Os empresários que queimaram as mãos de funcionários de uma loja em Salvador foram indiciados pela Polícia Civil, por tortura. O inquérito foi concluído e enviado ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), na quinta-feira (29).
‘Ele me queimava devagar, disse que não queria estar na minha pele’, relata trabalhador torturado por patrão em Salvador.
Em nota, a Polícia Civil confirmou a informação e acrescentou que o empresário Alexandre Carvalho também foi indiciado pelos crimes de constrangimento ilegal e exercício arbitrário. Já o gerente, Diógenes Carvalho, só responderá por tortura.
Segundos informações do G1, no dia 26 de setembro, o laudo pericial do Departamento de Polícia Técnica (DPT) também confirmou que os funcionários sofreram tortura pelos patrões. Um deles teve as mãos queimadas com o número 171, como “punição” pelo suposto furto de R$ 30 da empresa. O jovem nega que tenha roubado o dinheiro.
Além das mãos queimadas, William de Jesus também foi agredido com pauladas nas mãos e no corpo. O colega de trabalho dele, Marcos Eduardo Serra, também foi agredido a pauladas.
Os dois trabalhadores registraram o caso no mês passado. Os patrões, Alexandre e Diógenes Carvalho, foram ouvidos mais de uma vez pelo delegado Willian Achan.
Eles confessaram as agressões, mas alegaram que não torturaram os jovens. O delegado afirmou que ainda não há elementos para pedir a prisão dos patrões das vítimas, no curso das investigações.
As duas vítimas disseram que foram atacadas na própria loja onde trabalhavam, em uma emboscada armada pelos patrões. Cada um dos funcionários foi agredido em um dia diferente. William conta como aconteceu com ele.
“Começaram a falar que eu estava roubando, aí começaram as agressões, tanto física quanto verbal, fizeram aquela tortura. Só eu sei o que eu passei”.
“Brincaram comigo como se eu fosse um objeto. Acho que foi uma hora ou 40 minutos [de agressões], não sei, era muito doloroso para mim contar o tempo. Passei por muita dor e muito sofrimento. Eu pedi a todo instante para ele parar, pedia a todo momento pela minha vida e ele só me agredia”.
Além da tortura física, as vítimas também foram humilhadas verbalmente. Apesar de negros, os patrões proferiram insultos racistas a William, segundo ele relatou.
“Tentei sair, tentei me explicar a todo momento. Tentei conversar, mas ele estava com frieza. Ele sorria para mim e me agredia demais com palmatória, murros. A todo momento era só agressão. Eu chorava muito e pedia para ele não faz isso. Ele sorriu e disse que eu ia passar as coisas que os negros passaram [na escravidão]. Foi muito humilhante. Ainda me colocaram uma saia”.
“Eu consegui fugir. Acho que se eu ficasse mais tempo eu não ia resistir, de tanta paulada. Ele me deu muita paulada, foi muita agressividade. Achei que não ia conseguir resistir. Eu não desejo a ninguém passar por isso”.
Antes das queimaduras, os patrões ainda colocaram um pano na boca de William, para servir como mordaça e abafar os gritos de dor do jovem.
“Não vi arrependimento no olhar dele, eu vi o querer fazer toda essa situação que ele fez comigo. Ele queimava com calma para eu sentir a dor. Eu gritava muito, apesar de eu estar com o pano a boca, para não fazer zoada, para não chamar atenção. Ele me queimava devagar, com aquela crueldade, ainda falando que não queria estar na minha pele”.