. Não é ‘gripezinha’. É uma tragédia que pode ser ainda pior se não tomarmos medidas. Não podemos banalizar a morte”, afirmou Doria.
“Vamos enfrentar as duas piores semanas da pandemia desde o início, em fevereiro do ano passado. Essa é a triste realidade de um país comandando por um negacionista, que não tem Ministério da Saúde”, declarou o governador de São Paulo.
Nesta terça, o Estado de São Paulo registrou o maior número de mortes por Covid-19 em 24 h desde o início da pandemia, com 468 novos óbitos, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde. Com os novos registros, o estado chegou a 60.014 mortes provocadas pela doença.
A média estadual de ocupação de leitos de UTI COVID-19 chegou a 75,3% na última terça, sendo 76,7% na Grande São Paulo. O total de pacientes internados em estado grave em chegou a 7.415, com média diária de cem novas internações em todas as regiões de São Paulo nos últimos dez dias.
“Isso é algo que jamais vimos. Ainda ontem tivemos o maior número de mortes da história da pandemia em nosso estado, foram 461 pacientes que perderam suas vidas em apenas um dia”, declarou o Secretário de Estado de Saúde, Jean Gorinchteyn.
O governador paulista lamentou as mortes no Brasil e cobrou a defesa da vida e da ciência por Bolsonaro. “Muitos dos brasileiros que estão enterrados neste momento estão enterrados porque o senhor não teve capacidade de fazer aquilo que deveria fazer: liderar o Brasil contra a pandemia, defender a vida e a saúde dos brasileiros”, criticou Doria referindo-se ainda a Bolsonaro como o “mito da mentira, das inverdades, da incompetência, da displicência”.
Segundo ele, a tragédia é marcada pela “falta de coordenação, liderança, hombridade, seriedade e responsabilidade. É uma tragédia ter um presidente negacionista, que despreza a vida, que ofende a existência. Triste Brasil que tem que suportar alguém com esse comportamento”.
O governador ainda negou que as críticas direcionadas ao presidente visam às eleições presidenciais de 2022: “Não é hora de tratar de eleição, é hora de proteger vidas da nação. Isso que deve ser prioridade e isso que meus colegas governadores estão fazendo neste momento”.
“Não pauto a minha vida em popularidade ou necessidades eleitorais. Eu pauto a minha vida pela existência e pelo respeito às pessoas. Isso que me trouxe à vida pública. Não vivo as benesses do poder, não usufruo. A mim importa a credibilidade de alguém que, enquanto governador, lutou pela vida. Não tenho medo e ameaças que tenho recebidos nos últimos meses”, acrescentou Doria.
Doria também fez referência à compra de uma mansão em Brasília pelo filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). “Não disputo eleições para extrair vantagens pessoais, comprar imóveis, fazer ‘rachadinhas’ ou para proteger filhos. Fui eleito na decência e no respeito à democracia para proteger o que há de sagrado na Constituição e na vida. Enquanto for governador, vou me posicionar dessa maneira”, afirmou.
Estado retorna à Fase Vermelha
“Estamos, em São Paulo e no Brasil, à beira de um colapso. [A situação] exige medidas coletivas e urgentes. Por este motivo, nós estamos atendendo à recomendação do Centro de Contingência e reclassificando todo o estado de SP para a fase vermelha a partir da 0h de sábado”, disse Doria.
A fase vermelha autoriza apenas o funcionamento de setores da saúde, transporte, imprensa, estabelecimentos como padarias, mercados, farmácias e postos de combustíveis, além de escolas e atividades religiosas, que foram incluídas na lista de serviços essenciais por meio de decretos estaduais, mas funcionam com capacidade reduzida.
“As escolas das redes públicas estadual e municipal e da rede privada vão continuar abertas, e vão atender os alunos. Exatamente como estava previsto”, completou o governador.
Segundo o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, as escolas ficarão abertas para atender às famílias que precisarem e quiserem que os filhos frequentem as unidades.
“Não temos obrigatoriedade neste momento, e isto é importante. Com clareza: A escola está aberta para quem precisa. Para as famílias que conseguem acompanhar a educação à distância, que têm condições de o filho fazer a distância, permaneça a distância, na escola pública ou privada”, defendeu Rossieli.
“Mas, para aqueles que realmente precisam é fundamental que a escola esteja aberta”, sentenciou.
Shoppings, academias, restaurantes, bares e comércios não podem funcionar.
No anúncio desta quarta, a gestão Doria também antecipou para as 20h o início do chamado “toque de restrição”.
“Há uma medida complementar que é o toque de restrição a partir das 20h. Então, quem não precisa circular, precisa ficar em casa entre 20h e 5h da manhã. Os serviços essenciais podem funcionar”, afirmou a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen.
Para reduzir a pressão nos hospitais, o Governo de São Paulo vai abrir 500 leitos em março, com 339 em UTIs e 161 em enfermarias. Até o dia 31, serão 8.839 vagas de UTI nos SUS em todo o estado – antes da pandemia, eram 3,5 mil leitos.
“Isso representa um aumento de 152,5% no total de leitos disponíveis. Só assim poderemos continuar a dar assistência e suporte à vida, mas precisamos muito do apoio de toda a população”
O que pode funcionar na fase vermelha?
• Escolas e universidades
• Hospitais, clínicas, farmácias, dentistas e estabelecimentos de saúde animal (veterinários)
• Supermercados, hipermercados, açougues e padarias, lojas de suplemento, feiras livres
• Delivery e drive-thru para bares, lanchonetes e restaurantes: permitido serviços de entrega
• Cadeia de abastecimento e logística, produção agropecuária e agroindústria, transportadoras, armazéns, postos de combustíveis e lojas de materiais de construção
• Empresas de locação de veículos, oficinas de veículos, transporte público coletivo, táxis, aplicativos de transporte, serviços de entrega e estacionamentos
• Serviços de segurança pública e privada
• Construção civil e indústria
• Meios de comunicação, empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens
• Outros serviços: igrejas e estabelecimentos religiosos, lavanderias, serviços de limpeza, hotéis, manutenção e zeladoria, serviços bancários (incluindo lotéricas), serviços de call center, assistência técnica e bancas de jornais.