Diplomata Alexey Kazimirovitch Labetskiy falou na Comissão de Relações Exteriores do Senado, presidida por Kátia Abreu (PP-TO)
Na audiência pública, o diplomata disse que a crise na região começou em fevereiro de 2014, quando houve o golpe de Estado na Ucrânia que derrubou o então governo eleito. Golpe que, segundo ele, foi dado por “nacionalistas, direitistas e nazifascistas” ucranianos, com apoio de países do Ocidente, em particular os Estados Unidos.
A audiência pública foi realizada, na terça-feira (5), por meio de requerimento da senadora Kátia Abreu (PP-TO), aprovado no colegiado, com propósito de “obter informações sobre a crise internacional entre Rússia e Ucrânia e suas consequências.”
ACORDOS DE MINSK
O embaixador iniciou seu depoimento destacando que no meio da década passada, a Ucrânia assinou os acordos que ficaram conhecidos como Minsk 1 e Minsk 2, porque foram negociados em Minsk, capital de Bielorússia, garantidos pela França, Alemanha e Rússia, visando criar um processo político de solução da crise gerada pela operação de mudança de regime em Kiev.
“As duas regiões (Donetsk e Lugangsk) – que votaram majoritariamente no presidente derrubado em 2014 – continuariam integrando a Ucrânia sob um estatuto de autonomia e respeito aos direitos da minoria russa, que deveria ser inscrito na Constituição, após eleições e anistia, o que não foi cumprido por Kiev decorridos sete anos.
“Do ponto de vista da Rússia, os acordos de Minsk significavam que a minoria de ascendência russa não sofreria discriminação e um passo decisivo para descartar efetivamente a adesão da Ucrânia à Otan”.
TUMOR NAZISTA
O embaixador russo lembrou do episódio em Odessa, em maio de 2014, em que 50 oposicionistas foram queimados vivos por neofascistas e nacionalistas ucranianos, que foi crucial para a revolta se estender às áreas de maioria russa do país, no Leste.
O embaixador Labetskiy acusou grupos e batalhões vinculados ao regime de Kiev de usarem abertamente símbolos nazistas. E declarou que a Rússia apoia as populações desses territórios, cuja independência foi reconhecida por Moscou apenas em fevereiro.
“Não podemos tolerar o surgimento de um tumor nazista na nossa fronteira. (…) O tumor nazista precisa ser aniquilado para sempre”, disse o embaixador. Na II Guerra Mundial, a agressão hitlerista acarretou 27 milhões de soviéticos mortos.
Ele ressaltou, na audiência pública, que a Rússia vem exigindo que tenha fim a expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos, que já avançou até às fronteiras russas em cinco ondas de expansão, depois de ter prometido não avançar “uma polegada sequer” a leste.
O embaixador informou que a “operação especial na Ucrânia” foi iniciada “quando ficou claro” que a população russa que morava em Donetsk e Lugansk “corria risco de morte”, após a intensificação dos bombardeios contra as áreas civis e iminente ofensiva ucraniana contra o Donbass. Entretanto, ele elogiou as negociações de paz, que estão em andamento com reuniões diárias.
CESSAR-FOGO
Durante a audiência pública, a presidente da comissão, senadora Kátia Abreu, afirmou que o Brasil defende um “cessar-fogo imediato na guerra na Ucrânia” e “negociações que conduzam a uma paz duradoura e sustentável”.
A senadora alertou que “a não suspensão imediata das hostilidades pode, a cada dia, aumentar o número de mortos em populações civis indefesas e aprofundar a grande crise humanitária decorrente do maior fluxo de refugiados em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial”.
COMÉRCIO BILATERAL E “SANÇÕES ILEGÍTIMAS”
O senador Zequinha Marinho (PL-PA) registrou que a Rússia é importante parceiro comercial do Brasil. Ele citou o exemplo da venda de fertilizantes russos para a agricultura brasileira.
Zequinha pediu ao embaixador informações sobre os contratos de compra de nitrogênio e fertilizantes pelo Brasil frente às sanções internacionais contra o sistema econômico russo.
Labetskiy respondeu que o Brasil é o maior parceiro econômico da Federação Russa na América Latina. A Rússia exporta, principalmente, fertilizantes para o Brasil, que, por sua vez, vende àquele país produtos agroindustriais.
O embaixador afirmou que o governo russo deseja aumentar a cooperação entre ambas as nações e garantiu a continuidade do fornecimento de fertilizantes, mesmo com o bloqueio econômico enfrentado pela Rússia, que ele classificou de “sanções ilegítimas”.
“Queremos continuar fornecendo fertilizantes para o Brasil. (…) o nosso mercado está aberto para os produtos finais da agroindústria brasileira”, frisou o embaixador.
M. V.