As empresas Sidcar Transportes e Naldo Locadora e Turismo, contratadas para transportar manifestantes para os atos golpistas do último dia 8, informaram, em manifestações à Justiça, que os pagamentos pelas viagens a Brasília foram feitos em espécie.
O pagamento em espécie é mais difícil de ser rastreado, pois não é possível identificar a origem exata do dinheiro. As informações são do jornal “O Globo”.
No caso da Sidcar Transportes, de Franscisco Beltrão (PR), o valor pago foi de R$ 18 mil; a Naldo Locadora e Turismo, de Lins (SP), recebeu R$ 20 mil pela locação do veículo.
Os ônibus foram apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal quando retornavam da capital federal após os ataques às sedes dos Poderes.
O dono da Sidcar Transportes, Sidinei Carlos Ghidini, disse em depoimento à Polícia Federal ter sido procurado no último dia 4, via aplicativo de mensagem, por uma pessoa que pediu informações sobre locação de veículos.
Segundo ele, o pagamento foi feito em dinheiro em frente ao Quartel-General do Exército de Francisco Beltrão, cidade a cerca de 1.600 km de Brasília. Quem recebeu, porém, foi sua mulher e sócia, Cátia Daiana Grohs Ghidini.
“Tudo acertado via WhatsApp, o pagamento foi feito a Sra. CÁTIA, que recebeu o valor em espécie, diretamente das mãos de Sr. CARLOS, advogado acima citado, que também entregou a lista definitiva de passageiros”, disse Ghidini em depoimento.
A informação sobre o pagamento em dinheiro da Naldo Locadora e Turismo consta em um e-mail enviado pela empresa ao Ministério Público.
Na mensagem, um funcionário da companhia, chamado William Bonfim Norte, afirmou ter recebido dois pagamentos em espécie, de R$ 10 mil cada, para o fretamento de dois ônibus que saíram de Lins, cidade a cerca de 900 km da capital federal.
“O valor pago pela viagem feita a Brasília foi de 10.000 reais cada ônibus fretado, me trouxe por volta de 13:00 horas do dia 06/01/2023 a quantia de 10.000 reais em espécie e por volta das 17:00 horas do dia 06/01/2023, solicitou outro ônibus placa DPE-1B20 para levar mais 16 pessoas, me pagando 10.000 reais em espécie, alegando que esse carro só iria levar o pessoal e voltar vazio”, diz trecho do relato.
A pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), a Justiça Federal do DF bloqueou R$ 6,5 milhões em bens de 59 pessoas e empresas apontadas como responsáveis por fretar os veículos que levaram milhares de manifestantes a Brasília nos dias que antecederam os ataques golpistas.
As empresas alegaram à Justiça que os nomes que aparecem como responsáveis pela contratação das viagens foram registrados por engano na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e, por isso, foram citados na ação da AGU e tiveram os bens bloqueados.
DINHEIRO VIVO
Dinheiro vivo é o modus operandi tipicamente bolsonarista para ocultar transações obscuras.
Segundo reportagem do portal UOL, Bolsonaro e sua família compraram 51 imóveis pagos com dinheiro vivo, num valor total de R$ 25,6 milhões, em valores corrigidos. A jornalista Juliana Dal Piva, do UOL, que publicou um livro sobre o escândalo, foi quem descobriu toda a maracutaia.
Do total de 107 imóveis adquiridos pelo clã Bolsonaro, 51 foram pagos total ou parcialmente “in cash”.
FLÁVIO
Além de ter comprado 16 imóveis com pagamento parcial em dinheiro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) – filho 01 de Jair Bolsonaro – usou dinheiro em espécie para pagar despesas pessoais, funcionários e impostos.
A conta bancária da famosa loja de chocolates que o senador mantinha em um shopping na Barra da Tijuca também registrou alto volume de depósitos de dinheiro vivo sem identificação. Ao todo, o montante movimentado em espécie ultrapassa os R$ 3 milhões.
Os dados relacionados pela imprensa constam das quebras de sigilos obtidas pelo Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro.
Flávio é apontado nas investigações como líder de uma organização criminosa que funcionava em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerg). O total de desvios apurado pelo MP foi de, no mínimo, R$ 6,1 milhões.
Os promotores afirmam que o dinheiro usado nas transações de Flávio vinha do esquema conhecido como “rachadinha”, no qual os funcionários do gabinete eram obrigados a devolver boa parte de seus salários, em espécie, ao então deputado.
O esquema de rachadinha começou com seu pai quando era deputado federal, segundo investigações do Ministério Público e testemunhos de ex-funcionários.
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