Líderes políticos, parlamentares, jornalistas renomados e ativistas pelas liberdades de informação e de imprensa denunciaram em Londres a criminosa perseguição a Julian Assange, jornalista fundador do WikiLeaks
O chamado “Tribunal de Belmarsh”, processo de julgamento popular que defende o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e denuncia os Estados Unidos por crimes de guerra, se reuniu em Londres nesta sexta-feira (22) para reiterar a necessidade de sua imediata libertação.
“O que vemos aqui é um assassinato”, sintetizou Edward Snowden, ex-técnico da CIA, responsável por ter divulgado a maior filtragem de documentos secretos da história da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA). “Para onde quer que olhemos, do Afeganistão à economia, da pandemia à vigilância onipresente, o óbvio se tornou indescritível”, afirmou Snowden, frisando que falar de tais coisas colocaria qualquer um na mesma categoria de Julian Assange. Seria rotulado como “criminoso político”, acusado “pela transgressão de eleger um lado equivocado”, esclareceu. “Se queremos libertar o mundo, temos que libertar Assange”, concluiu Snowden, orador do processo que durou mais de duas horas e meia.
“Se permanecermos imóveis e permitirmos que Julian Assange seja perseguido desta forma, não tenha dúvidas sobre isso, as liberdades fundamentais que pensávamos estar garantidas ao longo dos séculos no Reino Unido e em outros lugares, estarão em risco”, defendeu John McDonnell, um membro do Parlamento britânico do Partido Trabalhista.
O ex-ministro das finanças grego, Yannif Varoufakis, afirmou que “o Tribunal de Belmarsh é uma contribuição séria para a justiça internacional na medida em que continuamos não a pedir simplesmente a libertação de Julian Assange, o que é claro que fazemos, mas na medida em que continuamos a perseguir e processar os assassinos que estão agindo em nome de um por cento de um por cento”.
Asilado desde 2012 na Embaixada do Equador em Londres durante o goveno do presidente Rafael Correa, Assange teve seu exílio cassado e foi entregue pelo governo de Lenin Moreno à Scotland Yard em abril de 2019. Na próxima semana, Tribunal de Londres irá julgar o recurso impetrado por Washington por ter perdido sua demanda de extraditar Assange. O que estará em jogo na próxima semana é se Assange será libertado na Inglaterra ou entregue aos Estados Unidos, onde é acusado – de forma fraudulenta – por espionagem por ter exposto os crimes de guerra praticados pelo Pentágono no Iraque e no Afeganistão. Pelo crime de espionagem, nos EUA, poderia pegar 170 anos de prisão.
Participaram do evento várias figuras públicas de todo o mundo, como lideranças políticas, ativistas e jornalistas, que denunciaram a brutal perseguição política com o intuito de calar Assange e silenciar os que põem em xeque a lógica intervencionista de Washington.
“Assange é o primeiro denunciante desses crimes. Portanto, ele pagou um preço muito alto por sua determinação em expor a verdade”, declarou Tariq Ali, membro do Tribunal Russell-Sartre, argumentando que os repórteres podem publicar todas as informações de interesse público e proteger suas fontes, se necessário.
Para John Rees, organizador da campanha contra a extradição do fundador do WikiLeaks, “Julian Assange está com toda a razão porque o Estado mais poderoso da Terra se encontra fundamentalmente equivocado, tratando de criminalizar os que dizem a verdade, enquanto os governos dos EUA e do Reino Unido mentem”.
Segundo Jeremy Corbin, ex-líder trabalhista britânico, “caso estivesse em qualquer outro país, Assange seria considerado um herói, mas como está expondo o que os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido fizeram é tratado como vilão”.
De acordo com o editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Harfnsson, “as recentes revelações mostram de forma inequívoca o elemento político nas acusações contra Assange”. “Temos todas as organizações de direitos humanos e pelas liberdades cívicas de qualquer relevância no planeta somando forças, pressionando a Biden e a sua administração para abandonar o caso”, enfatizou.
Fizeram uso da palavra, denunciando as “práticas encobertas” contra a soberania dos povos, Daniel Ellsberg, mundialmente conhecido por ter divulgado em 1971 os Papéis do Pentágono, que expunham os crimes dos EUA no Vietnã e as mentiras sobre a guerra – hoje com 90 anos – e a especialista em Inteligência, Annie Machon, ex-oficial do Serviço de Segurança inglês MI5, que trouxe à tona os problemas que o serviço secreto inglês quer abafar.
Entre os palestrantes estiveram quatro deputados trabalhistas britânicos e o ex-presidente do Equador, Rafael Correa, que reiterou que “os crimes de guerra não podem continuar sendo mantidos em segredo”.
O advogado de Assange no Equador, Carlos Poveda, voltou a sublinhar que os argumentos utilizados pelos EUA não têm qualquer base de sustentação, se encontram cada dia mais isolados e vêm sendo manipulados com o único objetivo de viabilizar sua extradição.
O evento foi organizado pela Internacional Progressista e presidido por Srecko Horvat, filósofo croata cofundador do movimento político europeu DiEM25, junto com o ex-ministro de Finanças grego Yanis Varoufakis, que também se pronunciaram pela urgência da libertação.